Uma
hora você está bem e de repente, não mais que de repente, o seu mundo desaba. O
seu mundinho presumido de amizades eternas vai ao chão e você se vê obrigada a
reconstruir aquilo. A se automedicar, porque de médico e louco, todo mundo tem
um pouco. O maior problema em acreditar em quem não merece é que, por mais
estúpidos que possamos ser, um dia o coração, depois de tantas decepções,
desaprende a acreditar e se torna impossível confiar mais uma vez em qualquer
pessoa. É triste quando a gente ouve alguém dizer que seus amigos se tornaram
inimigos. É mais triste ainda, devo admitir, ouvir que eles se tornaram
desconhecidos. Completos estranhos, desses que você cumprimenta na fila de um
banco, dá bom dia no elevador. Estranhos que ironicamente sabem bastante da sua
vida, mas que você já não se incomoda em chamar de amigos. Eu não suporto
mentiras, opiniões dadas pelas costas. Eu estou aqui. Estou falando o que
penso. Está aberto o ciclo da honestidade, vá em frente, diga o que pensa, diga
o que acha. Essa opinião pode doer, mas é uma verdade e toda verdade é
infinitamente mais digna que falsos abraços e consolos. Eu costumava guardar
para mim o que deveria ser dito na cara de muita gente, mas não é isso que eu
estou fazendo agora, é?
Não
é o que me parece. Afinal, ou bem vivo ou bem agrado. E eu percebi isso bem a
tempo.
O
problema é que eu não sou daquele tipo de pessoa que ouve e esquece logo depois
– eu me lembro de todas as coisas ditas e vividas, sempre, acredite ou não. E
hoje, ao me recordar de todas aquelas coisas, o que eu enxergo está vazio. Oco
e vazio. E isso dói. E o seu lado da história nem sempre é o que aquelas
pessoas enxergam. Muitas vezes, você se torna a vilã só porque há uma plateia
muito maior do outro lado, ocupada demais julgando a sua vida e o modo como
você vê as coisas, sem se preocupar em entender como as coisas lhe são
apresentadas. Cada par de olhos é singular. E as pessoas são estranhas. Elas
julgam. Julgam e falam como se já tivessem vivido a minha vida. Desculpe, meu
bem, mas, como diz a música, cada um sabe a dor a e a delícia de ser o que é.
Eu,
finalmente, então, criei coragem e soltei o mundo para segurar a sua mão.
Afinal, um dia é da caça e outro, do caçador. Hoje você brinca e amanhã você é
o brinquedo. Porque quem nunca tentou conseguir algo melhor para si é porque se
contenta com pouco e eu não sou dessas. Eu me agarrei a você e fui andando, sem
rumo, esperando virar a próxima esquina e quem sabe encontrar aquilo que eu
venho precisando. Quem sabe sentir aquele pertencimento mais uma vez. Quem
sabe. Eu me segurei em suas mãos e torci para meus dedos não escorregarem. E
não comentei com o resto do mundo sobre o assunto, apenas você é a minha
segurança. Afinal, é mais simples dizer por aí que você está bem do que sentar
e explicar todas as razões pelas quais você não está. Tristeza não é troféu,
nem medalha. Não vale a pena exibir. E você me ensinou a não trocar coisas que
eu mais quero na minha vida por coisas que eu mais quero no momento. E você me
ensinou a levantar e tentar ser melhor, todos os dias. E eu fui aprendendo que
nessa vida cada um depende de si. A trancos e barrancos, você foi me ajudando a
me reerguer, assim como me ajuda a caminhar todos os dias. Por isso eu tremo,
eu temo, quando você ameaça dizer adeus. Adeus significa ir embora. E ir embora
é esquecer.