quinta-feira, 16 de maio de 2013

tic tac, it's midnight.



Como bem disse Mário Quintana, a arte de viver é simplesmente a arte de conviver. No entanto, executar a árdua tarefa de lidar com convivência em coletivo acaba por requerer o emprego de máscaras sociais. Ócios do ofício? Quem sabe! Dia após dia, o ser humano se põe atrás de imagens pré-estabelecidas, fazendo-as de escudo e portando-se como se elas representassem, de fato, a realidade. Afinal, já dizia-se que uma mentira, se contada muitas vezes, ilude o próprio mentiroso com sua carcaça de verdade.

Desde muito jovem, o homem é obrigado pela sociedade a adentrar a Alegoria da Caverna, de Platão, e a se tornar refém do que foi apelidado pelo filósofo como “Mundo das ideias”.  São as famosas panelinhas de colégio. É nesse momento que surge o questionamento acerca do que deve ser dado como prioridade: a essência que somos ou a aparência que temos?  É claro que todos desejam ser bem aceitos pela sociedade e isso muitas vezes significa estar de acordo com o modelo pré-estabelecido. No entanto, esse desejo de aceitação não pode ser tamanho a ponto de fazer com que o indivíduo abdique de sua personalidade e essência para conquistar uma boa imagem diante dos olhares alheios. É importante que o indivíduo se atenha a não fazer parte desse grupo de pessoas que, segundo Raimundo Correa, “a ventura única consiste em parecer aos outros venturosa”. E daí que ela odeia fazer flexões? E daí que ela não é uma modelo internacional? No âmbito das relações interpessoais, o ser humano é, a todo momento, cobrado em relação ao modo como deve pensar e agir – assim como cria expectativas que o satisfaçam acerca do comportamento do outro. Usa, então, máscaras sociais e se veste de imagens ideais em nome da admiração e reconhecimento no  convívio cotidiano. Mas porque é tão difícil aceitar as pessoas como elas são? Amá-las com os seus quilinhos a mais, olhos pequenos ou grandes demais, testas imensas? Bochechas roliças, coxas flácidas? Desejá-las, pelo simples motivo de querê-las? Desejá-las, como um amor que não sabe olhar os lados, mas apenas a caminhada à nossa frente.
Existe um conflito permanente entre aquilo que se deseja e o que a sociedade exige. O nosso desejo e o de outrem. Para interagir (não apenas agir) em sociedade e viver de acordo com as expectativas externas, o indivíduo se dá conta de que precisa frear seus impulsos e desejos, através de uma série de estratégias e “mecanismos de defesa”, como a formação de imagens que escondam o seu “eu” mais íntimo. É fato que nunca será possível ser e ter aquilo que nossos mais profundos desejos ordenam, mas o inverso também é prejudicial - o sacrifício pelo bom conceito diante da sociedade não pode ultrapassar limites, gerando angústia, frustração e sofrimento. É necessária a busca por um ponto de equilíbrio entre as duas faces da moeda. Alcançar esse ideal implica, no entanto, muito “jogo de cintura” para saber dosar a quantidade exata de “imagem” e “realidade”.
Em meio a obrigações, responsabilidade e limitações, o ser humano tenta sobreviver na busca pela adaptação. A imagem que o indivíduo transmite à sociedade é importante, sim. Mas cabe a cada um buscar o equilíbrio entre aquilo que queremos e o que querem de nós e não permitir que o “parecer” venha a se sobrepor ao “ser”. Caso contrário, o ser humano estará eternamente estagnado e aprisionado em suas máscaras. Deixe as máscaras caírem, o relógio já aponta a meia noite. A carruagem da Cinderela é só uma abóbora.... Mas abóboras são saudáveis, não são?