sexta-feira, 18 de novembro de 2011

circus



Sempre detestei circos. Não vejo a menor graça em um palhaço e acho que sou do tipo super-nervosinha-histérica-e-estranha. Daquelas que têm medo de olhar para a mulher que anda na corda-bamba (não sei se existe mesmo esse hífen ai, mas dane-se o novo acordo ortográfico) só porque acham que ela pode cair a qualquer momento. E isso me assusta. Crianças elásticas são esquisitas e me tiram o sono. Mas nada pior que aquele maldito palhaço.
Pergunto-me o que faz com que o público continue rindo, assim, meio abestalhado, meio incoerente, só porque o pobre do indivíduo se jogou no chão ou atirou água no coleguinha. Não acho graça nos sapatos grandes nem na maquiagem borrada, muito menos naquelas calças descomunais. Mas, pior que isso, em minha opinião, é o fato da fonte de tanta risadaria advir de algo pateticamente trágico. Pior que isso, meu bem, é que o mundo está cheio de circos.
E quem dera eu falasse de circos que montam tendas e vendem algodão-doce na entrada. Quem dera os pobres contratados que vivem às custas da ainda mais pobre bilheteria fossem os únicos palhaços com os quais eu devo me preocupar. Eles falaram verdades como se brincadeiras fossem, mas nunca duvidaram da seriedade da platéia que lhes sorria - grande Charles Chaplin -; daí se tira a diferença, perdida no meio do substantivo seriedade. Os palhaços de risos sombrios que ficam lançando jatos de água perto de mim, água cada dia mais fria, sempre mais fria (para mim, sempre para mim). Malditos - não canso de afirmar - malditos.
E eu sei que você está louco para me incluir nesse grupinho aí, mesmo sabendo que o traje não me seria elegante. Eu sei que sua língua fere coçando para dizer por aí que eu já sou parte dele. Você olha para mim, como quem espera ver o palhaço cair, só como se quisesse rir do tombo. Só isso.
Conte-me qual a sensação de ter amigos imaginários. Diga-me o que sente ao misturar personalidades alheias e depois ditá-las em indivíduos, como quem só quer preencher uma forma com massa de bolo. Mas os clientes estão enjoados. Caiu alho no meio da receita. Duas gotinhas de pimenta e aquilo começou a arder.  E, do riso sombrio de um palhaço macabro, surgiram, então, lágrimas de uma agonia impiedosa. Já viste palhaços que choram?
Você deve me achar com cara de palhaça. Engraçadinho. Mas acho que você prefere que o chame de "Incrível", ainda que a ironia permeie meus lábios.
Quando eu olho para trás e depois para você, uma boa válvula de escape seria dizer que tudo isso "faz parte do meu show". As cortinas se fecharam, mas a palhaça aplaudiu o espetáculo. Ela. Porque eu sempre detestei circos e aqueles malditos palhaços.