sexta-feira, 15 de maio de 2015

Irene, a paz e a força.

Normalmente, quando escrevo algo, desabafo meus sentimentos e emoções mais profundas. Falo sobre o que sinto, o que penso, o que me incomoda e acalenta. Busco, entretanto, sempre usar nomes falsos, ou me limitar a pronomes, para que a minha vontade de por as coisas em palavras não se confunda com a completa exposição da minha vida. Sempre me atraiu mais o estilo do "quem é, sabe". O ar de mistério tem um requinte especial quando é regado a uma piada interna ou comentário íntimo que faz com que todo o resto tenha sentido.
Mas hoje eu não quero falar por meio de indiretas, pronomes, apelidos ou codinomes. Escreverei hoje sobre a minha avó e ela merece que esse amor seja declarado com toda a transparência e publicidade que é devida,
Algum tempo se passou até que eu, finalmente, voltasse a ter vontade de dizer algo. Tem dias em que eu acordo e acredito que aqueles que nos amam, nunca nos deixam de verdade. Tem dias que isso faz sentido e é fácil acalmar meu coração. Eu me conformo e oro para que Deus esteja cuidando de você, onde quer que você esteja agora, onde todos nós vamos um dia. A morte é uma certeza, uma sentença de verdade irrecorrível. Tem dias em que eu canso de lutar com o inevitável, eu canso de ferir as mãos dando murros em facas e aceito. Aceito e sorrio, como sempre fiz toda a minha vida. Sorrio por tudo que a vida me deu, por todos os anos em que tive o privilégio indescritível de ter duas mães, já que você sempre foi como uma mãe pra mim. Sorrio por ter tido alguém que foi minha confidente, minha amiga, minha professora, minha referência em tantas e tantas coisas. Eu sorrio e aceito a sua partida, acalmando meu coração pela certeza do reencontro que está por vir.
Outros dias já não são tão simples. Hoje não está sendo simples. Hoje eu me lembrei da sua voz cantando para mim, desde muito pequena. "Bonequinha linda, dos cabelos loiros, olhos tentadores e lábios de rubi", que hoje sente um vazio no peito e um nó tão apertado pela sua ausência.
É em dias como esse que eu questiono o mundo, me revolto com o ciclo da vida e não consigo aceitar a lógica, por mais lógica que seja, de que você não iria viver para sempre e que aquela promessa de ficarmos juntas por, pelo menos, 144 anos era apenas um motivo para rir e dizer que nos amávamos muito.
Eu ainda tinha tanto para aprender com você, tanto para compartilhar. Mas acho que o tempo nunca seria suficiente, seria? Arrumar as suas coisas e destiná-las a doações, na esperança de que isso me faça sentir melhor, acaba por me fazer enxergar quantas coisas eu não tive a oportunidade de conversar com você, tantas histórias que não contamos e que eu quase consigo imaginar como seriam. E eu sei que não deveria sentir falta das coisas que não aconteceram, mas, sim, ser grata por tudo que vivemos. E eu sou. Mas você sempre foi tão forte. Uma fortaleza que escondia as dores e tinha pulso firme para tomar as decisões mais difíceis. Já saiu viva de tantos sustos que nos deu. Tão forte, tão super-mulher, que é difícil demais aceitar que você se foi. Eu sinto a sua falta, mais do que qualquer outra coisa na vida. Eu sinto uma dor, uma dor insuportável, impossível de ser expressada em palavras, inimaginável. Uma dor de algo que foi embora, cedo demais, rápido demais e que era especial demais e eu preciso de ajuda. Preciso de algo que me dê a certeza de que tudo ficará bem, eu preciso da força que você sempre teve e eu não estou sabendo ter.
É isso que chamam de luto? Essa angústia, essa agonia, essa dor no peito e no estômago, esses olhos pesados. Isso vai embora algum dia? Algum dia eu vou conseguir ficar só com os bons dias? Algum dia a ferida vai fechar? Eu preciso da sua ajuda, preciso de você por perto.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

A beleza é tão fugaz


Se acaso me pedissem para descrever 2014 em uma palavra, eu diria força.  Quando você passa por algo ruim e sua vida começa a desmoronar, você percebe que não quer perder mais nada de bom que se apresente para você. Porque a vida é uma só e ela é rápida demais. Meu Deus, como ela é rápida. Então apesar de não entender direito o que está acontecendo dentro dessa sala, ou porque a sua mão foi parar na minha cintura, apesar de todos os milhões e milhões de pesares, eu sei que isso é algo bom. E, por ser algo bom, minha mente, meu coração e todas as minhas forças estão condicionadas a não deixar ir embora. Não quero nunca mais sentir aquele arrependimento só porque não soube reconhecer o timing, porque não quis dar o braço a torcer e pedir desculpas, dizer eu te amo, dar bom dia depois de uma discussão, passar o açúcar, cozinhar pensando no que vai tirar um pouco o lado monótono dos dias. Ver cores, dividir a panela, assistir TV junto. Fingir que o latido é um toque de celular.. Nunca mais olhar para trás e lembrar das coisas que eu não disse, das coisas que eu não fiz, do dia que eu deixei passar, que eu fingi não ouvir chamar, só para não precisar andar dez passos até você. Por fora, eu estou uma rocha, vivendo todos os dias como dias normais, um de cada vez, um após o outro, mas todos do jeito como deve ser. Por dentro, eu acordo todos os dias lembrando do que eu preciso superar, da montanha que eu ainda não cheguei ao topo, daqueles por quem eu preciso ser forte. Afinal, não fazemos isso? Muito mais do que sermos fortes por nós, precisamos erguer a cabeça, porque há alguém nos olhando, alguém que só se levanta todos os dias porque entende que é possível, já que nos vê fazendo.
Força foi o que esse ano significou para mim. Força para entender que às vezes precisaremos dar uma, duas, três, dez, vite chances para algo ou para alguém, ou para nós mesmos, porque existem coisas mais importantes, ou mais urgentes, ou que nos fazem sorrir e esquecer um pouco os problemas. Força para entender quando é hora de deixar para lá, quando há outros motivos para sorrir. Força para entender a lei da vida, os ciclos que se abrem, se fecham e se vão. E antes da primavera, encaramos o inverno. E ele vai chegar de novo, mas depois vem a primavera.
Nesse ano de 2015, eu quero me agarrar às coisas boas, às pessoas boas, à vida. Eu quero crescer, sorrir mais, viver mais, porque eu não quero perder mais nada de bom. Eu não quero mais sentir a vida desmoronar. Eu quero só paz esse ano. Bem vindo, 2015.