sexta-feira, 15 de maio de 2015

Irene, a paz e a força.

Normalmente, quando escrevo algo, desabafo meus sentimentos e emoções mais profundas. Falo sobre o que sinto, o que penso, o que me incomoda e acalenta. Busco, entretanto, sempre usar nomes falsos, ou me limitar a pronomes, para que a minha vontade de por as coisas em palavras não se confunda com a completa exposição da minha vida. Sempre me atraiu mais o estilo do "quem é, sabe". O ar de mistério tem um requinte especial quando é regado a uma piada interna ou comentário íntimo que faz com que todo o resto tenha sentido.
Mas hoje eu não quero falar por meio de indiretas, pronomes, apelidos ou codinomes. Escreverei hoje sobre a minha avó e ela merece que esse amor seja declarado com toda a transparência e publicidade que é devida,
Algum tempo se passou até que eu, finalmente, voltasse a ter vontade de dizer algo. Tem dias em que eu acordo e acredito que aqueles que nos amam, nunca nos deixam de verdade. Tem dias que isso faz sentido e é fácil acalmar meu coração. Eu me conformo e oro para que Deus esteja cuidando de você, onde quer que você esteja agora, onde todos nós vamos um dia. A morte é uma certeza, uma sentença de verdade irrecorrível. Tem dias em que eu canso de lutar com o inevitável, eu canso de ferir as mãos dando murros em facas e aceito. Aceito e sorrio, como sempre fiz toda a minha vida. Sorrio por tudo que a vida me deu, por todos os anos em que tive o privilégio indescritível de ter duas mães, já que você sempre foi como uma mãe pra mim. Sorrio por ter tido alguém que foi minha confidente, minha amiga, minha professora, minha referência em tantas e tantas coisas. Eu sorrio e aceito a sua partida, acalmando meu coração pela certeza do reencontro que está por vir.
Outros dias já não são tão simples. Hoje não está sendo simples. Hoje eu me lembrei da sua voz cantando para mim, desde muito pequena. "Bonequinha linda, dos cabelos loiros, olhos tentadores e lábios de rubi", que hoje sente um vazio no peito e um nó tão apertado pela sua ausência.
É em dias como esse que eu questiono o mundo, me revolto com o ciclo da vida e não consigo aceitar a lógica, por mais lógica que seja, de que você não iria viver para sempre e que aquela promessa de ficarmos juntas por, pelo menos, 144 anos era apenas um motivo para rir e dizer que nos amávamos muito.
Eu ainda tinha tanto para aprender com você, tanto para compartilhar. Mas acho que o tempo nunca seria suficiente, seria? Arrumar as suas coisas e destiná-las a doações, na esperança de que isso me faça sentir melhor, acaba por me fazer enxergar quantas coisas eu não tive a oportunidade de conversar com você, tantas histórias que não contamos e que eu quase consigo imaginar como seriam. E eu sei que não deveria sentir falta das coisas que não aconteceram, mas, sim, ser grata por tudo que vivemos. E eu sou. Mas você sempre foi tão forte. Uma fortaleza que escondia as dores e tinha pulso firme para tomar as decisões mais difíceis. Já saiu viva de tantos sustos que nos deu. Tão forte, tão super-mulher, que é difícil demais aceitar que você se foi. Eu sinto a sua falta, mais do que qualquer outra coisa na vida. Eu sinto uma dor, uma dor insuportável, impossível de ser expressada em palavras, inimaginável. Uma dor de algo que foi embora, cedo demais, rápido demais e que era especial demais e eu preciso de ajuda. Preciso de algo que me dê a certeza de que tudo ficará bem, eu preciso da força que você sempre teve e eu não estou sabendo ter.
É isso que chamam de luto? Essa angústia, essa agonia, essa dor no peito e no estômago, esses olhos pesados. Isso vai embora algum dia? Algum dia eu vou conseguir ficar só com os bons dias? Algum dia a ferida vai fechar? Eu preciso da sua ajuda, preciso de você por perto.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

A beleza é tão fugaz


Se acaso me pedissem para descrever 2014 em uma palavra, eu diria força.  Quando você passa por algo ruim e sua vida começa a desmoronar, você percebe que não quer perder mais nada de bom que se apresente para você. Porque a vida é uma só e ela é rápida demais. Meu Deus, como ela é rápida. Então apesar de não entender direito o que está acontecendo dentro dessa sala, ou porque a sua mão foi parar na minha cintura, apesar de todos os milhões e milhões de pesares, eu sei que isso é algo bom. E, por ser algo bom, minha mente, meu coração e todas as minhas forças estão condicionadas a não deixar ir embora. Não quero nunca mais sentir aquele arrependimento só porque não soube reconhecer o timing, porque não quis dar o braço a torcer e pedir desculpas, dizer eu te amo, dar bom dia depois de uma discussão, passar o açúcar, cozinhar pensando no que vai tirar um pouco o lado monótono dos dias. Ver cores, dividir a panela, assistir TV junto. Fingir que o latido é um toque de celular.. Nunca mais olhar para trás e lembrar das coisas que eu não disse, das coisas que eu não fiz, do dia que eu deixei passar, que eu fingi não ouvir chamar, só para não precisar andar dez passos até você. Por fora, eu estou uma rocha, vivendo todos os dias como dias normais, um de cada vez, um após o outro, mas todos do jeito como deve ser. Por dentro, eu acordo todos os dias lembrando do que eu preciso superar, da montanha que eu ainda não cheguei ao topo, daqueles por quem eu preciso ser forte. Afinal, não fazemos isso? Muito mais do que sermos fortes por nós, precisamos erguer a cabeça, porque há alguém nos olhando, alguém que só se levanta todos os dias porque entende que é possível, já que nos vê fazendo.
Força foi o que esse ano significou para mim. Força para entender que às vezes precisaremos dar uma, duas, três, dez, vite chances para algo ou para alguém, ou para nós mesmos, porque existem coisas mais importantes, ou mais urgentes, ou que nos fazem sorrir e esquecer um pouco os problemas. Força para entender quando é hora de deixar para lá, quando há outros motivos para sorrir. Força para entender a lei da vida, os ciclos que se abrem, se fecham e se vão. E antes da primavera, encaramos o inverno. E ele vai chegar de novo, mas depois vem a primavera.
Nesse ano de 2015, eu quero me agarrar às coisas boas, às pessoas boas, à vida. Eu quero crescer, sorrir mais, viver mais, porque eu não quero perder mais nada de bom. Eu não quero mais sentir a vida desmoronar. Eu quero só paz esse ano. Bem vindo, 2015.

domingo, 20 de abril de 2014

coração vago

Você já se sentiu sufocado por um vazio? O caminhar dos ponteiros do relógio que, pouco a pouco, assassinam o que o nosso cérebro, nosso coração, nossas ilusões ou sabe lá o que chama de esperança. Debruçamos-nos sobre nós mesmos e nos questionamos o que nos mantém de pé. O que nos dá força para erguer o corpo e não desequilibrar, sem cair por aí, reclamando da vida, choramingando a ausência de algo. Tolerância, o que o mundo diz. Paciência é o que pedem. Compreensão. Compreensão? Compreensão para compreender o vazio, o nada, o branco e o preto, o abandono, a solidão? Compreensão para engolir a seco, mendigar sentimentos recíprocos de papel. A dor te arrebata de uma só vez. Você ajoelha e sente os grãos te machucarem. Suas mãos ardem da palmatória recente demais. Você respira fundo e compreende seus erros. Compreende e pacientemente os tolera. Paga a si mesmo uma penitência. Purga-se. E, ainda assim, sua garganta sufocada reclama por um pouco de ar, que se esvai muito longe daqui. E eu não sei o que se passa, porque, às vezes, eu respiro fundo, mas, às vezes, tudo que me resta é a reciclagem de um ar que eu guardei dentro dos pulmões, economizando para quando eu tiver preguiça. Para quando, quem sabe, doer demais respirar e chorar for mais simples. Ou, se nem isso, quem sabe.
Algumas cenas passam na minha mente e eu me agarro a elas, me agarro forte. Cenas que são flashs, meros momentos rápidos, segundos. Essas cenas ainda me fazem dormir e acordar todos os dias, rezando para que elas se multipliquem. E eu sei que você me acharia louca se conversássemos sobre isso. Eu sei que você não me daria ouvidos se eu te pedisse para escutar. Eu sei que você fingiria não se importar, só para ver se eu fico caladinha, assim, quietinha, só deitada do seu lado, brigando internamente por me convencer de que nada daquilo tem importância, de que eu estou superdimensionando as coisas. Convencer a mim mesma de que é mais sensato não esperar ou desejar certas coisas e somente ser grata. E eu sou. E isso vai bastar.
Porque não são todas as pessoas que têm a sorte de serem abençoadas com grandes amores, não é? Mas como diria o Nando Reis, o grande amor abrange o sonho e a vida real. E na vida real somos assim, imperfeitos, insuportáveis, intolerantes, impacientes, intransigentes. Somos desse jeito, um dia, um mais que o outro, outro menos que um. Nem sempre medidos com colheres, nem sempre dosados do jeito certo. E eu tento me convencer de que a vida é assim mesmo. Convencer-me de que eu sou louca, de que não há nada de errado com a gente. Convencer-me de que você é menos sonho e mais vida real, sem nunca perder o sonho, mas aí vira sonho demais. E eu continuo pensando nisso tudo, caladinha do seu lado. E embora você nunca tenha me dito nada que me convença de que eu estou errada, eu não canso de buscar argumentos que me contradigam, porque eu odeio a ideia de que eu estou absolutamente certa. Isso de ter razão não é para mim.
Mas não nego que sinto a falta tua e não somente tua, tua mesmo. Sinto falta de coisas que nunca fez ou que já não faz há muito tempo. Sinto falta das coisas simples, nada muito caro ou elaborado. Sinto fata do lembrete na geladeira, dizendo o que falta comprar para o jantar. Sinto falta, cara. E o pior é que você sabe disso e finge não saber. Machuca, aperta, engasga, esgana. Doi. Doi. Doi. E doi que, ainda assim, por alguma razão desconhecida, eu ache toda a dor suportável, por pior que seja.  Toda ela é suportável por alguns segundos de compensação. Segundos em que eu fecho os olhos e finjo que nada disso existe. Finjo que grandes amores são só sonhos e excluo um pouco a vida real...

domingo, 9 de março de 2014

Penas Azuis



Um dia ensolarado como aquele não lhe favorecia. Sua pele, extremamente branca, parecia ainda mais branca. Isso sem falar no contraste entre ela e todas aquelas pessoas, expondo marcas de biquíni, um verão muito bem aproveitado, enquanto tudo que ela conseguia expor eram as marcas de olheiras de quem não dormiu bem, pensando em assuntos dos mais variados. Seu cabelo pegava fogo naquele clima quente de Salvador. Aliás, em dias quentes como esse, qualquer coisa pega fogo. Ou quase qualquer coisa.
Sua palidez a tornava invisível, o que contradizia a sua personalidade exigente por atenção. A personalidade que, na tentativa de não parecer neurótica demais, ela culpava quando depositava toda a sua necessidade constante de atenção em alguém. Mas não admitia que ninguém lhe cobrasse a atenção que ela demandava. Não, caras assim são um saco e todo mundo sabe disso. Melhor que deixasse para ela todo esse papel de drama e choro e novelas mexicanas.
Mas, alguns dias, não havia em quem depositar tudo isso. Não havia um filho de Deus capaz de ouvi-la, escutá-la. Então ela simplesmente inventava alguma desculpa qualquer, dessas que a gente nem liga se o outro acreditou ou não (até porque, se acreditasse, isso nos faria questionar seu nível de inteligência), e vai para aquele mesmo lugar de sempre - o terraço de um dos prédios mais antigos da cidade. Já tentaram demolir aquele prédio tantas vezes. Da ultima vez, ela ouviu que ali seria um hotel de uma grande rede internacional. Bom, a verdade é que, por mais que aquele lugar estivesse caindo aos pedaços, literalmente, era maldade demolir aquilo. O terraço era, indubitavelmente, a  melhor vista da cidade que poderia haver. Não digo em relação a essas paisagens de cartão postal, não, disso passava longe, mas dali dava para ver um mercadinho de bairro, mais para uma feira, na verdade. Ela sabia a vida de cada uma daquelas pessoas, apenas observando-as pelo terraço daquele prédio.
E era bom, de vez em quando, se ocupar com a vida das outras pessoas, envolver-se com seus dramas, somente para sentir os seus diminuídos, ainda mais se estamos falando de dramas de pessoas desconhecidas, quando não há qualquer obrigação de ouvir até o final - se o relato está chato, você pode simplesmente sair dali. Simples assim.
Deitou-se no chão do terraço, deixando que o Sol lhe cobrisse, sem ter que ouvir ninguém pergunta-la sobre um protetor solar. Sentiu a quentura tocando a sua pele e as suas costas começando a ferver em contato com o chão quente. Cara, isso é bom. Seu cabelo, reluzente em chamas, adaptava-se ao cenário do clima típico soteropolitano. Viu, então, de longe, um casal de passarinhos, cantando felizes e voando um ao redor do outro. Penas azuis, comemorando o dia.
Pensou, então, em como seria bom ser um daqueles passarinhos, tendo outro ali, à sua frente, simplesmente comemorando o dia ao seu lado, em plena luz do dia. Voar por aí com alguém, sem ter que se preocupar com os horários a cumprir, relatórios a entregar, saldos negativos no banco. Como seria bom sentir aquele calor todos os dias, ver as penas azuis batendo, ouvir seu canto. Sem destino, sem paradeiro, talvez perdida, mas recompensada por ouvir aquele canto, o canto que comunga, enquanto o relógio ainda marca às dez da manhã, apontando um longo dia pela frente.
Afinal, para quem tem o céu para se aventurar, não é difícil chegar perto do Sol.

domingo, 26 de janeiro de 2014

fé. destino. palavras.


Especialmente no início do ano, muita gente fala sobre crenças e esperanças. Muita gente me pergunta em que eu acredito, já que insisto tanto em dizer que o acaso não existe. Em fé e destino, eu digo. E essas duas palavras se entrelaçam, uma complementando as linhas que a outra já não consegue escrever.
Eu já vi milagres acontecerem. Já vi pessoas desejarem algo e se voltarem à força maior em que acreditam - já vi elas serem atendidas. Já vi corações partidos se transformarem em novos. Isso é o que a fé é capaz de fazer e não há como desacreditá-la, ou descreditá-la. E quanto ao destino, bom, há uma razão, uma história atrás de todas as coisas ou pessoas, o que justifica ou, ao menos, norteia o futuro que terão. Há uma história por trás de cada pessoa, uma razão para serem como são. Não é como se as pessoas fossem de um jeito simplesmente porque desejam sê-lo, mas porque são, porque algo no passado as fez assim. Não canso de repetir que tudo acontece por um motivo, não existem acidentes na vida. Não conhecemos as pessoas por acidente. Cada pessoa que nós conhecemos desenvolve um papel em nossas vidas, seja ele pequeno ou grande. Algumas pessoas irão nos trair, nos machucar, nos fazer chorar e nos fazer mais fortes. Outras pessoas irão nos ensinar coisas, não para que nós mudemos, mas, sim, para que aprendamos com nossos erros e aprendamos a reconhecê-los perante aos outros e, quem sabe, nos tornemos melhores pessoas, evoluamos o espírito. Já outras irão simplesmente nos dar inspiração e amor, com o intento de nos fazer felizes quando todo o resto não está.
E, por isso, quando algumas pessoas saem de nossas vidas, nós devemos simplesmente aceitar. Aceitar de coração aberto, porque existe uma rotatividade que move o mundo. Existem várias outras pessoas que precisam cruzar o seu caminho, contribuir para a sua vida de alguma forma, boa ou ruim, mas elas precisam vir. E outras precisam ir, em todos os âmbitos. Nesse momento, não adiantarão promessas de que estará ali. Somente estará se dever estar. Assim como o amor não pode ser mendigado, também não pode a presença. Não há como forçar algo, seja o que for, quando o destino decide que as coisas não funcionarão desse jeito. O destino é soberano ao próprio tempo. O destino é soberano à palavra e qualquer um que não entenda isso talvez deva rever as noções de egoísmo. Afinal, manter alguém preso ao discurso é um dos atos mais egoístas que eu já analisei. Não que eu esteja dizendo que as pessoas não devem ter palavra, não, mas o que são as nossas palavras e promessas, senão um desejo que você tem naquele momento, uma projeção de futuro sem nenhuma segurança efetiva? Somos humanos, não deuses.
As palavras, me disseram, tinham mais valor no passado. Será mesmo? Será que fomos nós, humanos de uma modernidade informal, que nos perdemos em meio a tudo isso? Não sei. O que eu sei é que talvez as pessoas do passado de quem ouvimos tantas histórias fossem mais capazes de manter as palavras reais ainda no presente. Fossem, quem sabe, mais capazes de transformá-las em um futuro. Porque as palavras, meus amigos, são só palavras. O verdadeiro valor, que está atrás delas, deve ser constantemente renovado.
Não adianta, portanto, querer cobrar de alguém que as mantenha. Elas devem ser mantidas porque nós damos razões para isso, porque o destino quer que seja assim. Não adianta, se não for, bater os pés como uma criança, insultar com um vocabulário ferino ou sarcástico, esfaquear em entrelinhas. Não adianta trazer um discurso bonito que espelha superioridade e altruísmo, quando os valores que o motivam despejam-se por terra. É feio ser ingrato à vida.
As palavras não são quebradas, ou quebráveis. São palavras, são o túnel que usamos para expressar o que queremos agora. Por isso eu me entrego a elas, são renováveis, como um espírito em constante mudança. Como um espírito que eu admiro, moderno e informal.
Chega um ponto da vida - e esse ponto não tem nada a ver com idade, mas com timing mesmo - em que é preciso abrir mão de todo o drama desmotivado e das pessoas que o criam e tratar de estar cercado unicamente de pessoas que te fazem rir tanto que você esquece das coisas ruins e é capaz de focar unicamente nas coisas boas. Nos tempos modernos, em que a vida se tornou algo tão fácil de ser tirado, o tempo é curto demais para que ela seja qualquer coisa diferente de alegre.
E então, se, ao fim do dia, soubermos onde destinar a nossa fé, ela poderá moldar o nosso destino. E, mais uma vez, fé e destino se complementam, se equilibram, como deve ser, e se concentram no que eu insisto em chamar de "meu antiacaso".

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Alguém.



A verdade é que todo mundo só quer alguém que no meio do dia te mande uma mensagem inesperada ou te ligue para saber como você está e mais nada. Alguém que apareça para te buscar no trabalho e te leve para tomar sorvete mesmo que você tenha ganhado uns quilinhos na semana passada por causa do chocolate que aquela TPM te trouxe. Mesmo que, lá fora, o termômetro aponte dez graus negativos. Não alguém que concorde com tudo que você diz, mas que ouça as suas opiniões, uma por uma, e as debata, contra argumente, se achar necessário, mas nunca as desmereça. Alguém que te acompanhe naquele compromisso super chato que você só vai por consideração ao anfitrião, ainda que não conheça ninguém. Alguém que te abrace forte e ria do seu riso. Alguém que tope assistir desenho animado só para ver a sua cara de quem nunca cresceu e de que ainda acha o máximo as piadinhas que aquela personagem faz (mesmo que elas sejam horríveis). Todo mundo sonha, espera, idealiza. Alguém que nem cogite te abandonar, por absolutamente nada ou ninguém. Alguém que aceite até o Domingão do Faustão, só como desculpa para te abraçar e te pirraçar comentando sobre aquela bailarina boazuda. Alguém que te ponha no colo e diga que você é a união do que há de mais lindo que já conheceu e, se não disser com palavras, que esteja bastante claro em seus olhos para que não deixe dúvidas. Alguém que faça guerra de comida com você, que dance a música do comercial e aperte a sua cintura quando quiser atenção. Alguém que saiba lidar com os seus dias de cão e tenha também o seu gênio forte. Alguém que te admire e orgulhe, alguém de quem você se orgulhar. Alguém que te faça querer ser melhor todos os dias, para merecer aquela presença tão boa. Alguém que prometa cuidar de você e cumpra. E não te deixe sozinha. Alguém que seja obsceno, mas nunca indelicado. Alguém que seja amigo, companheiro. Que os outros sejam só os outros. Os outros e só. Alguém honesto, sem medo de dizer a verdade. Alguém que entenda os seus medos e que converse com o seu urso de pelúcia só para te animar. Alguém que te leve para jantar naquele restaurante chiquérrimo, ou na Subway, mas que faça questão de puxar a cadeira e abrir a porta do carro. Alguém que elogie o seu perfume e reclame quando você cortar o cabelo. Alguém que deixe você mexer no som do carro e ouvir aquela mesma música trinta mil vezes. Alguém que te ame e, principalmente, que saiba o que é isso. Afinal, eu nunca vi o amor salvar nenhum relacionamento, mas já vi muitos amores serem salvos pela forma de se relacionar. Não há maior felicidade que eu já tenha experimentado.
Que as pessoas sejam livres e que, ainda assim, escolham ser um alguém para outro alguém. Amém.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

when you smile



Ela acordou e, de repente, já estávamos chegando em outubro. Ela acordou, escrava do tempo, impiedoso, incontrolável. Tanta coisa se passou. Tantos dias que passaram batido numa vida corrida demais. Corrida demais para prestar atenção em detalhes, de modo que cada detalhe de fato observado se faz grande, muito grande. Não foi muito difícil que ela se apaixonasse. Ao menos não depois de notar o detalhe no sorriso dele. Aquele lado do sorriso meio curvado, sempre fugitivo de fotografias, encantador de um jeito só seu. O sorriso dele era daqueles tão genuínos, inocentes e ao mesmo tempo com o ar de carregar muito mais vida do que a vivida de fato, daqueles com o qual você se depara somente umas quatro ou cinco vezes na vida inteira. O modo como ele a olhava era como qualquer mulher desejaria ser olhada. Parecia medi-la em cada detalhe. Compreendia e acreditava nela, exatamente como ela queria, ou merecia, ser compreendida e acreditada. E o que ela sempre ouviu em casa foi um conselho muito claro de que, se a esmola é alta demais, o mendigo desconfia. Nada que é bom, bom de verdade, nesse mundo, vem de graça. Então, se você quer alguma coisa, vá lá e pegue. Corra atrás e consiga. Ela sabia disso. E ela sabia, também, como ele sabia, que isso seria difícil pra caramba e que teriam que trabalhar no projeto todos os dias, reconstruindo as bases, solidificando o terreno para a construção não desmoronar. Suariam juntos, mas eles queriam fazer isso, eles queriam um ao outro. Afinal, por vezes, como se diz por aí, o certo e o errado nem entram na equação. Quem vai dizer que é errado algo que nos faz feliz ou certo algo que nos açoita dia após dia? Outras forças nos movem - forças que nós não podemos esconder, ou mesmo questionar, porque são trazidas pelo coração.
De todas as coisas que ela deixou passar, de todos os detalhes, luzes que escureceram no esquecimento, aquele sorriso não passaria. Ela apostou todas as fichas em algo assim, algo dos dois, exclusivamente dos dois, dos dois demais. Não dela, não dele, mas dos dois. Cuidou disso como se cuida de uma peça frágil e valiosa. Porque não havia como ser diferente, sim?
Mas uma hora ou outra, ela sabe, todos nós machucamos quem amamos. É inevitável. Tão inevitável quanto o tempo, continua correndo a passos largos, rápidos demais. E eles se machucaram. Em momentos diferentes, mas igualmente ruins, ela o machucou e ele não fez diferente. Seria fácil fechar os olhos ao orgulho do outro se o seu próprio não tivesse sido ferido. E sangra. Onde estão os médicos? O paciente está convulsionando.
Tem dias que ela acorda e acha exaustivo pra caramba amar desse jeito. Importar-se demais. O controle de um relacionamento está com quem se importa menos. Muita gente, então, a aconselha a amar se importando menos. Ligar menos, se importar menos com as pessoas para ser mais feliz. Mas sabe o que é? Ela acredita que a real felicidade se traduz por se importar mais com as pessoas, jamais menos.
Aquilo vai até doer bastante por alguns dias, várias vezes. E as memórias boas podem ficar meio apagadas durante aquele tempo, somente para que as ruins ganhem algum destaque. Mas não é isso que é a vida? Uma sucessão de momentos bons e ruins, dias melhores que outros, um ciclo inacabável de sobrevivência em flores e espinhos? E ela prometeu, um dia, que estaria ao lado dele nas horas boas e, principalmente, nas horas ruins. E ela honra as promessas que faz.
Não se pode mudar o passado, então ela abandona o que já se foi. Perdoa, independentemente de um perdão. Ela ouve, nesse momento, várias vozes que a chamam de fraca. Quem dera eles soubessem o quanto aquilo lhe demandou força... Perdoar é ato dos corajosos, dos fortes. Mas ela o faz feliz, feliz porque ela o escolheu para viver os dias, seja hoje, seja para sempre, seja enquanto queimar uma chama, mesmo que essa chama oscile algumas vezes. Seguir sem essa chama remete a pular de m penhasco. Somos as nossas escolhas. Vivemos para elas e por elas e assim continuaremos todos os dias até partirmos dessa vida. Deus respeita o nosso livre arbítrio.
Algumas vezes ela se torna louca, perde a cabeça e tenta fazer ele perder a dele também. Tanta sanidade que se exige há de enlouquecer. Então deixa, deixa enlouquecer, "caetanear" o que há de bom. As ideias nem sempre correspondem aos fatos. Ela sente a falta dele, isso é tudo que ela queria dizer. Então ela pede, implora, para que o resto do mundo conheça esse amor antes de tentar destruí-lo. Ele é bonito demais e quizá uma das poucas maneiras de dominar o tempo, afinal, é somente quando olha em seus olhos e no canto daquele que seu sorriso que o tempo para. Para até que ela queira que ele volte a correr. Deixa parar. Deixa escravizar, além do próprio tempo.

"And when you smile, the whole world stops and stares for a while, 'cause you're amazing just the way you are..."