terça-feira, 26 de novembro de 2013

Alguém.



A verdade é que todo mundo só quer alguém que no meio do dia te mande uma mensagem inesperada ou te ligue para saber como você está e mais nada. Alguém que apareça para te buscar no trabalho e te leve para tomar sorvete mesmo que você tenha ganhado uns quilinhos na semana passada por causa do chocolate que aquela TPM te trouxe. Mesmo que, lá fora, o termômetro aponte dez graus negativos. Não alguém que concorde com tudo que você diz, mas que ouça as suas opiniões, uma por uma, e as debata, contra argumente, se achar necessário, mas nunca as desmereça. Alguém que te acompanhe naquele compromisso super chato que você só vai por consideração ao anfitrião, ainda que não conheça ninguém. Alguém que te abrace forte e ria do seu riso. Alguém que tope assistir desenho animado só para ver a sua cara de quem nunca cresceu e de que ainda acha o máximo as piadinhas que aquela personagem faz (mesmo que elas sejam horríveis). Todo mundo sonha, espera, idealiza. Alguém que nem cogite te abandonar, por absolutamente nada ou ninguém. Alguém que aceite até o Domingão do Faustão, só como desculpa para te abraçar e te pirraçar comentando sobre aquela bailarina boazuda. Alguém que te ponha no colo e diga que você é a união do que há de mais lindo que já conheceu e, se não disser com palavras, que esteja bastante claro em seus olhos para que não deixe dúvidas. Alguém que faça guerra de comida com você, que dance a música do comercial e aperte a sua cintura quando quiser atenção. Alguém que saiba lidar com os seus dias de cão e tenha também o seu gênio forte. Alguém que te admire e orgulhe, alguém de quem você se orgulhar. Alguém que te faça querer ser melhor todos os dias, para merecer aquela presença tão boa. Alguém que prometa cuidar de você e cumpra. E não te deixe sozinha. Alguém que seja obsceno, mas nunca indelicado. Alguém que seja amigo, companheiro. Que os outros sejam só os outros. Os outros e só. Alguém honesto, sem medo de dizer a verdade. Alguém que entenda os seus medos e que converse com o seu urso de pelúcia só para te animar. Alguém que te leve para jantar naquele restaurante chiquérrimo, ou na Subway, mas que faça questão de puxar a cadeira e abrir a porta do carro. Alguém que elogie o seu perfume e reclame quando você cortar o cabelo. Alguém que deixe você mexer no som do carro e ouvir aquela mesma música trinta mil vezes. Alguém que te ame e, principalmente, que saiba o que é isso. Afinal, eu nunca vi o amor salvar nenhum relacionamento, mas já vi muitos amores serem salvos pela forma de se relacionar. Não há maior felicidade que eu já tenha experimentado.
Que as pessoas sejam livres e que, ainda assim, escolham ser um alguém para outro alguém. Amém.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

when you smile



Ela acordou e, de repente, já estávamos chegando em outubro. Ela acordou, escrava do tempo, impiedoso, incontrolável. Tanta coisa se passou. Tantos dias que passaram batido numa vida corrida demais. Corrida demais para prestar atenção em detalhes, de modo que cada detalhe de fato observado se faz grande, muito grande. Não foi muito difícil que ela se apaixonasse. Ao menos não depois de notar o detalhe no sorriso dele. Aquele lado do sorriso meio curvado, sempre fugitivo de fotografias, encantador de um jeito só seu. O sorriso dele era daqueles tão genuínos, inocentes e ao mesmo tempo com o ar de carregar muito mais vida do que a vivida de fato, daqueles com o qual você se depara somente umas quatro ou cinco vezes na vida inteira. O modo como ele a olhava era como qualquer mulher desejaria ser olhada. Parecia medi-la em cada detalhe. Compreendia e acreditava nela, exatamente como ela queria, ou merecia, ser compreendida e acreditada. E o que ela sempre ouviu em casa foi um conselho muito claro de que, se a esmola é alta demais, o mendigo desconfia. Nada que é bom, bom de verdade, nesse mundo, vem de graça. Então, se você quer alguma coisa, vá lá e pegue. Corra atrás e consiga. Ela sabia disso. E ela sabia, também, como ele sabia, que isso seria difícil pra caramba e que teriam que trabalhar no projeto todos os dias, reconstruindo as bases, solidificando o terreno para a construção não desmoronar. Suariam juntos, mas eles queriam fazer isso, eles queriam um ao outro. Afinal, por vezes, como se diz por aí, o certo e o errado nem entram na equação. Quem vai dizer que é errado algo que nos faz feliz ou certo algo que nos açoita dia após dia? Outras forças nos movem - forças que nós não podemos esconder, ou mesmo questionar, porque são trazidas pelo coração.
De todas as coisas que ela deixou passar, de todos os detalhes, luzes que escureceram no esquecimento, aquele sorriso não passaria. Ela apostou todas as fichas em algo assim, algo dos dois, exclusivamente dos dois, dos dois demais. Não dela, não dele, mas dos dois. Cuidou disso como se cuida de uma peça frágil e valiosa. Porque não havia como ser diferente, sim?
Mas uma hora ou outra, ela sabe, todos nós machucamos quem amamos. É inevitável. Tão inevitável quanto o tempo, continua correndo a passos largos, rápidos demais. E eles se machucaram. Em momentos diferentes, mas igualmente ruins, ela o machucou e ele não fez diferente. Seria fácil fechar os olhos ao orgulho do outro se o seu próprio não tivesse sido ferido. E sangra. Onde estão os médicos? O paciente está convulsionando.
Tem dias que ela acorda e acha exaustivo pra caramba amar desse jeito. Importar-se demais. O controle de um relacionamento está com quem se importa menos. Muita gente, então, a aconselha a amar se importando menos. Ligar menos, se importar menos com as pessoas para ser mais feliz. Mas sabe o que é? Ela acredita que a real felicidade se traduz por se importar mais com as pessoas, jamais menos.
Aquilo vai até doer bastante por alguns dias, várias vezes. E as memórias boas podem ficar meio apagadas durante aquele tempo, somente para que as ruins ganhem algum destaque. Mas não é isso que é a vida? Uma sucessão de momentos bons e ruins, dias melhores que outros, um ciclo inacabável de sobrevivência em flores e espinhos? E ela prometeu, um dia, que estaria ao lado dele nas horas boas e, principalmente, nas horas ruins. E ela honra as promessas que faz.
Não se pode mudar o passado, então ela abandona o que já se foi. Perdoa, independentemente de um perdão. Ela ouve, nesse momento, várias vozes que a chamam de fraca. Quem dera eles soubessem o quanto aquilo lhe demandou força... Perdoar é ato dos corajosos, dos fortes. Mas ela o faz feliz, feliz porque ela o escolheu para viver os dias, seja hoje, seja para sempre, seja enquanto queimar uma chama, mesmo que essa chama oscile algumas vezes. Seguir sem essa chama remete a pular de m penhasco. Somos as nossas escolhas. Vivemos para elas e por elas e assim continuaremos todos os dias até partirmos dessa vida. Deus respeita o nosso livre arbítrio.
Algumas vezes ela se torna louca, perde a cabeça e tenta fazer ele perder a dele também. Tanta sanidade que se exige há de enlouquecer. Então deixa, deixa enlouquecer, "caetanear" o que há de bom. As ideias nem sempre correspondem aos fatos. Ela sente a falta dele, isso é tudo que ela queria dizer. Então ela pede, implora, para que o resto do mundo conheça esse amor antes de tentar destruí-lo. Ele é bonito demais e quizá uma das poucas maneiras de dominar o tempo, afinal, é somente quando olha em seus olhos e no canto daquele que seu sorriso que o tempo para. Para até que ela queira que ele volte a correr. Deixa parar. Deixa escravizar, além do próprio tempo.

"And when you smile, the whole world stops and stares for a while, 'cause you're amazing just the way you are..."

terça-feira, 13 de agosto de 2013

spoil me, love me.



Você vai dizer adeus? Porque eu não quero ouvir. Nunca estamos preparados para perder quem amamos. E, ultimamente, eu vivo em um risco, iminente demais, de ter que colocar tampões nos meus ouvidos. Sabe o que é? Eu sinto falta de algumas pessoas, sinto a falta dos seus sorrisos e do modo como você me olha. E cada vez isso se confunde mais com uma lembrança e eu sinto se afastar. Não do meu coração, isso jamais, mas de mim. Sinto falta de ser mimada. Sinto falta daquelas mensagens sem por que, nem pra que, no meio da tarde, entre um intervalo e outro da loucura que são os nossos dias. Sinto falta das visitas-surpresa e sinto falta dos toques de telefone. Sinto falta da escova de dentes na casa da amiga. Sinto falta. E o futuro, por vezes, me deprime pela falta de esperança. E Deus me pergunta o que eu quero da vida. Eu quero ser feliz. Mas Deus me responde somente que uns dias são piores que outros, e eu me conformo com essa explicação.
Tal saudade, falta, chame como queira, me obriga, então, a pensar no motivo de eu me sentir assim. Mais uma vez, recorri às palavras, sempre ao meu lado. Eu lembro do momento em que descobri o poder das tais palavras, dos tais desabafos, e do quanto foi fácil fugir para um outro mundo, muito meu, e também muito seu, com elas.
Comecei, então, dizendo que estava bem. Está tudo ótimo. Acreditei que, se eu acreditasse nisso, um dia o resto do mundo acreditaria também. Afinal, a verdade é superestimada. A verdade, meu bem, ela não é nada. O que você acredita ser verdade é tudo. E foi me segurando a isso que eu me acostumei a viver em negação. Sabe como é isso, não sabe? Mas, uma vez que você foge, habitua-se a viver "no sobressalto", temendo os monstros da esquina e há problemas dos quais não se pode fugir. Ninguém nem nada vai conseguir te machucar mais do que a própria vida. Somos nós os nossos próprios demônios, "passageiros sombrios" (como diria Dexter Morgan) e da Terra fazemos nosso inferno. Das nossas vidas e até da vida de terceiros, somente pela necessidade meio urgente de nos mantermos vivos, da melhor ou pior maneira possível. Afinal, a vida é curta, e nós merecemos ser felizes e rir com ela. E, se não der, rimos dela. Ou deixamos que ela ria de nós, afinal, é saudável ser palhaço de vez em quando. E no meio dessa loucura toda, eu sei que talvez haja pessoas por aí que te fazem sentir essa segurança nos braços, mas, fala sério, qualquer pessoa pode abraçar para proteger. O difícil mesmo é proteger sem tocar, aquecer o corpo inteiro com uma troca de olhares. Incendiar todo o sangue ao tocar a nuca com a ponta dos dedos. Falar tudo que tem vontade, ou não falar nada, ficar calado por um minuto inteiro, sentindo-se confortável com o silêncio.
A questão toda é que "amor" é uma palavra grande demais para a maioria das pessoas. Parece, eu não sei, que a mão pesa para escrevê-la ou que a língua toda embola. E aí essas pessoas preferem entrar naquele estado de negação que eu comentei. E aí, por vezes, vai lá e finge. Finge que não vê. Finque que não se importa, finge que não sente. Finge, e até finge bem demais, que aquela garota ridícula-vaca-apagadinha não te incomoda e que você é mais você. E você até tenta não ligar para tudo isso, tenta ignorar essas "garotinhas", mas a verdade é que não há coisa alguma no mundo capaz de fixar uma ideia em nossas mentes mais do que a vontade de esquecer essa coisa.
As vezes, eu confesso, bato no travesseiro. Bato mesmo, como essas crianças que faz birra e pede um pônei ao pai. Eu sou mimada assumida e de carteirinha. Não sou dotada apenas de amor altruísta, tenho lá o meu ego. Mas a verdade é que tudo o que realmente vale a pena fazer nessa vida é o que fazemos pelos outros, principalmente por quem amamos. E por isso eu faço tudo, eu faço de tudo. Eu entrego as cartas e jogo com todas no tabuleiro, transparente, como deve ser, só tentando deixar o dia um pouco mais agradável até que você se aproxime mais uma vez.
Preciso ser honesta com você te dizer que eu não sou como um relógio que você pode simplesmente ajustar os ponteiros. Eu nunca vou funcionar direito, sempre vou ser desse jeito. E eu vou te irritar, várias vezes, vários dias.E depois vamos fazer as pazes várias vezes e você vai se irritar de novo, e assim fechamos um ciclo. Eu sei bem o que eu sinto por você e isso não vai mudar. Tudo o que eu tenho são as escolhas que eu faço e eu escolho você.

sábado, 29 de junho de 2013

it makes you stronger

Uma hora você está bem e de repente, não mais que de repente, o seu mundo desaba. O seu mundinho presumido de amizades eternas vai ao chão e você se vê obrigada a reconstruir aquilo. A se automedicar, porque de médico e louco, todo mundo tem um pouco. O maior problema em acreditar em quem não merece é que, por mais estúpidos que possamos ser, um dia o coração, depois de tantas decepções, desaprende a acreditar e se torna impossível confiar mais uma vez em qualquer pessoa. É triste quando a gente ouve alguém dizer que seus amigos se tornaram inimigos. É mais triste ainda, devo admitir, ouvir que eles se tornaram desconhecidos. Completos estranhos, desses que você cumprimenta na fila de um banco, dá bom dia no elevador. Estranhos que ironicamente sabem bastante da sua vida, mas que você já não se incomoda em chamar de amigos. Eu não suporto mentiras, opiniões dadas pelas costas. Eu estou aqui. Estou falando o que penso. Está aberto o ciclo da honestidade, vá em frente, diga o que pensa, diga o que acha. Essa opinião pode doer, mas é uma verdade e toda verdade é infinitamente mais digna que falsos abraços e consolos. Eu costumava guardar para mim o que deveria ser dito na cara de muita gente, mas não é isso que eu estou fazendo agora, é?
Não é o que me parece. Afinal, ou bem vivo ou bem agrado. E eu percebi isso bem a tempo.
O problema é que eu não sou daquele tipo de pessoa que ouve e esquece logo depois – eu me lembro de todas as coisas ditas e vividas, sempre, acredite ou não. E hoje, ao me recordar de todas aquelas coisas, o que eu enxergo está vazio. Oco e vazio. E isso dói. E o seu lado da história nem sempre é o que aquelas pessoas enxergam. Muitas vezes, você se torna a vilã só porque há uma plateia muito maior do outro lado, ocupada demais julgando a sua vida e o modo como você vê as coisas, sem se preocupar em entender como as coisas lhe são apresentadas. Cada par de olhos é singular. E as pessoas são estranhas. Elas julgam. Julgam e falam como se já tivessem vivido a minha vida. Desculpe, meu bem, mas, como diz a música, cada um sabe a dor a e a delícia de ser o que é.
Eu, finalmente, então, criei coragem e soltei o mundo para segurar a sua mão. Afinal, um dia é da caça e outro, do caçador. Hoje você brinca e amanhã você é o brinquedo. Porque quem nunca tentou conseguir algo melhor para si é porque se contenta com pouco e eu não sou dessas. Eu me agarrei a você e fui andando, sem rumo, esperando virar a próxima esquina e quem sabe encontrar aquilo que eu venho precisando. Quem sabe sentir aquele pertencimento mais uma vez. Quem sabe. Eu me segurei em suas mãos e torci para meus dedos não escorregarem. E não comentei com o resto do mundo sobre o assunto, apenas você é a minha segurança. Afinal, é mais simples dizer por aí que você está bem do que sentar e explicar todas as razões pelas quais você não está. Tristeza não é troféu, nem medalha. Não vale a pena exibir. E você me ensinou a não trocar coisas que eu mais quero na minha vida por coisas que eu mais quero no momento. E você me ensinou a levantar e tentar ser melhor, todos os dias. E eu fui aprendendo que nessa vida cada um depende de si. A trancos e barrancos, você foi me ajudando a me reerguer, assim como me ajuda a caminhar todos os dias. Por isso eu tremo, eu temo, quando você ameaça dizer adeus. Adeus significa ir embora. E ir embora é esquecer.

E eu sei que, às vezes, eu sufoco. Eu sei que, às vezes, eu seguro no seu pescoço com força demais, porque eu tenho medo e você não me treinou para uma eventual perda. Entenda, eu tenho ciúmes de tudo, porque você é importante demais e vida de gente ciumenta não é fácil, nem de longe. Eu sinto ciúmes de tudo que se aproxima de você. Eu sou do tipo que lê mil vezes a mesma mensagem, só pra sentir o gostinho de sorrir várias vezes. E eu sorrio mil vezes e sorrirei mais mil, todas as vezes que você trouxer aqui para perto de mim a sua companhia. Todas as vezes que você acabar com essa saudade, porque eu olho para uns lugares e eu me lembro de você. E eu sou do tipo que chora muito, por qualquer besteira e também por coisas grandes. E, às vezes, para não chorar, eu trato alguém mal. Mas eu estou ficando esperta, porque a vida não nos manda aviso prévio. Ela não nos diz quando vai terminar. Então eu estou parando com essa mania, mas ando também parando os meus choros. E você tem sido a minha força. E vai continuar sendo você. O meu antiacaso, desde o primeiro dia em que eu te olhei nos olhos.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

tic tac, it's midnight.



Como bem disse Mário Quintana, a arte de viver é simplesmente a arte de conviver. No entanto, executar a árdua tarefa de lidar com convivência em coletivo acaba por requerer o emprego de máscaras sociais. Ócios do ofício? Quem sabe! Dia após dia, o ser humano se põe atrás de imagens pré-estabelecidas, fazendo-as de escudo e portando-se como se elas representassem, de fato, a realidade. Afinal, já dizia-se que uma mentira, se contada muitas vezes, ilude o próprio mentiroso com sua carcaça de verdade.

Desde muito jovem, o homem é obrigado pela sociedade a adentrar a Alegoria da Caverna, de Platão, e a se tornar refém do que foi apelidado pelo filósofo como “Mundo das ideias”.  São as famosas panelinhas de colégio. É nesse momento que surge o questionamento acerca do que deve ser dado como prioridade: a essência que somos ou a aparência que temos?  É claro que todos desejam ser bem aceitos pela sociedade e isso muitas vezes significa estar de acordo com o modelo pré-estabelecido. No entanto, esse desejo de aceitação não pode ser tamanho a ponto de fazer com que o indivíduo abdique de sua personalidade e essência para conquistar uma boa imagem diante dos olhares alheios. É importante que o indivíduo se atenha a não fazer parte desse grupo de pessoas que, segundo Raimundo Correa, “a ventura única consiste em parecer aos outros venturosa”. E daí que ela odeia fazer flexões? E daí que ela não é uma modelo internacional? No âmbito das relações interpessoais, o ser humano é, a todo momento, cobrado em relação ao modo como deve pensar e agir – assim como cria expectativas que o satisfaçam acerca do comportamento do outro. Usa, então, máscaras sociais e se veste de imagens ideais em nome da admiração e reconhecimento no  convívio cotidiano. Mas porque é tão difícil aceitar as pessoas como elas são? Amá-las com os seus quilinhos a mais, olhos pequenos ou grandes demais, testas imensas? Bochechas roliças, coxas flácidas? Desejá-las, pelo simples motivo de querê-las? Desejá-las, como um amor que não sabe olhar os lados, mas apenas a caminhada à nossa frente.
Existe um conflito permanente entre aquilo que se deseja e o que a sociedade exige. O nosso desejo e o de outrem. Para interagir (não apenas agir) em sociedade e viver de acordo com as expectativas externas, o indivíduo se dá conta de que precisa frear seus impulsos e desejos, através de uma série de estratégias e “mecanismos de defesa”, como a formação de imagens que escondam o seu “eu” mais íntimo. É fato que nunca será possível ser e ter aquilo que nossos mais profundos desejos ordenam, mas o inverso também é prejudicial - o sacrifício pelo bom conceito diante da sociedade não pode ultrapassar limites, gerando angústia, frustração e sofrimento. É necessária a busca por um ponto de equilíbrio entre as duas faces da moeda. Alcançar esse ideal implica, no entanto, muito “jogo de cintura” para saber dosar a quantidade exata de “imagem” e “realidade”.
Em meio a obrigações, responsabilidade e limitações, o ser humano tenta sobreviver na busca pela adaptação. A imagem que o indivíduo transmite à sociedade é importante, sim. Mas cabe a cada um buscar o equilíbrio entre aquilo que queremos e o que querem de nós e não permitir que o “parecer” venha a se sobrepor ao “ser”. Caso contrário, o ser humano estará eternamente estagnado e aprisionado em suas máscaras. Deixe as máscaras caírem, o relógio já aponta a meia noite. A carruagem da Cinderela é só uma abóbora.... Mas abóboras são saudáveis, não são?

segunda-feira, 15 de abril de 2013

[big] girls [don't] cry

É engraçado, porque tudo que eu fiz foi querer fazer com que outras pessoas se sentissem bem. E, com isso, acabei esquecendo de ser tão cortês comigo mesma. O complicado é que cada dia eu acredito menos e menos e isso vai ferindo aos pouquinhos. E esses pouquinhos, de repente, são tanto, mas tanto, que quebram seu coração e tudo que você um dia já acreditou na sua vida. Você sente falta da época em que era fácil estar rodeada de pessoas. Mas, hoje, você não tem mais muitos amigos e, honestamente, não liga. Porque  as pessoas são idiotas, assim como você. Só que a gente cansa de gente idiota. A gente cansa de gente que chama de autista, excluída, isolada. A gente cansa de gente que te pede desculpas só pra não ter mais que ouvir sua voz. A gente cansa de gente que grita de entusiasmo para falar com você e, no fundo, não queria dizer mais que um oi seco e que arranha a garganta para sair. Eu estou me afastando de tudo que faz mal ao meu coração. E se isso quer dizer ser uma pessoa ainda mais afastada, excluída, autista, pois que seja. Ninguém mais precisa me incluir no mundo. Eu estou cansada desse mundo. O meu mundo agora é o que eu me encaixar e dessa gente eu quero distância. Distância mesmo, das boas.
Não posso, é verdade, deixar de admitir o quanto isso dói, o quanto isso fere só de pensar. Porque por mais que a verdade esteja ali, na tua cara, por mais que essas pessoas sejam lobos em pele de cordeiro e agora você veja isso de forma clara, clara, transparente, você ainda ama memórias. Ama memórias mais do que ama pessoas. Ama memórias de um tempo em que você se sentia parte de alguma coisa, de algum grupo, de pessoas por quem você brigaria dizendo que se importam com você sim, afinal, é isso que a gente pensa quando se importa com as pessoas. Bom, a verdade dói mesmo, mas ainda é a verdade e é melhor que uma mentira, não é? E a gente, às vezes, até se esconde naquilo que nos conforta da dor e da tristeza, mas ninguém pode se esconder para sempre e usar máscaras para sorrir e fingir que está tudo bem. Uma hora você percebe o quanto você está por sua conta nessa não-vida, mas sobrevivência. A vida, meus caros, é confusa. E as pessoas têm segredos. Elas guardam segredos sobre você. Sobre o que pensam de você. E respondem suas perguntas com mais perguntas, e eu nunca fui muito paciente, é verdade. Mas, se você quer saber, talvez o final feliz de todas as histórias não seja aquele em que você fica com o seu príncipe encantado e vocês se casam e todas as suas madrinhas de casamento são aquelas que você conheceu nas épocas de colégio e só querem o seu bem. Aquelas que vão contar histórias engraçadas sobre você aos convidados e a farão morrer de vergonha. Talvez não. Talvez ele seja simplesmente o dia em que você segue em frente. Você e o seu príncipe. Sem casamento nem madrinhas. Você segue em frente e deixa tudo que te puxa para baixo para trás, levando apenas o que te faz bem.
E aí você leva aquelas três ou quatro pessoas com você. Aquelas pessoas que não te dizem o quanto gostam de você tantas vezes quanto você gostaria, mas ainda são as pessoas que você têm. São as que você ama. E são as pessoas que continuaram com você e são as únicas que você sabe que continuarão. Mesmo que você nem sempre possa desabafar com elas, mesmo que essas pessoas nem sempre te entendam como você gostaria e ainda que elas sejam as capazes de te arrancar os piores choros da sua vida, você não quer que elas vão embora. Você não aguentaria ver mais nenhuma delas partir. Então você ignora os cochichos que ouve e as risadinhas e os comentários maldosos ou mesmo as evidências, que, para você, são completamente falsas, só porque é impossível que alguma daquelas pessoas, daquele núcleo tão pequeno de pessoas, tão íntimas, tenha sido capaz de te machucar. Não, aquelas pessoas são tudo o que você têm. Não. Elas não fariam isso. E não fizeram mesmo e você sabe. E você realmente acredita nisso. Então, você agarra na mão dessas pessoas e vai, vai seguindo pelo mundo, como se nada tivesse acontecido, porque meninas... Meninas não choram. Ainda bem que eu tenho você. Não vá para longe.


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terça-feira, 19 de março de 2013

precious monsters

Quem você é? Quanto você vale? Quem te enxerga? O que se vê? "Uma moldura clara e simples" e nada mais? Todas essas perguntas me atormentam todos os dias, como se eu tivesse a necessidade de respondê-las para garantir que não repetirei erros do passado, somente para ter certeza de que estou fazendo a coisa certa. Ou a coisa errada. Porque o errado pode ser certo e o certo, quem sabe, incerto demais. E o que, por vezes, soa errado, te faz feliz e, logo, não tem como sê-lo. Mas o mundo real vem para todos nós em algum momento e nada, absolutamente nada nesse mundo, vai cheirar como uma rosa sem espetar como espinhos - assim como esses espinhos não surgirão fora das rosas. O bem e o mal, o sim e o não, luz e escuridão, evolução e involução. Tudo se trata do grande balanço e equilíbrio que devemos respeitar aqui na Terra, enquanto cumprimos a sentença da nossa existência. E, quando percebemos, não podemos mais evitar que o mundo nos machuque. Quem sabe a morte doa menos que a vida. Quem sabe. Porque os monstros e fantasmas são reais na vida. Eles existem e estão dentro de nós. E, às vezes, nos vencem. Às vezes, agir dentro dos conformes não é o suficiente para extinguir as falhas ou assombrações. Esses monstros e fantasmas são o que nos leva a tantos questionamentos e auto reflexões. São eles que nos derrubam e quebram as asas dos anjos. Basta baixarmos a guarda por um segundo sequer e lá estão eles, te encarando pelo canto dos olhos, praguejando sua caminhada, esperando pela queda, certa demais. Talvez seja por isso que é mais inteligente nunca mudar por outra pessoa. Esconder seu coração e usar o seu cérebro, porque o coração é o atalho mais genuíno e patético que já existiu para a entrega. Ele baixa a nossa guarda.
Mas ninguém ama com o cérebro. Quem é suficientemente inteligente para isso, não consegue amar  com o cérebro. Afinal, o cérebro é racional e o que há de racional no amor? Há que se amar com loucura, porque é a única maneira lógica de fazê-lo. E aí você tenta manter os monstros do amor longe, mas eles têm um certo charme e continuam vivendo dentro de você, quer você queira, quer não. E, quando você se dá conta, esses monstros horríveis encontram outros monstros que te habitam. E aquilo cresce. E você se ilude em suas próprias fantasias. E as coisas deixam de ser como parecem e você já não sabe quais são os verdadeiros monstros. O lobo na pele do cordeiro te deixa confusa. Ter fé cega em alguém é burrice, mas demonstra claramente a necessidade que o ser humano tem, sempre perene, de se conectar, de pertencer.
E, se não se pode ser humano, de que adianta simplesmente ser? Existir? É a eterna procura pelo coexistir.
Muita gente vai te julgar. Muita gente não vai te entender. Eles não sabem o quanto aqueles monstros valem a pena. Eles não sabem o quanto você é um monstro de vez em quando. Eles não sabem o quanto você deixa aquela personalidade insana escapar pela sua boca de vez em quando, só para enxergar a luz do mundo. O mundo mudo, que diz muito mais.
E você vai, amparada pelos monstros. Pelas assombrações. Pelos medos e uivos e pelos medos dos vivos. Em meio. Você vai. Porque o charme daquele outro monstro vai conquistar o seu. E você e aquela pessoa vão compartilhar os fantasmas que assombram. E vão se abraçar embaixo do edredom. E vão acender uma luz tímida, só para lembrar que nem tudo é tão escuro assim. E é tudo atraente. E você vai. E eu vou. E nós vamos juntos. E seremos sempre assim.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós.




Já tem um tempo que eu não escrevo aqui. Mas, me diz, como permanecer sem tocar esse assunto? O Rio Grande do Sul nunca esteve tão perto da minha Bahia. E eu peço licença a todos que perderam alguém nessa tragédia para falar sobre isso. Peço licença, porque eu nem de longe imagino o que é e não tenho pretensão nenhuma de conseguir descrever a dor que expreme o peito nesse momento. Mas o que eu posso dizer é que, por alguma razão, algo doeu aqui. Algo me deixou extremamente chocada, angustiada, triste mesmo. Não sei nem se tristeza é a palavra. Tristeza é o termo que eu uso para falar do bolo de chocolate que acabou, do dia em que meus pais não me deixaram sair de casa, daquela nota ruim que eu recebi. Não tem cabimento equiparar, né? Isso não é muito comum, digo, eu me sentir tão estranha com as palavras, mas, de repente, incrivelmente de repente, elas são pequenas, reduzidas às letras. O que aconteceu foi mais que tudo isso, foi revoltante. E eu choro todas as vezes que assisto reportagens sobre o assunto. Eu engulo a seco quando passo em frente a boates aqui em Salvador e penso que poderíamos não ser salvos. Poderiam ser os nossos corpos ali, precisando de identificação. Poderiam ser os nossos pais naquela fila gigantesca, esperando para receber a notícia mais horrenda de suas vidas. Poderiam ser os nossos amigos os devorados pelas chamas. Poderia ser a minha mãe a pessoa a ligar desesperadamente para o meu celular, mais de 100 vezes, e acabar ouvindo a voz de um bombeiro. Poderia ser eu, caramba! E é isso que me faz querer falar do assunto. É tão próximo da nossa realidade. Diferentemente da maioria das tragédias as quais achamos que nunca aconteceriam conosco, essa não, essa é bem real, bem possível, bem próxima mesmo. E essa proximidade me assusta. Essa proximidade me machuca. Quebra-se o mundo presumido. O futuro de cada uma daquelas pessoas. cada nome daquela lista, que parecia não ter fim, era uma vida, como a minha ou como a sua. E, digo mais, eu e você poderíamos ser aquelas pessoas. a única coisa que nos diferencia daquelas vítimas é o mero acaso. Uma soma de acasos que eu assumo, pela primeira vez, a existência. Amargura-se a saudade do que não foi. Os sonhos esvairam-se em uma fumaça escura que somou-se ao céu, escuro demais. Chora-se a inversão da lei natural da vida. Pais não devem enterrar filhos. Boates não devem matar, devem divertir. Fogo deve aquecer, jamais queimar. E esse fogo que tanto queimou, gerou um choque térmico, porque tudo que sobrou da chama tão quente foi esse frio cadavérico que nos arrepia, independentemente de onde estamos. As chamas chegaram aqui e, infelizmente, seguiram caminho. Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Rogai.

domingo, 13 de janeiro de 2013

a oração de Maria.


Maria tinha entre os seus 12, 13 anos de idade. Para muitas coisas e para muita gente, levando em consideração os novos parâmetros do século, ela já não era mais uma menina. Isso se analisássemos a garota como um caso objetivo. Dotando-o de subjetividade, seriamos levados a analisar como ela agia e as aspirações que tinha na vida. E nisso, a síndrome do Peter Pan ainda reinava. Quer dizer, pelo menos aos moldes de hoje em dia.
Sua mãe estava ocupada comprando algum jogo de lençois novo para combinar com as paredes do seu quarto e Maria preferiu ficar do lado de fora da loja esperando, apenas observando as pessoas passeando no shopping. Cada uma daquelas pessoas tem uma vida e uma história, o que parecia ser distração suficiente para a sua mente impressionável e imaginação fértil. Divertia-se criando roteiros para a rotina de cada uma das pessoas que passava a sua frente, baseando-se apenas no modo como andavam, vestiam-se ou a julgar pelas olheiras que lhes enfeitavam a face. Atenta aos detalhes, Maria os apreciava.
De todo modo, muito mais do que criar rotinas para as pessoas, ela gostava de se por no lugar delas. Imaginava como seria viver cada uma daquelas vidas. Os shoppings normalmente são palco de vários casais, andando de mãos dadas e esbanjando sua felicidade, que nem sempre é verdadeira, mas sempre é, ao menos aos olhos de Maria.
Maria gostava de pensar que um dia ela faria a mesma coisa. Um cara super legal, inteligente, bom de papo iria buscá-la em casa e eles sairiam para ver uma comédia qualquer, depois de ele ter conversado com o pai dela sobre o jogo da quarta passada e sobre o quanto a arbitragem foi injusta. Eles já teriam comprado os ingressos pela internet, assim teriam tempo suficiente para comprar sorvetes antes de o filme começar. Vanilla com calda quente de chocolate - ele não precisava perguntar. Ela apenas olhava para ele na fila da sorveteria, rindo de seus pensamentos e lembrando o quanto a vida era boa. O quanto a felicidade estava ali, ao seu lado. Depois, ela faria um comentário qualquer a respeito daquela loira boazuda que estava na fila ao lado e não parava de encará-lo, fazendo-se de enciumada. E ele iria rir e abraçá-la forte, comentando o quanto aquela cara de brava era extremamente atraente.
Depois eles iriam assistir ao filme e sentariam naquelas filas de quatro cadeiras, bem no meio, impedindo que outras pessoas resolvessem sentar ali também. No dia seguinte eles iriam ao show daquela banda que ela adora e tem musicas calminhas para relaxar. E ele a deixaria em casa na volta e ela voltaria cantando aquelas músicas novamente e ele não se importaria de ouvi-las pela segunda vez e na sua voz rouca, ainda por cima. Ele gostava de vê-la rindo dos refrões absurdos e inimagináveis daquela banda. E ela se empolgava e dizia que iria fazer aulas de bateria, ser uma estrela do rock, ou quem sabe aprender violino e tocar em uma orquestra. Depois ela se rendia à boa e velha MPB. Ao chegar na casa dela, ele pararia naquela vaga cativa. Abriria o porta-luvas e entregaria uma caixinha com o par de brincos que ela esqueceu no carro dele no dia anterior, enrolados em um papel qualquer que ele pegou e rabiscou um "Eu te amo" em sua caligrafia, ou cacografia, vai saber.
Eles se beijariam e ela entraria em casa. Mais tarde, ele mandaria uma mensagem para ela, comentando sobre uma discussão qualquer que teve com o filho do vizinho e eles conversariam horas a respeito. E ela o ouviria dizer o quão irritante é aquele garoto e o quão ensurdecedor é o barulho dos gritos que ele vive dando por ai. E eles acabariam discutindo por alguma coisa insignificante no meio da conversa. Desligariam o telefone chateados, achando melhor conversar no outro dia. Mas 10 minutos depois ele enviaria uma mensagem de texto dando boa noite e dizendo que estava com saudades. Ela responderia dizendo que o amava. E tudo voltaria a ser como sempre foi.
Ele iria buscá-la na faculdade no dia seguinte com um das suas flores favoritas no carro e eles iriam almoçar em algum restaurante a quilo que servisse suco de laranja e água de coco. De preferência, algum perto o bastante da casa dela para que ele a deixasse em casa e voltasse ao trabalho sem que o seu chefe, sempre insuportável, reclamasse de coisa alguma. E eles iriam vivendo assim, dia após dia, sendo felizes como aqueles casais no shopping. E ele teria o maior orgulho de segurar a mão de Maria em público e exibir-se por ai, como um cara sortudo, e ela faria o mesmo. Eles iriam esbanjar o amor, expressá-lo, pelos 4 cantos do mundo. Ou de seus corações.
E os anos se passaram e os desejos da Maria ainda eram os mesmos. Logo foram 10 anos, depois 20 e por aí vai... E ela abriu uma loja no shopping. E continuava observando a vida daquelas pessoas e desejando. Os mesmos desejos. Até que um dia uma coisa aconteceu. Ela viu um casal brigando. Brigando mesmo. E a felicidade ali se esvaiu. Foi o primeiro casal para o qual ela não tentou construir uma vida. E lembrou dos sonhos que tinha. Lembrou da Maria de anos atrás. Dos sonhos de Maria.
Aquela mulher, a Maria, então, olhou para os lados e se retirou do corredor das lojas. Caminhou a passos lentos demais até a primeira janela, ajoelhando-se. Foi aí que ela murmurou aos céus, juntando as mãos em oração: Deus, que a realidade cruel nunca seja cruel o bastante para destruir os sonhos dessa menina. Deus, que ela encontre alguém irreal o suficiente para alimentar esses sonhos. Alguém que exista, apesar de não existir. Alguém que a ouça e faça disso tudo realidade. Não a abandone, meu Deus, não a deixe ser parte da sociedade. Existem sonhos que não merecem ser destruídos. Protegei Maria, amém.
E assim se fez.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

all of the stars are fading away.



Sugestão: ler ao som de Stop crying your heart out - Oasis.

Estamos no terceiro dia do ano. Teoricamente, ainda estamos naquela semana em que as pessoas estão empolgadas pelo início de um ciclo novo, tomadas por uma sentimento quase que de renascimento, tolamente acreditando que em 2013 elas finalmente cumprirão as promessas de 2003. Não vão. Não vão, porque o primeiro dia do ano não é nada mais, senão o dia seguinte ao último dia do ano passado. Acorda. Não adianta escrever nomes em folhas de papel e queimar, pular sete ondinhas, vestir-se de branco, nada disso. Acorda. É só mais um dia e as pessoas continuarão estúpidas, como sempre foram. Pare de acreditar que um segundo, só porque fez você trocar de calendário, é capaz de alterar alguma coisa no seu mundo. Acorda. É só mais um ano e você pode bancar a Pollyana ou a moribunda, é problema seu e ninguém vai estar nem aí. Nunca esteve. Eis a essência humana.
Mas não quero fugir à regra, então decidi, também, sentar e fazer uma retrospectiva do meu ano. Pensei em que eu fui, quem eu quis ser. Pensei nos estranhos que se tornaram amigos e nos amigos que se tornaram estranhos. É o curso natural da vida, não é? Admito até que estou fazendo algumas projeções do que esse ano há de ser, mas muito mais por não ter mais nada a fazer do que por acreditar que eu realmente vou cumprir essas metas.
Eu mudei muito esse ano. Tem partes de mim que eu ainda tento conhecer e me surpreendo com o que elas podem fazer. Por sorte, elas são escravas de partes que eu conheço bem. Eu costumava acreditar que "Igualdade, Liberdade e Fraternidade" eram o rumo que a sociedade um dia encontraria. Quem é a tola agora? Essa certeza se esvaiu e me sinto infeliz. Meu idealismo, que antes era o ar que eu respirava, hoje é o veneno que me sufoca. Eu debocho dele. Idealismo patético. O idealismo é só uma outra forma de encararmos um vício por ilusões sobre o mundo. Uma pessoa muito idealista é uma pessoa muito iludida e esse não pode ser o meu oxigênio, não é? O de ninguém, aliás. Acorda. Se há mesmo um pote de ouro no final do arco-íris, alguns chegarão antes que outros e guardarão para si a mega da virada. 
Há algo que precisa ser deixado para trás. Há fantasmas que devem ser aprisionados no outro lado. A vida tem que ser melhor. Eu tenho que ser melhor. Eu preciso me sentir melhor. Porque toda essa dor e tristeza que me invade, vez por outra, tem que ter alguma razão. Tem que haver. As pessoas não devem sofrer pelo acaso, porque se é o acaso que as faz chorar é só ele que pode fazer parar. E ninguém pode viver dependendo do acaso, não é? Como diria Cazuza, ainda estão rolando os dados. O anti-acaso existe. As coisas precisam ir e vir consoantes aos nossos anseios, comportamentos e até caprichos, mas sempre nossos. Tão nossos e de mais ninguém. Meus demais. Os horóscopos dizem que as coisas tendem a dar certo para mim esse ano. Então, Deus, esse é o seu jeito de me dizer isso? Mandar uma tempestade é o sinal da abonança que se aproxima? E se a tempestade durar tempo demais, vai mandar a Arca de Noé ou esse vai ser o seu sinal de que eu devo morrer afogada? As coisas são como tem que ser.
Eu sinto falta dos meus dias de otimismo. Eu sinto falta de cuidar das pessoas. Eu sinto falta delas, das pessoas, mais do que eu desejaria. Eu me sinto meio sozinha. E não era para ser assim, não é? As pessoas que entram na sua vida prometem implicitamente que estarão ali para que, dentre outras mil coisas, você não se sinta sozinha. Então por quê é esse o sentimento que me rodeia? Por quê, nos últimos tempos, alguns laços parecem frágeis e alguns cordões teimam em se partir só pelo prazer do estalar das cordas? Por quê eu sinto esse gosto de sacrifício ecoar nas quatro paredes?
É, essa síndrome de ano novo não me faz bem. Todos esses pensamentos só lembram que, no escuro, até nossa sombra nos abandona. Por isso eu tenho medo de escuro. Estamos todos sozinhos no fim do dia. E nossos amigos... Nossos amigos são, antes de nossos amigos, criaturas muito ocupadas com as próprias vidas para ter tempo de nos ajudar a viver as nossas.
É triste, mas na Terra a ordem é cada um por si e Deus por todos - que sobrevivam os mais fortes. Acorda. Ou talvez seja só a TPM... Vai passar.
Talvez não seja tudo tão triste assim. Talvez você não esteja tão sozinha assim. Talvez alguém queira caminhar ao seu lado no escuro. E aí a vida pode não ser tão difícil de viver.