terça-feira, 24 de setembro de 2013

when you smile



Ela acordou e, de repente, já estávamos chegando em outubro. Ela acordou, escrava do tempo, impiedoso, incontrolável. Tanta coisa se passou. Tantos dias que passaram batido numa vida corrida demais. Corrida demais para prestar atenção em detalhes, de modo que cada detalhe de fato observado se faz grande, muito grande. Não foi muito difícil que ela se apaixonasse. Ao menos não depois de notar o detalhe no sorriso dele. Aquele lado do sorriso meio curvado, sempre fugitivo de fotografias, encantador de um jeito só seu. O sorriso dele era daqueles tão genuínos, inocentes e ao mesmo tempo com o ar de carregar muito mais vida do que a vivida de fato, daqueles com o qual você se depara somente umas quatro ou cinco vezes na vida inteira. O modo como ele a olhava era como qualquer mulher desejaria ser olhada. Parecia medi-la em cada detalhe. Compreendia e acreditava nela, exatamente como ela queria, ou merecia, ser compreendida e acreditada. E o que ela sempre ouviu em casa foi um conselho muito claro de que, se a esmola é alta demais, o mendigo desconfia. Nada que é bom, bom de verdade, nesse mundo, vem de graça. Então, se você quer alguma coisa, vá lá e pegue. Corra atrás e consiga. Ela sabia disso. E ela sabia, também, como ele sabia, que isso seria difícil pra caramba e que teriam que trabalhar no projeto todos os dias, reconstruindo as bases, solidificando o terreno para a construção não desmoronar. Suariam juntos, mas eles queriam fazer isso, eles queriam um ao outro. Afinal, por vezes, como se diz por aí, o certo e o errado nem entram na equação. Quem vai dizer que é errado algo que nos faz feliz ou certo algo que nos açoita dia após dia? Outras forças nos movem - forças que nós não podemos esconder, ou mesmo questionar, porque são trazidas pelo coração.
De todas as coisas que ela deixou passar, de todos os detalhes, luzes que escureceram no esquecimento, aquele sorriso não passaria. Ela apostou todas as fichas em algo assim, algo dos dois, exclusivamente dos dois, dos dois demais. Não dela, não dele, mas dos dois. Cuidou disso como se cuida de uma peça frágil e valiosa. Porque não havia como ser diferente, sim?
Mas uma hora ou outra, ela sabe, todos nós machucamos quem amamos. É inevitável. Tão inevitável quanto o tempo, continua correndo a passos largos, rápidos demais. E eles se machucaram. Em momentos diferentes, mas igualmente ruins, ela o machucou e ele não fez diferente. Seria fácil fechar os olhos ao orgulho do outro se o seu próprio não tivesse sido ferido. E sangra. Onde estão os médicos? O paciente está convulsionando.
Tem dias que ela acorda e acha exaustivo pra caramba amar desse jeito. Importar-se demais. O controle de um relacionamento está com quem se importa menos. Muita gente, então, a aconselha a amar se importando menos. Ligar menos, se importar menos com as pessoas para ser mais feliz. Mas sabe o que é? Ela acredita que a real felicidade se traduz por se importar mais com as pessoas, jamais menos.
Aquilo vai até doer bastante por alguns dias, várias vezes. E as memórias boas podem ficar meio apagadas durante aquele tempo, somente para que as ruins ganhem algum destaque. Mas não é isso que é a vida? Uma sucessão de momentos bons e ruins, dias melhores que outros, um ciclo inacabável de sobrevivência em flores e espinhos? E ela prometeu, um dia, que estaria ao lado dele nas horas boas e, principalmente, nas horas ruins. E ela honra as promessas que faz.
Não se pode mudar o passado, então ela abandona o que já se foi. Perdoa, independentemente de um perdão. Ela ouve, nesse momento, várias vozes que a chamam de fraca. Quem dera eles soubessem o quanto aquilo lhe demandou força... Perdoar é ato dos corajosos, dos fortes. Mas ela o faz feliz, feliz porque ela o escolheu para viver os dias, seja hoje, seja para sempre, seja enquanto queimar uma chama, mesmo que essa chama oscile algumas vezes. Seguir sem essa chama remete a pular de m penhasco. Somos as nossas escolhas. Vivemos para elas e por elas e assim continuaremos todos os dias até partirmos dessa vida. Deus respeita o nosso livre arbítrio.
Algumas vezes ela se torna louca, perde a cabeça e tenta fazer ele perder a dele também. Tanta sanidade que se exige há de enlouquecer. Então deixa, deixa enlouquecer, "caetanear" o que há de bom. As ideias nem sempre correspondem aos fatos. Ela sente a falta dele, isso é tudo que ela queria dizer. Então ela pede, implora, para que o resto do mundo conheça esse amor antes de tentar destruí-lo. Ele é bonito demais e quizá uma das poucas maneiras de dominar o tempo, afinal, é somente quando olha em seus olhos e no canto daquele que seu sorriso que o tempo para. Para até que ela queira que ele volte a correr. Deixa parar. Deixa escravizar, além do próprio tempo.

"And when you smile, the whole world stops and stares for a while, 'cause you're amazing just the way you are..."