domingo, 27 de maio de 2012

O medo do nada



Tudo na vida depende do seu ponto de vista. Pra mim, é muito claro que o modo como vemos as coisas depende da forma de como queremos enxergá-las, da nossa boa - ou má - vontade para absorvê-las. Mate um cara e você é um assassino. Mate dez caras e você é um serial killer. Mate centenas e você é um herói. Essa relativização das coisas e seus valores, na minha cabeça, se resume unicamente à predestinação dos olhos do individuo. Dos meus olhos.
Por isso, eu andei pensando mais ainda sobre as coisas que eu nunca fiz. Sobre as coisas que eu deixei de fazer. Por todas as portas que eu fechei, ou deixei que se fechassem, por medo. Medo de sabe lá o que. Só medo. Como o meu medo de quarto escuro. Como o meu medo do bicho feio que mora atrás da porta do armário, o medo que eu tinha quando era mais nova e me tirava a noite de sono. Mas hoje, com um pouquinho de boa vontade, eu parei pra pensar. E eu percebi que atrás daquela porta do armário, no escuro, onde morava o tal bicho feio, só havia vento. Só havia nada. E isso era o medo: o vento. Medo é vento. Aliás, medo é menos que vento. Medo é nada. E quando eu abri a porta do armário e percebi que medo é nada, meu medo foi embora. Porque eu quis que fosse assim. Porque eu coloquei na minha cabeça que tudo, absolutamente tudo, acontece conosco por nossa causa, para nós mesmos e por nossa vontade. E é bem confortável pensar assim. Eu gosto do meu mundo assim, do novo mundo que eu descobri depois de descobrir que o bicho feio não existe. As coisas se tornaram mais coloridas depois que me contaram que o escuro também é só nada.
O problema é que tem um dos meus medos que mora atrás de uma porta de armário também, mas, sempre que eu abro a porta, é como se houvesse outras milhões de portas. E eu nunca encontro a ultima porta. E assim o meu medo continua lá. Mais escuro que o quarto, mais assustador que o tal bicho feio. E não importa a minha boa vontade em relativizar. A minha vontade em fazer com que esse medo vá embora. Ele continua ali. E eu pergunto, Deus, pra que olhos tão grandes se eu não posso escolher o que eles devem ver?
E eu estive pensando...
E eu andei pensando...
E tudo depende de mim. Mas, então, como eu não consigo abrir essa porta? Eu deixei muitas se fecharem, mas essa eu não sei abrir.
E, no fundo, a gente deixa que nossos olhos enxerguem o que ouve e não o que houve. E aquelas pessoas me falaram do medo... Do medo que eu seria capaz de reduzir ao pó. Mas de pó, fez-se nada e de nada, fez-se medo. Afinal... Medo é nada, não é?