Desde muito jovem,
o homem é obrigado pela sociedade a adentrar a Alegoria da Caverna, de Platão,
e a se tornar refém do que foi apelidado pelo filósofo como “Mundo das
ideias”. São as famosas panelinhas de colégio. É nesse momento que surge o
questionamento acerca do que deve ser dado como prioridade: a essência que
somos ou a aparência que temos? É claro
que todos desejam ser bem aceitos pela sociedade e isso muitas vezes significa
estar de acordo com o modelo pré-estabelecido. No entanto, esse desejo de
aceitação não pode ser tamanho a ponto de fazer com que o indivíduo abdique de
sua personalidade e essência para conquistar uma boa imagem diante dos olhares
alheios. É importante que o indivíduo se atenha a não fazer parte desse grupo
de pessoas que, segundo Raimundo Correa, “a ventura única consiste em parecer
aos outros venturosa”. E daí que ela odeia fazer flexões? E daí que ela não é uma modelo internacional? No âmbito das relações interpessoais, o ser humano é, a
todo momento, cobrado em relação ao modo como deve pensar e agir – assim como
cria expectativas que o satisfaçam acerca do comportamento do outro. Usa,
então, máscaras sociais e se veste de imagens ideais em nome da admiração e
reconhecimento no convívio cotidiano. Mas porque é tão difícil aceitar as pessoas como elas são? Amá-las com os seus quilinhos a mais, olhos pequenos ou grandes demais, testas imensas? Bochechas roliças, coxas flácidas? Desejá-las, pelo simples motivo de querê-las? Desejá-las, como um amor que não sabe olhar os lados, mas apenas a caminhada à nossa frente.
Existe um conflito
permanente entre aquilo que se deseja e o que a sociedade exige. O nosso desejo e o de outrem. Para interagir (não apenas agir) em sociedade e viver de acordo com as expectativas externas, o indivíduo se dá
conta de que precisa frear seus impulsos e desejos, através de uma série de
estratégias e “mecanismos de defesa”, como a formação de imagens que escondam o
seu “eu” mais íntimo. É fato que nunca será possível ser e ter aquilo que
nossos mais profundos desejos ordenam, mas o inverso também é prejudicial - o
sacrifício pelo bom conceito diante da sociedade não pode ultrapassar limites,
gerando angústia, frustração e sofrimento. É necessária a busca por um ponto de
equilíbrio entre as duas faces da moeda. Alcançar esse ideal implica, no
entanto, muito “jogo de cintura” para saber dosar a quantidade exata de
“imagem” e “realidade”.
Em meio a
obrigações, responsabilidade e limitações, o ser humano tenta sobreviver na
busca pela adaptação. A imagem que o indivíduo transmite à sociedade é
importante, sim. Mas cabe a cada um buscar o equilíbrio entre aquilo que
queremos e o que querem de nós e não permitir que o “parecer” venha a se
sobrepor ao “ser”. Caso contrário, o ser humano estará eternamente estagnado e
aprisionado em suas máscaras. Deixe as máscaras caírem, o relógio já aponta a meia noite. A carruagem da Cinderela é só uma abóbora.... Mas abóboras são saudáveis, não são?