segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Tudo se completa de algum jeito.


É fim de ano.
Não sei quanto ao resto do mundo, mas, normalmente, nessa época, eu costumo fazer uma retrospectiva do ano na minha cabeça. Pesar as coisas boas e ruins. Dar adeus a quem me fez mal e boas vindas ao que me fará bem. Mas, além de tudo, tentar aprofundar o autoconhecimento.
Embora faça isso ano após ano, ainda não aprendi como lidar com certas coisas sobre mim mesma. Eu não sei exatamente quem eu sou. Apesar de conhecer o meu lado bom, eu não sei exatamente qual é o meu problema. Apenas sei que ele existe. Ás vezes, me sinto lutando contra um vento escuro, que nunca me deixa ver o que há do outro lado, mesmo que esse outro lado esteja dentro de mim. Mesmo que esse outro lado seja quem eu sou. Mesmo que esse outro lado seja a minha sombra. A minha escuridão.
Eu tenho um lado obscuro. Acho que todos nós temos (ou, talvez, eu só diga isso para me sentir mais incluída no mundo). Eu o reconheço como espelho dos meus dias ruins. Ou, talvez, apenas o oposto dos bons. Eu apenas sei que essa escuridão vive dentro de mim e eu a oculto. Normalmente, nem sequer toco no assunto. Mas ela está lá. Sempre. Para sempre. E eu admito: essa escuridão, quando a deixo fluir e me ocupar por inteira, dá a sensação de liberdade. Sensação de estar viva. Mesmo sabendo que ela vai de encontro ao que o mundo diz ser certo, não a combato. Não quero combatê-la. É como uma necessidade. É como se mil vozes sussurrassem: "Isso é quem você é". Aos poucos, a pressão aumenta e essa necessidade cresce, como um elástico se esticando. Como uma onda que pede, grita, exige ser saciada. As vozes se tornam mais altas... De repente, uma é a mais alta de todas. E ela grita: "AGORA!". É impossível ombatê-la nesses momentos. É a única voz que eu ouço. É a única voz que eu quero ouvir. E eu pertenço a ela. Essa sombra de mim mesma. Em dias ruins, ela é tudo o que eu tenho. Em dias ruins, ninguém mais poderia me amar. Nem mesmo e principalmente eu. Ninguém. Ou seria isso apenas uma mentira contada pela minha escuridão? Porque, ultimamente, eu tenho identificado momentos em que me sinto conectada a algo mais. A alguém. É como se a máscara caísse, deslizando pela minha face.
Coisas e pessoas que nunca antes me importaram, de repente, começam a importar.

Isso me assusta. É normal ter medo?

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Mal secreto

Pois bem. Antigamente eu era mais preocupada com isso. Agora, tanto faz.
Se o que interessa são as aparências, eu vou fingir que pretendo seguir ao teu lado.
Porque se é pra enterrar os vínculos, eu sei atuar e mentir que não me importo.
Mas sabe que tanto fingimento já virou realidade? Que chato é não ter o que pedir quando o relógio marca as horas iguais...
Bem, eu sei que não posso cobrar nada de quem não me deve; mas eu tenho que avisar: tenho muito para você.
Como os meus versos nos papéis amassados. E todo meu ressentimento, nunca nenhum bom sentimento.
Tenho que te deixar ir e fazer o que é bom pra você. Tchau. Quem sabe outra hora, em outro lugar, com uma outra conversa a gente se entenda. E quem sabe você enxergue o por quê de eu me preocupar tanto em te fazer crescer.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

3 de copas.




Com licença, apertadíssima semana de vestibulares, mas o meu coração anda ainda mais apertado e precisa falar um pouquinho. Prometo ser breve e so por para fora meia dúzia de frases incompletas - talvez, apenas para não perder o costume.
Não sei o que me deu essa semana; um misto de saudade de coisas que eu jurei que não sentiria a falta. De pessoas que eu prometi um adeus - algumas delas me levaram a agir assim para seu próprio bem, outras, tive de agir na garantia do meu. Bom, seja como for, os últimos sete dias me serviram para por os malditos pingos nos i's.
Percebi que a vida a qual eu vinha levando não me fazia bem. Pus-me, mais uma vez, na busca da contentação - nunca alcançada. Por um momento, cheguei a pensar que estivesse bem com as companhias que me rodeavam. Mas não, bastou que ele quisesse realizar o meu sonho e puf!: não consegui seguir adiante. De repente, não pareceu bom o bastante. Eu já assisti esse filme antes. É só mais uma pessoa boa que eu não quero envolver na minha rede de infelicidades. Eu o escolhi, não por seus braços extremamente enlouquecedores (isso é fácil de reparar), nem pela carinha de sono (o meu ponto fraco, como sempre digo), mas pelos problemas. Ele tinha problemas parecidos com os meus. Por isso, nos entendíamos. Mas aí eu me toquei de que éramos só duas pessoas sozinhas tentando fazer uma dupla de universos separados. Nosso casamento foi em separação total de bens. Em breve estarei na vida jurídica e não quero começar minha carreira com uma adulteração de contrato. Foi essa a melhor desculpa que eu arranjei para esfriar a cabeça.
De volta naquela estrada fria de sempre, meus olhos já enxergam, no escuro, o caminho. Lá estava eu, mais uma vez, falando para a mesma pessoa de sempre. E eu acreditei que ali, sim, estivesse a solução para a solidão de sempre. Acreditei, sim, que toda essa história tivesse sido só uma história mesmo, mais uma dessas que eu invento para mim mesma, para me esquecer o caminho que eu sei fazer de olhos fechados. O caminho para aquele de sempre. Mas eis que me surpreendi: Não. Por um minuto, eu neguei a caminhada e, então, a fiz mais uma vez, apenas para ter certeza. Fechei os olhos e trilhei aquele caminho. Não me preocupei em deixar as migalhas de pão no chão - eu sabia como voltar. Sabia bem demais. Falei para aquela pessoa sobre o meu amigo que não vejo há mais de um ano. Perguntei se tinha notícias dele. Mas a pessoa desconversou, tentando me falar de si, embora não me disesse abertamente o que aconteceu com o meu amigo. Ainda não sei se ele faleceu ou se está preso por falsidade ideológica. E eu que pensei que meu amigo pudesse me salvar dessa solidão. Não. Ele só jogaria conversas fora comigo, como bom amigo que sempre me foi, mas depois teria muita dor de cabeça cuidando dos seus próprios problemas. Cada macaco no seu galho.
Fiz a pergunta essencial, de uma maneira informal, para que ele não percebesse a minha intenção. Deu certo. A resposta veio clara e limpa, como eu queria. E seu conteúdo só serviu para me dar certeza: Ali não estava o porto, a cura da minha solidão. Por quanto tempo eu me enganei? Bom dia, realidade.
Cheguei em casa e deitei a cabeça no travesseiro. Mas não foi o rosto de nenhum dos dois que apareceu em minha mente. Somente o rosto da última pessoa que eu imaginava. O rosto da pessoa que merece alguém muito melhor do que eu fui. Eu sorri, pensando nas coisas lindas. Se eu contasse, eles não acreditariam. Mas a gente sabe: Ele é especial. Vai ser para sempre. Não só porque ele foi a única pessoa que nunca decepcionou o meu coração surrado, nem apenas porque ele me abraçou e disse que o que importava era o que viria dali a diante, me permitindo esquecer o passado quando nem eu sabia se tinha autorização para isso. Não por ele ter sido um dos únicos homens que eu conheci em toda a minha vida (tão diferente desses moleques de hoje em dia). Mas por ele ter sido a primeira pessoa que me enxergou quando eu era um bichinho miúdo. Ele segurou minha mão até que eu me sentisse forte. Cantamos os Beattles e ele aguentou uma música inteira sem se incomodar com a minha voz ou me pedir para calar a boca.
Eu sorri pensando nisso tudo, mas acabei adormecendo com o som de uma gaita na minha cabeça, lamentando a certeza de a última nota da canção ter se perdido em algum lugar do calendário.

É solidão, somos só nós duas, amiguinha.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

35 lines.



Talvez em outros tempos, a visão da menina fosse meio distorcida por olhares românticos incuráveis. No tempo em que o choro lhe enfeitava o rosto, as lágrimas tornariam a realidade embaçada, nebulosa demais para que ela a pudesse enxergar como faz hoje.
Deus escreveu, por tanto tempo, o certo pelas linhas deles dois, que, se não fossem tão tortas, não teriam jamais se cruzado. No entanto, quando duas retas se cruzam, apesar de compartilharem um ponto comum, em seguida elas se separam, rumo a caminhos completamente diferentes. Aquelas retas nunca mais se encontrarão naquele ponto.
Foi isso que ela disse a ele, logo antes de pedir que vendasse os olhos. Ela pediu que ele visse o mundo e a si mesmo pelo menos uma vez pelos olhos dela. Talvez faltasse naquele garoto um pouco de verde musgo para colorir o olhar. Faltava o jeito dela de confundir o sim e o não e quase sempre optar pelo talvez.
Ele tem medo. Medo de deixar fluir o seu lado mais bonito e cativante. A imagem do bandido lhe soa mais interessante que a do mocinho. Garotos: quem os entende? Ele tenta se esconder atrás do som de uma guitarra que toca rock n'roll compulsivo. Só porque isso o faz mais legal aos olhos de pessoas que nunca o conhecerão. Que nunca o olharão nos olhos e saberão exatamente o que está acontecendo. Pessoas como quaisquer outras, excluídas do universo que o rodeia. Tão pequeno e ele faz parecer tão grande. Pessoas com as quais ele nunca virá a compartilhar mais que uma grade de cerveja, três maços de cigarro barato e meia dúzia de conversas banais sobre algo que não dura muito tempo na cabeça (e, às vezes, nem sequer nos ouvidos). Ele tem medo de não ser aquilo que desejava querer ser. Mas no fundo, não quer. Não quer e talvez nem ele saiba disso. Ele se acostumou a querer ser como os herois que morreram de overdose, mas esqueceu de mencionar os inimigos que assumiram o poder.
Ela o observou roer a pontinha dos dedos, enquanto relaxava a coluna em uma cadeira e mirava o chão. Ele sempre faz isso quando está constrangido ou se sente culpado por algo. Ela acha isso bonitinho, porque é quando ele se faz humano. É quando ele deixa a máscara cair. Tão vulnerável. Afinal, não é disso que o amor trata? Confiar em alguém o suficiente para se expor e estar completamente vulnerável, apostando que a pessoa não fará uso disso para lhe machucar? Ela acha que sim. E ele tem medo de que ela esteja certa a seu respeito.
Quando ele vai falar de si, parece tão cheio que ela lembra da lua cheia de um píer na aurora de setembro. Eis que está aberta, porém, a temporada de estiagem! Salve-se quem puder.
Ele tem uma adoração secreta por brigas e discussões e ela detesta isso. Mas sabe também que ele não gosta de prolongar nada para o dia seguinte. Com ele as coisas só valem aquele momento. Portanto, amanhã tudo será deixado para trás. Afinal, em vinte e quatro horas a Terra dá um giro - por quê o mundo dele precisaria ser maior do que isso?
A grosseria é só um mecanismo de autodefesa. Ele carrega as suas máscaras com um peso que não enxerga. Mas ela enxerga. Vai ver é por isso que insiste em ajudá-lo, ainda que não diga abertamente. Ela sabe que, por trás daquela máscara, existe alguém a ser salvo.
Talvez ela até seja ingênua, ou talvez meio maluca. Ou talvez não tenha limites. Mas ele, ele precisa parar de mentir para si mesmo. Ele precisa. Porque nem ele mesmo sabe o quanto há de bom naquele rosto, que só precisava se deixar mostrar.

PS: Exatas 35 linhas em um papel. Quantas entrelinhas?

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

circus



Sempre detestei circos. Não vejo a menor graça em um palhaço e acho que sou do tipo super-nervosinha-histérica-e-estranha. Daquelas que têm medo de olhar para a mulher que anda na corda-bamba (não sei se existe mesmo esse hífen ai, mas dane-se o novo acordo ortográfico) só porque acham que ela pode cair a qualquer momento. E isso me assusta. Crianças elásticas são esquisitas e me tiram o sono. Mas nada pior que aquele maldito palhaço.
Pergunto-me o que faz com que o público continue rindo, assim, meio abestalhado, meio incoerente, só porque o pobre do indivíduo se jogou no chão ou atirou água no coleguinha. Não acho graça nos sapatos grandes nem na maquiagem borrada, muito menos naquelas calças descomunais. Mas, pior que isso, em minha opinião, é o fato da fonte de tanta risadaria advir de algo pateticamente trágico. Pior que isso, meu bem, é que o mundo está cheio de circos.
E quem dera eu falasse de circos que montam tendas e vendem algodão-doce na entrada. Quem dera os pobres contratados que vivem às custas da ainda mais pobre bilheteria fossem os únicos palhaços com os quais eu devo me preocupar. Eles falaram verdades como se brincadeiras fossem, mas nunca duvidaram da seriedade da platéia que lhes sorria - grande Charles Chaplin -; daí se tira a diferença, perdida no meio do substantivo seriedade. Os palhaços de risos sombrios que ficam lançando jatos de água perto de mim, água cada dia mais fria, sempre mais fria (para mim, sempre para mim). Malditos - não canso de afirmar - malditos.
E eu sei que você está louco para me incluir nesse grupinho aí, mesmo sabendo que o traje não me seria elegante. Eu sei que sua língua fere coçando para dizer por aí que eu já sou parte dele. Você olha para mim, como quem espera ver o palhaço cair, só como se quisesse rir do tombo. Só isso.
Conte-me qual a sensação de ter amigos imaginários. Diga-me o que sente ao misturar personalidades alheias e depois ditá-las em indivíduos, como quem só quer preencher uma forma com massa de bolo. Mas os clientes estão enjoados. Caiu alho no meio da receita. Duas gotinhas de pimenta e aquilo começou a arder.  E, do riso sombrio de um palhaço macabro, surgiram, então, lágrimas de uma agonia impiedosa. Já viste palhaços que choram?
Você deve me achar com cara de palhaça. Engraçadinho. Mas acho que você prefere que o chame de "Incrível", ainda que a ironia permeie meus lábios.
Quando eu olho para trás e depois para você, uma boa válvula de escape seria dizer que tudo isso "faz parte do meu show". As cortinas se fecharam, mas a palhaça aplaudiu o espetáculo. Ela. Porque eu sempre detestei circos e aqueles malditos palhaços.

domingo, 23 de outubro de 2011

Coração: Órgão independente



Vez por outra, acho que subestimo a minha capacidade de fazer algo. Sou dessas que acha que não vai conseguir chegar ao outro lado, mas que condena os pessimistas. Faço parte daquele grupinho que se afasta, só para conferir se as pessoas vão sentir falta. No fim, eu sempre acabo voltando por sentir falta delas. Deles.  E o problema ta aí. Realizar uma atividade repetidamente a torna mecânica, automática. Eu volto, continuo me afastando e voltando. Mesmo quando não é a falta e sim o vício da ação que me faz agir desse forma. Embora sempre que eu venha a falar desse assunto, cite a consciência que está dominando o meu pensar, não posso ser hipócrita e dizer que alguma dessas vezes eu realmente agi como rezavam os meus desabafos por aqui. É aquela dorzinha de quando você deita a cabeça no travesseiro e sente que poderia ter evitado que o ciclo se iniciasse mais uma vez. Você permitiu. Nessas horas, eu me pergunto o por quê de alguma parte do meu corpo ter fornecido a tal concessão inconsciente. Não significa nada, perdeu o pó mágico que fazia o peso da consciência valer a pena.
Depois de notar tudo isso, eu me pergunto: Será que agora eu já posso enlouquecer ou apenas sou obrigada a sorrir? Mesmo que não haja uma pessoa para me fazer sorrir de verdade? Isso é meio irônico. Vai ver é por isso que eu fico agindo de forma mecânica, ignorando a verdade. Ignorando, só porque ela me assusta e eu sei disso. E todo mundo sabe disso. 
Mas uma coisa é certa: Ficar parada, reclamando, não vai mudar nada. Não vou ficar soltando balões para a infelicidade. Se o que a vida cobra é força, eu sou. O coração tá, oh, de pedra, uma rocha! Porque como as mais belas histórias, os capítulos favoritos voam, e aí, o que você faz? Melhor manter o sorriso na cara e rir daquelas frases sem graça dos capítulos infelizes, só para não perder o costume, nem desaprender a sorrir quando vierem mais capítulos favoritos. Aprendi a arte de chorar e esquecer a vergonha, gritar quando tenho medo e esquecer, mesmo quando não consigo. Eu escolhi a dedo cada uma das minhas sensações. Chama-se autocontrole.
Mas, mais uma vez, eu devo isso a alguém. Alguém que me mostrou que não dependo desse alguém. Sinto-me livre. Completamente livre para sentir o que quiser e ocupar-me por quantos sentimentos couberem no meu coração. A gente perde aquela mania de ficar marcando os batimentos cardíacos quando descobre que ele é um órgão independente. Eu disse independente. Aí fui me livrando de tudo que me fazia mal e me enganava, me fazendo acreditar que ele não batia assim sempre não.
Eis que, então, veio um passarinho azul e me contou que a gente tem que confiar em quem a gente ama. Aí eu perguntei que tipo de confiança. E ele riu. Disse que confiança é confiança. Pois é, confiança é confiança. Quem ama, confia. Quem não confia, não ama. Sou peça difícil de confinar, amor. Se não correspondes ao que eu chamo de órgão individual, quem sabe você tenha mais a ver com as suas células hepáticas. Precisa, então, cuidar delas. 
Amada liberdade, eu estou bem aqui. 

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

um grito calado

Cara sociedade, chefes de governo e palhaços que estão no poder,


Gostaria de compartilhar convosco o modo como me sinto. Sempre dizem que em mim está o futuro do mundo (existe frase mais clichê?), mas lamento ser apenas parte de um exército inoperante e ineficaz. O mundo que aguarda a mim é complexo e os anciões me julgam veleitária, quarésmica. Quixotesca por acreditar no que me dizem - mas o mundo ensina que em palavras bonitas a gente não pode acreditar: Há de ignorar.
O mundo é de mentira e quando eu pensou que estou deixando para trás a minha infância e a brincadeira do faz de conta, percebo que me aproximo ainda mais das mentiras. Mentiras que queimam, violentas, mas sem a inocência de minhas bonecas. Eu tenho vontade de mudar o mundo. Quero sair gritando por aí que eu sou mais forte, que a utopia só é utopia porque ninguém se empenhou em fazer verdade. Eu quero fazer verdade para que isso não vire só mais uma mentira. Eu queria poder fazer daqui, um lugar melhor. Mas é aquilo que eu já sei: Sou puro Romantismo para pouco Realismo. Queria eu que isso só tivesse a ver com Escolas Literárias e nada mais. O tempo ainda há de vir para que, quando eu já não for aquilo que sou hoje, derrotada, eu declare que o poder está nas mãos dos jovens. Mas há de ser só faz de conta. Não os deixarei falar. Jovens são intempestivos - diremos à bocas miúdas.
Ó Brasil, eterna nação de ninguém. Uma voz mau-caráter quer nos dizer o que fazer, como devemos agir. Falam-me sobre ética. Eu rio. Falam-me sobre liberdade de expressão. Eu rio. Falam-me sobre algo que o mundo chamou direitos humanos. Eu rio. Rio uma piada que tem graça tardia - ainda a espero. Seriedade? Compromisso?
Gostaria, também, de dizer-lhes que não nasci homofóbica, racista, corrupta, viciada em bebidas, cigarros ou drogas ilícitas, nem tampouco delinquente. Eu aprendi com vocês. Os mesmos homens que me ensinaram a dizer papai foram aqueles que me fizeram puxar um gatilho. E eu, sem querer atingir ninguém além da minha própria pessoa, deixei que a bala me atravessasse amarga. Que azar! Essa não era 7belo e nem Maçã Verde. Nem tinha gostinho de caramelo. Eis que um líquido vermelho começa a escorrer da bala. Tudo parou. O sabor dessa era inconfundível ao meu paladar: Futuro.


Sangue.


Atenciosamente,
A juventude. 

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Depois de anos





É incrível como o tempo muda as nossas vidas. O novo fica velho e o íntimo, desconhecido. Foi nisso que ela pensou quando viu aquela mensagem de um número desconhecido - ou não tão desconhecido assim. Mas ele assinou no fim da mensagem. Algo o fez lembrar dela, ainda depois daqueles anos todos. Meio inesperado, ela riu. Mas foi ao seu encontro.
Sentaram-se no píer onde tudo aquilo começou. Ao lado, o restaurante já estava com outra cara. Aquele ambiente já não parecia familiar - talvez nem fosse. Talvez já nem fossem familiares ou coisa outra qualquer. Ai tempo, tempo, tempo. Lá estavam as provas de que ele existiu. Os olhos dele tinham rugas nos cantos. Aquele corpo meio magro cujos cabelos mesclavam-se entre preto e poucos fios grisalhos. Não se viam há tanto tempo... Os assuntos que tinham se resumiram a banalidades.
Acho que só se pode entender, então, como um impulso físico o fato de terem se beijado. Mas eles sabiam suas próprias intenções - não foi como se estivessem se lançando em terra misteriosa. Ambos sabiam: Aquilo é um toque físico e não emocional. Não havia nada de emocional ali. Era indiferente, como respirar mais fundo. Desde que ela entendeu que as coisas funcionavam assim, há tanto tempo, tudo ficou mais fácil: Sem borboletas no estômago em relação a ele. A realidade é só um chão rachado, cor de terra morta - mas, mesmo que morta, ainda é firme e, se dá para andar, é isso que importa. Ela não se ilude e conhece todos os contratos que assinou. Ela os leu. Não sofre. Sem surpresas inesperadas.
Foi aí que ele a puxou para perto. Sentiram o calor um do outro, estavam muito próximos. Ele sussurrou baixo, então, no ouvido dela, freneticamente:
- Te amo, te amo, te amo, te amo.

Foi como se ele achasse que repetir essa mentira várias vezes pudesse apagar todas as mentiras que já lhe contou. 




Aí ela acordou, levantou e abriu as cortinas. Sentiu aquela vitamina D invadir seus poros e sorriu perante o espelho.


Bom dia, novo dia. 

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

"Paz" e o novo acordo semântico.

Nós dançamos. As enormes caixas de som ressoam, no ritmo de alguma dessas músicas pop/alguma nova modinha. Suados e em silêncio, as luzes multicoloridas e piscantes nos envolvem, como uma névoa. Mal conseguimos manter nossos olhos abertos, encarando um ao outro. Eu abaixei a cabeça, que balançava ao sabor da música, e enlacei as mãos atrás de sua nuca. Sinto o contato da sua pele com a minha e me pergunto como deixamos as coisas morrerem desse jeito. Não sinto nada.
A música acaba e logo começa outra, que me parece exatamente igual - elas sempre parecem. Acho graça por não saber o nome de nada que tenha tocado nessa noite. Como se a melodia que a minha vida resolveu tocar fosse parte de uma partitura que eu nunca aprendi a ler. Acho graça. Faz muito tempo que não ouço músicas novas, mesmo. Tem muitas coisas que não faço há muito tempo.
Disse-me qualquer coisa inaudível e foi sentar-se na mesa, num canto escuro. Tomou um gole da cerveja. Então, enquanto você acendia mais um cigarro, me viu, com o canto dos olhos, chegar mais perto. Me agachei até que a minha cabeça estivesse na altura da sua, para que nossos olhos tivessem conexão direta. Inclinei-a só por um segundo, para que meus lábios encontrassem seu ouvido e eu pudesse te perguntar:
- Então, o que a gente faz agora?
- Sei lá – respondeu, segurando aquele cigarro asqueroso, seu novo amiguinho incrível, entre os dentes. – A gente aproveita.
- Por que a gente muda tanto? – mais uma pergunta que eu fiz questão de usar um tom de voz único, só dele.
- Não saberia te dizer. – era um misto de pesar e indiferença, eu senti.
- É mesmo uma pena... – complementei o lamento.
Sentei-me ao seu lado e calei-me, sutilmente. Ele soprou a fumaça no ar e ficou imaginando mil desenhos formados ali. Papo de gente que fuma – eu queria poder entender. Mas isso de cigarro não é pra mim... Olhou para lado e a minha cabeça repousava, dormindo sobre seu ombro, embora meus pensamentos viajassem por aí. Paz, então, em nós dois. Finalmente, paz. Pena que só na superfície. Na beirinha da praia de um oceano agitado. 

sábado, 10 de setembro de 2011

new way

Eu o encarei. Olhos nos olhos. Fazia tempo que eu não olhava ninguém assim, com tanta intimidade. Fazia tempo que eu não sabia o que significava ver a si mesma refletida nos olhos de outra pessoa. E ele sustentou o meu olhar e eu, estranhamente, não me senti constrangida. Aquela mecha do cabelo caiu sobre os meus olhos e eu nem perceberia se não fosse por ele a ter colocado gentilmente atrás da minha orelha. Sempre achei os magrinhos mais bonitos, mas não dá pra negar o charme que é quando ele me abraça e os músculos do seu braço ressaltam "acidentalmente".
Ele tem aquele olhar de quem está morrendo de sono que, quando combinado a uma voz arrastada, me dá a sensação do conforto de um dia de domingo. É estranho, porque eu sempre odiei os domingos. Mas é calmo e, de fato, é bom.
O jeito que ele tem de fazer algum comentário inapropriado é tão apropriado que, às vezes, eu rio até sem querer. E eu me odeio quando isso acontece, porque aí ele descobre que eu tenho o riso falhado.
Ele tem a mania de me carregar e se divertir horrores quando eu começo a gritar para que me coloque no chão. Ele curte a sensação de poder me levantar para a direita ou para a esquerda, conforme queira - seria inútil medir forças com ele.
E, quando eu olho para ele, o que enxergo não é alguém sem defeitos ou que tenta me mostrar algo que não é. Ele não faz a menor questão de me impressionar, embora faça questão da minha presença. Eu o enxergo com tamanha clareza que, desde a primeira vez, foi como se o conhecesse há muitos anos...
Talvez seja um pouco precipitado dizer que estou realmente envolvida. Afinal, encerrei outro ciclo ainda essa semana. Mas é preciso conceituar "envolvimento". Mas não posso me sentir culpada por estar feliz. Mas não posso me sentir culpada só porque, ao contrário do que eu imaginei, não está sendo difícil seguir em frente.
Às vezes eu me sinto nova demais perto dele. Não na idade, mas ele tem aquele ar de quem já é mais, como diria minha avó, vivido. Como se já fosse mais experiente em absolutamente tudo e eu fosse apenas alguém que tem muito o que aprender. 
Não combinamos tanto assim e eu sei disso. Eu sei que eu posso cansar a qualquer momento, porque ele me entende. Ele sabe que eu não vou dar satisfações da minha vida e detesto que queiram me manipular ou me digam o que fazer ou onde ir. Ele sabe que eu me sinto melhor se me sentir livre e sabe que eu não vou ficar ligando para ele mil vezes, nem entupindo sua caixa de entrada de mensagens fofinhas. A menos que se trate de alguém que tenha despertado isso em mim (acredite, é algo bastante difícil), não faz meu tipo - ele sabe. E o pior: Ele entende completamente. Com a gente é assim: Não tem mistério, não tem segredo e o jogo com as cartas na mesa é tão estimulante como eu nunca imaginei que seria.
Ele quer as mesmas coisas que eu: Um motivo para relaxar. Uma válvula de escape e uma chance de deixar escapulir os bons modos, sendo quem quiser ser. Sem máscaras.
Ele é novo e talvez a novidade de ser uma novidade (faz tempo que não uso essa palavra) seja o que o torna tão cool no meu dia-a-dia.
Se eu estou apaixonada? Provavelmente não. Se eu conseguiria "terminar" com ele hoje, agora, e não sentir nada? Provavelmente sim. Não temos nenhum tipo de ligação, mas eu admito que é bom demais estar com ele. Finalmente, experimento o que Jota Quest disse serem os dias melhores.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

??/??/2011




Só costumamos enxergar duas coisas nas pessoas: O que queremos ver e o que elas querem nos mostrar.
Nada mais existe e não há nenhuma garantia de que essas duas coisas são reais. Por isso, hoje é o dia do último passo.
Eu costumava dizer que, quando ninguém estava olhando, eu sentia falta das coisas boas nele. Mas não, essas coisas não existem. Não que ele não tenha qualidades. Ele tem sim. Muitas, por sinal, e eu nunca negaria isso. Mas não são aquelas que eu enxergava. Talvez elas tenham existido um dia ou talvez não seja culpa dele. Talvez eu tenha criado essas coisas na minha cabeça, só para achar que existia alguém que poderia reunir tudo aquilo em que eu acreditava. Eu achei que ele era esse alguém e quis culpá-lo por ser simplesmente humano. Seres humanos cometem erros. Talvez eu tenha cobrado demais dele por ter pedido que correspondesse às minhas expectativas da exata maneira que eu desejei. Talvez, então, ele esteja certo quando diz que eu sou egoísta e penso em mim primeiro lugar, sempre. Não é isso que está na minha cabeça. É só que o personagem que eu criei no meu coração para representá-lo queria as mesmas coisas que eu, embora as pedisse de um jeito diferente. Eu me iludi porque eu quis e isso é fato.
Mas, agora, também me desiludi. Novamente porque eu quis.
Por isso que eu concluí que não sinto falta das coisas que eu via nele, porque a maioria dessas coisas não são reais e só existem na imagem divinizada que eu criei dele, por conta própria. Eu sinto falta da maneira como ele me fazia sentir em relação a mim mesma, porque isso, sim, era real. E todo mundo precisa de alguém que cuide de nós - a isso, dá-se o nome de sobrevivência. Mas, se você coloca um encantamento nisso, aí vira amor. E dizem que ninguém deixa de amar uma pessoa da noite para o dia. Por essa razão, há muito tempo eu já venho assim. Por fora, eu já desisti. Por dentro, sempre arranjei uma desculpa para recomeçar. Como um ciclo vicioso, eu nunca conseguia por um ponto final nessa história toda.
Mas eu estou confiante. Dessa vez eu dei tudo de mim. Perguntei ao meu coração surrado e ele me disse que estava de acordo. Meu coração aprendeu a dar pontos rápidos, costurando feridas, antes que ele aparecesse para cortar a linha e me obrigar a recomeçar. Meu coração não é tão burro, afinal de contas. Dei, hoje, ao pedaço "pretérito mais que perfeito" do meu amor uma chance de mostrar que eu estava errada. Só para que eu não me culpasse pelo resto da vida, achando que havia ali uma chance que eu ignorei. Não, eu estou de consciência limpa de que saio disso tudo do mesmo modo que entrei: Limpa e confiante do sucesso de minhas ações. Essa última "chance" só serviu para mostrar que eu estava certa. Que eu estou certa. Eu estou certa quando eu acho que já se foi o tempo em que havia algum pedacinho de saudade que valesse a pena. A saudade de hoje em dia nem sequer é saudável. Eu estou certa. Eu.  Adeus, vício, você não me pertence e tampouco eu te pertenço. Finalmente eu sinto o meu peito esvaziar e meu corpo já não treme. Eu tenho o perfeito controle da situação.
Amor implica admiração. Credibilidade. Futuro. Sonho. Reciprocidade. Preocupação. Sensibilidade. Se você já não sente nada disso, raramente ainda ama. Se você acha que algumas coisas são melosas e não cabem ou se você olha para trás e acha que tudo aquilo foi uma grande besteira, raramente ainda ama. E mesmo que ame, só o fato de fazer questão de negar tudo isso te faz raramente ainda amar. Às vezes você tem que esquecer o que você quer para começar a entender o que você merece. Porque a verdade é que a gente só amadurece e deixa determinadas pessoas, fatos ou lembranças para trás quando essa é a única alternativa. E é há muito tempo. Vai ver é por isso que eu me sinto tão forte.
Ele me ensinou a arte de sobreviver a uma dor que eu ainda vou encarar algumas vezes. Ele me ensinou a ser forte e madura e me fez aprender que chorar não significa ser ouvida e ser ouvida não significa ser atendida. Foi com ele, também, que eu aprendi que, às vezes, não se importar é o melhor remédio. Dizem que tudo que não nos mata, nos fortalece. Aqui estou eu, mais forte.
Não posso negar também que eu aprendi a controlar essa minha tendência em ser autoritária. Aprendi a dar a volta por cima. Eu dei.
Aquela velha eu que antes aqui escrevia declarações infinitas de um amor absurdo já está dando adeus. Acho que você não foi o único que mudou. Eu também mudei, mas aprendi que se preocupar com os outros não tem nenhuma contra-indicação.
É verdade que eu andei meio manca por aí, mas eu já joguei as muletas de lado. Já desfilo no salto alto sem problemas. Ele tem participação nisso. Não posso dizer que foi ruim - não foi. Para o momento foi maravilhoso e é desse jeito que eu quero lembrar. Não curto isso de pensar nas coisas ruins para esquecer. Sou mais daquele tipo que acredita nas coisas boas e lembra delas. Os momentos bons, eu lembro um a um. E eu não quero esquecer deles - acho que não é essa a palavra. Eu só não quis mais viver isso. Porque naquele momento cabia e eu torno a dizer: foi maravilhoso. Mas hoje já não cabe. E se eu não me libertar logo disso em breve serei apenas como um cão vira-lata com o focinho preso em uma lata na rua. Para de mexer cachorro. Para de mexer ou essa lata vai prender em você para sempre.
E, embora tivesse tudo para ser o dia em que eu mais lembraria dele, hoje se marcará o dia em que ele se tornará apenas uma página da minha vida. Uma página bonita, que por muito tempo me fez ficar colorindo desenhos e criando bordas que a ressaltassem em meio às outras. Mas no fim, é uma página. Só uma página de um livro que ainda tem muito a ser escrito.
Eu estou renovada. Eu estou feliz. Eu me sinto potente, como se, pela primeira vez na vida, essa situação só dependesse de mim (e não de nós dois). Deixamos de ser "nós dois" e somos apenas eu e você, sem necessariamente essa conjunção aí no meio. Eu sei que você não precisou dar a volta por cima. Mas eu dei, é isso que importa. Dei a volta por cima e hoje eu sei que consigo seguir em frente. Hoje o futuro parece muito mais bonito. Hoje o que eu enxergo é o meu horizonte aberto e, acredite, não tem nada melhor que essa sensação de libertação.
E sabe do mais? Eu estou feliz. Hoje eu não vim me queixar. Eu estou feliz. Eu estou... Feliz.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

rehab

Hoje se inicia o processo de finalização do ciclo. Após tanto tempo adiando a recuperação e frequentando a reabilitação do interior de minha mente, lutando contra (e ao mesmo tempo a favor) um vício canceroso, o amanhã se tornou o hoje. Acordei revigorada e disposta a fazer desses próximos cinco dias a minha oportunidade de recomeçar. Dessa vez, recomeçar de verdade. Estabelecerei novas metas e prioridades que incluem principalmente deixar o passado no passado.
Pensar em mim não foi o bastante, porque, ao pensar em mim, eu estava pensando e lembrando aquela sensação de ecstasy que me fazia sentir completa. Dava sentido ao mundo e me explicava a exata razão de nunca ter dado certo de outra maneira. De repente, pensar em mim me fazia ter a certeza da dependência que eu tinha daquele vício. Talvez, mais do que oxigênio, eu precisava consumi-lo - só assim teria certeza de que as coisas estavam em seus devidos lugares. Só assim estaria feliz.
Lamento, mas é hora de a razão assumir as rédeas de minha vida. E, acredite, durante esse tempo em que não assumiu, todo tipo de besteira já passou pela minha cabeça. Passei por aquela fase ridícula de não acreditar mais em mim mesma ou minha própria recuperação e de achar que ninguém poderia me ajudar. Aquela fase de sentir pena de si mesmo. Patético, deprimente. Houve um tempo em que eu não queria ser ajudada. O vício me invadia a cada momento de fraqueza, junto com uma onda triste, mas o meu lado sombrio sussurrava que esse era o único modo de viver. Como se o mundo lá fora não existisse. Como se eu não estivesse pronta para encará-lo, mesmo que eu sempre tivesse estado. Eu vivi isso.
Mas hoje é diferente. Eu vi o futuro. Eu olhei o horizonte. Descobri quem eu era. Decidi quem eu quero ser. A tinta da caneta terminou no meio e o que seria mais uma das infinitas vírgulas acabou se tornando um ponto. Um ponto final. E, pensando bem, relendo a história, um ponto final cabia ali. Cabia perfeitamente.
Se continuasse a escrever, possivelmente as letras escorregariam para fora das linhas. O meu câncer aumentaria. Cresceria de tal forma que destruiria a fonte de onde nasceu. Meu coração corre riscos. Talvez ele nunca voltasse a funcionar. Talvez não batesse como agora.
Sobrariam apenas meus olhos vermelhos e aquela sensação de que eu poderia fazer qualquer coisa, só para ter contato novamente com o vício. O mais importante seria me manter viciada. Mas não há nenhum grupo para me ajudar. Não estou viciada em nenhum desses entorpecentes, bebidas, cigarros. Tenho horror a tudo isso. Meu vício não é proibido por lei e os olhos vermelhos são de lágrimas que escorreram por muito tempo. Nada mais. Mas chega.
Chega. Eu, hoje, me agarrei ao meu horizonte. Ao meu futuro.
Abasteci o carro que irá me curar. Tracei o caminho de tinta permanente em um mapa rasurado e um pouco amassado. Pus-me na estrada.
Embora queira abandonar o vício, admito que ainda tem uma parte de mim (parte essa que será exterminada nos próximos cinco dias) que acha que pode ser surpreendida a qualquer momento. Que lindo seria o vício maldoso se tornar um suspiro calmante. Inesperado. Ops, palavra errada! Improvável (dizem que nunca devo falar em impossível).
Sendo assim, só me resta seguir com o plano dos cinco passos. Hoje, dia 01/09/2011, é o passo número um. E eu vou fazer esse plano funcionar.


Estou a 100km/h. Agora 140. Passo para 160. Me aproximo dos 200.
Aviso aos passageiros: Eu não pretendo parar.





sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Darkside

Algumas vezes eu gosto de fingir que estou sozinha, como se todo o resto do mundo sumisse em um meteoro gigante. Não que eu não fosse sentir falta daqueles que me são queridos. Hoje em dia, admito que já não são muitos, mas sentiria. Embora eu tenha reduzido o número de pessoas que realmente importam aos dedos de minhas mãos, eu sentiria falta dessa minoria. Mas não há a mínima possibilidade de negar o quão tentadora é a ideia de ter o planeta inteiro como uma zona de reflexão, onde ninguém poderia ousar assassinar o meu pensamento. E eu tenho plena consciência de que minhas palavras podem, por vezes, soar esquisitas - nem todo mundo diz o que eu digo. A vida, quem sabe, seria bem mais fácil se fosse eu, de fato, meu único objeto de distração. Um mundo calmo e silencioso, eu teria, e todo o barulho de passos seria ditado por meu bel prazer.
Assumo, sou meio mórbida e acho que meu cérebro tem uma simpatia deturpada com as dores. A solidão - sob uma óptica levemente estrábica - pode ser algo bom, afinal. Masoquismo? Tanto faz. Chame como quiser. Vá em frente e rotule a minha seção de auto-conhecimento. Mas não há jeito de me fazer negar. Simplesmente não consigo. Ter uma vida normal ou meramente autêntica, meu desejo. Já me agradaria só a simples condição de não ter a necessidade de sorrir para fotografias (só porque todos fazem isso) ou ter que dizer coisas que não sinto (só porque todos fazem isso 2). Acho babaquice. Meu mundo se marcaria por queda de máscaras - bem vindo ao que há por baixo da minha pele.
Mas, estranhamente, eu tenho sentido a necessidade de me ligar a alguém. Leia-se, um sujeito indeterminado. Apesar de ser uma pessoa calorosa, sempre me foi difícil entender a relação homem/mulher e porque eles precisam tanto uns dos outros. Às vezes esses laços parecem tão frágeis, não parecem? Como boa aquariana que sou, sempre vi nos amigos o cimento para tapar os buracos deixados por uma carência existencial ou afetiva. E assim a vida vai seguindo.
Nunca soube ao certo a razão de o corpo arrepiar ou o suspiro trair a fala, entrecortando-a. Somos seres racionais, o que, segundo o meu cérebro, quer dizer que essas coisas não deveriam acontecer. É patético, então, que eu sinta falta do calor que eu julgo inútil. Buscando o afago que insisto em maldizer. E o mais estranho nisso tudo é que não consigo ligar essa minha vontade irracional a um substantivo próprio que me aponte alguém. Minha mente, de repente, só encontrou verbos.
Eu sempre achei ruim a dor em ter tudo isso. Era agonizante viver entre o bem e o mau, oscilando ambos em questão de segundos. E agora, aqui estou eu: Vazia e submetida a uma dor infinitamente mais cruel. Chama-se a dor do nada. Não sinto absolutamente nada. Estou anestesiada de tal forma que nada nem ninguém me atinge, fazendo meu corpo se contradizer, tremendo e sussurrando palavras desconexas. E, apesar dos momentos em que busco a solidão, hoje o que eu preciso é somente aquela dor novamente. A dor. E não importa quem a causa, de onde vem. Sua fonte não faria diferença - eu parei de diferenciá-la há alguns meses. Só preciso da dor. Esse é o meu coração falando. O masoquista.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A cena final



Respirar. Sentir o coração palpitar. Palpita sob a hipótese de futuros que talvez (muito provavelmente) não correspondam, de fato, ao um futuro. Passado do futuro, futuro do passado - isso é o mesmo que presente do presente? Se formos acreditar em John Lennon, só isso existe. Saber que dar a mão é diferente de estar seguro e uma alma acorrentada pode simbolizar, ao mesmo tempo, um coração cansado de carregar o peso das correntes.
Até aonde caminhar, então? O que dizia aquela placa? Onde há retorno? A luz do semáforo quebrou no amarelo. O céu é azul intenso, tal qual a chuva que cai. Aquele bolo, o meu favorito, é doce e enjoado. Mas eu amo a calda amarga. A cobertura azeda.
Então é isso? Eis aqui exposto o patamar de minha auto-destruição? Estranho - eu suspeito alto demais. Gritei, mas ninguém ouviu meu grito ecoar - o bater dos dentes o encerrou na boca. Diz o roteiro que a cena final é essa. Aqui acaba o filme e Steven Spielberg teve que me desculpar, mas eu pedi para deixar as luzes do estúdio acesas - eu ainda queria repassar as ultimas falas, pintar aquele restinho de cenário. Eu quis trabalhar até mais tarde - eu sei, eu não precisava, mas eu quis. E fiz.
E lá fora, quando eu olhei pela janela, eu vi a Lua dar palpites na dança das estrelas. Desabafava os contos de uma jornada noturna.E o Sol ouviu atento, de longe, emprestando a luz que a fazia brilhar. Eles se casavam como um espetáculo perfeito e natural. Interdependentes. Mas a Lua sabia, assim como o Sol, que o céu seria pequeno demais para caber os dois ao mesmo tempo. Não era possível.
E assim seguiu. O Sol fez a Lua brilhar e ela se escondeu atrás dele sempre que quis se sentir segura. E essa foi a maior prova de amor que o mundo já presenciou. A cena final.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Meu quase-amor, te vi partir




"Então eu nunca mais vou ficar com ninguém, só por causa disso?"
"Não, é só que os mais legais são assim. Mas pessoas como ele, por exemplo, seriam ideais."
"Mas ele não serve para mim."
"Eu sei, ele é otário."
"Não fala assim, não é isso..."

(risadas)

Não, ele não é otário. Os otários somos eu e você. Eu porque deixei que ele fosse embora e acreditei em você. E você.. Bom, acho que não preciso começar a listar as razões... Preciso?
Francamente, eu me sinto uma idiota. Acho que vivo reclamando da vida e tive a oportunidade de ter uma pessoa completamente diferente de todas as outras. Ele era, de fato, uma exceção.
Uma exceção linda. Que escrevia poemas. Que tocava gaita (convenhamos: incomum). Que amava ficar horas no telefone comigo. Que entendia a minha linguagem do "vou mimir". Que adorava conversar com os meus pais. Que não curtia bebidas&cigarros. Que não precisava ficar dando carteiradas por aí ou agindo como um imaturo só para dizer que é maior de idade.
Ele não reclamava dos meus bracinhos e nem dizia que eu precisava pintar o cabelo.
Ele olhava para mim e sorria, como se eu fosse a coisa mais perfeita que poderia existir. Ele me falava sobre seus sentimentos e tentava me fazer falar sobre os meus. Ele me entendeu quando eu contei tudo que poderia sobre mim, todas as coisas que o fariam não me amar.
Ele sempre foi estupidamente perfeito.
Mas eu fiz questão de ressaltar o que eu não gostava nele. Transformei suas qualidades em defeitos e reclamei. Vai ver é só para isso que eu sirvo: Reclamar e estar insatisfeita. Prazer, essa sou eu.
Ele não merecia sofrer tudo que eu passei. Ele era bom demais para mim. Ele não servia para mim, mas não por ser "otário". Isso ele não é. Ele não servia para mim porque me amava. Me amava e eu não estava preparada para ser amada daquele jeito, do jeito que eu amo.
Ele me ofereceu o mundo e isso me assustou. Eu estava acostumada com aquele amor bandido (momento brega). Eu estava acostumada com imaginar as coisas que alguém dizia ao invés de ouvi-las saindo da boca de alguém.
Ele tentou me fazer por para fora a parte mais linda de mim. Mas lá estava eu com medo. E eu me assustei quando ele disse que queria me fazer feliz. E eu me assustei quando ele me disse que não importava mais nada - estávamos juntos agora. Eu me assustei com a possibilidade de alguém ainda amar o caco que eu havia me tornado. Ele me enxergou quando as lágrimas tornavam a minha visão turva e não me deixavam enxergar mais nada. Ele se apaixonou por mim. Isso me assustou.
Eu vi aquela pureza. Eu vi e mensurei todo o amor que ele poderia me oferecer. Me senti pequena - eu não sabia se poderia corresponder a tudo aquilo. Meu coração custava a dar aquelas batidinhas mais aceleradas e ele, certamente, merecia o friozinho na barriga. Ele me queria por completo, mas metade de mim é medo e essa metade não se entrega. Nunca. Não mais.
E eu não quis me deixar apaixonar. Não. Eu sabia o que poderia acontecer e eu quis evitar isso. Ele era tão maravilhoso que eu me sentiria a pior pessoa do mundo se o machucasse. E eu sabia: Isso iria acontecer. Logo. Ele não merecia isso. Nunca mereceu.
O meu coração é um pouquinho dele também. E essa parte que ele domina bate com saudade. Eu sinto a falta. E ele foi a única pessoa que me fez, de fato, virar para o lado. Ele é especial para mim. Muito. Mas no fundo, eu sei que não sirvo para ele. Ele realmente merece coisa melhor que eu. E eu mereço coisa melhor que você.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

15/08/????

Acho que é um pouco de ironia hoje ser o dia dos solteiros. E ela sabe que ele pensa coisas como: ela me sufoca, ela é ciumenta, ele me prende, ela consegue brigar por tudo. Ela sabe que ele pensa "Eu não quero ir lá", "Não estou afim de vê-la hoje" ou "Não farei o que ela quer". Ele pensa muitas coisas sobre ela, desde as piores até as melhores. E ela sabe que pela cabeça dele também passam coisas como o quanto ela fica linda com aquela blusa caída nos ombros e uma jeans justa. Ou como quanto ele gosta quando ela faz aquela maquiagem leve que ressalta os olhos sem parecer vulgar. Que perfume bom. Que carinho gostoso. As vezes ele até olha para ela e pensa que encontrou o amor. Como é bom estar com ela assim, sem ter hora para levantar só porque o colo é confortável. Ela sabe também que apesar de nunca ter dito com todas as letras que ele não poderia sair com os amigos ou simplesmente trocar a senha do facebook, orkut ou o que for sem avisar, e apesar de ele saber também que não deixaria ela falar ou fazer nada em relação a isso, para ele faz falta sair com os amigos. Faz falta ir para a night sem ter que dar satisfações e poder ficar com várias. Faz falta aquela pegada diferente, bocas, gostos e sabores, corpos e assuntos diferentes. Ela sabe de tudo isso. Não sabe?

Não sabe???

Provavelmente ela deve saber, ou pelo menos pensar nessas coisas. Mas só porque toda menina já pensou nisso quando estava com alguém de quem gostava. Ela deve achar que ele a ama acima de todos os limites e deve acreditar que são eternos. E todo mundo sabe que apesar das coisas que ele deseja na ausência dela, ele sente uma falta doida. Ele adora os dengos, o jeitinho de rir, as brincadeiras que são só dos dois, a massagem dos dedinhos. A mania de falar besteira, o jeito de pedir desculpas, a forma como ela é autoritária e o deixa sempre achar que é o certo. Ele ama poder conversar com ela e acha isso divertido - ele ama o jeito dela e sabe que pode contar com ela sempre. Sim, ele a ama e ela é a menina mais ideal do mundo. Como ele pode pensar tanta coisa assim de uma única pessoa? Sem dúvida, é muita informação. Ele sabe o que pensa e ela deve saber também, só para poupá-lo de dizer palavras românticas e carinhosas. As palavras que ele nem percebe quando ela diz - ele nem presta atenção. O amor que habita o coração dela não tem limites e é intenso. Ela também não gosta de muitas coisas nele. Ele a irrita. Muito. Mas tudo isso some fácil, fácil.
Com o tempo que eles já tem, ela aprendeu a lidar com ele e vice versa. Com o tempo ela aprendeu tudo que o faz bem ou o irrita e ele já sabe até que ela odeia os próprios braços gordinhos. Mas aqueles outros pensamentos não saíram da cabeça dele e muitas vezes ela o irrita sem nem ter a intenção. Ele sai com frequência, esquece dela, não se lembra de algo que lhe pediu. As vezes ele vai esquecendo. Simplesmente esquecendo. E ela? E a menina? Ela começou a chorar, ficar triste. Ela nunca foi disso. Mas ela acha que ele não a ama. Mesmo que não seja isso que esteja acontecendo... Mesmo que ele tenha "apenas esquecido". Será que ele estava realmente apenas esquecendo? Será que ele ainda para para pensar nela como antes? Será que ele ainda a olha e vê brilho em seus olhos? Eles são felizes? Vale a pena? Ele pensa em como ela se esforça mais que tudo para deixá-lo feliz? Deveria, realmente deveria.
Depois de tudo que eles viveram, ele realmente deveria. E ela? Ela se sentiu lesada, deixada de lado. Com os mesmos pensamentos tristes, ela se sente sem razão como um fracasso. Ela tem um medo constante de perdê-lo. Ele não concorda que ela é mais importante que a curtição? Uma vida de saídas com os amigos no meio da semana pode ser maravilhosa se você tiver os amigos certos. Mas pode ser massacrante se você chegar em casa e tiver o(a) companheiro(a) errado(a).
Se ele não concordar que ela é mais importante que tudo isso, a menina já tirou suas próprias conclusões e se feriu demais. Se feriu e aprendeu a se cuidar. Ele está preparado para perdê-la? Se estiver... TCHIBUMM! Perdeu! E agora? E agora ele que se prepare para uma vida carregada de baladas e álcool, com corpos diferentes, bocas diferentes, gostos diferentes. Ele vai encontrar outras mulheres. E ela encontrará outros homens. A diferença é que as mulheres que ele encontrará poderão ter uma coxa durinha, quem sabe uma barriga cheia de gomos, um cabelo loiríssimo e natural e usem lingirie francesa. Mas tem uma coisa que ela tem e as outras não têm: assunto. E ele que se prepare para essa vida. Será agitada, será exatamente do jeito que ele queria. Mas ele que se prepare também para chegar em casa e se deparar com o vazio ou com alguém que não é ela. Alguém que não sabe lidar com aquele mau humor matinal que ele tem. Ele estará a noite sozinho, sem ninguém para abraçar, contar sobre como foi o seu dia ou o engarrafamento infernal que teve de enfrentar. Sem ninguém para dizer eu te amo (e realmente sentir isso) e não há nada mais triste que essa situação.
E a menina? Pode parecer clichê, mas ela cresceu e já não é mais dele. Ela não o entendeu. Até que um dia eles dois se encontram e ele vê aquela mulher que um dia foi dele. E todos os pensamentos voltam. Aqueles pensamentos que já não vinham em sua mente há tanto tempo. Eu te amo, não vá embora. Ele quer gritar. Tenta beijá-la. Fica desconfortável ao falar com ela. Mas ela apenas sorri, divertida. Ela dá um beijo no rosto, cumprimenta os amigos dele com um oi igualmente divertido e vai embora. E ele ainda sabe o que pensa. E ela deve saber também. Não sabe?

Não sabe???

No fundo, é só isso. É a lei natural da vida.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Leve

Lá estava eu. Perdida entre as notas musicais, com a roupa presa no gancho da Clave de Sol. Completamente perdida entre o dó-ré-mi de minha vida. E quanto mais eu me perdia em pensamentos, mais pensava em tudo que perdi. Esperei calmamente pela dor. Pus a mesa e acendi as velas esperando a companhia do agonizante aperto no peito. Mas não veio.
Eu só pude aproveitar por dois segundos aquela singela sensação de vazio e uma mínima pontada de saudade.
Mas que seja: Algumas coisas simplesmente somem dos meus olhos e escapam pelos espaços entre os meus dedos. E não, não há nada que se possa fazer a respeito.
Logo em seguida, no instante que batia o terceiro segundo... AH! Aquele sentimento de que tudo estava certo. Por mais que eu tentasse complicar, tudo estava total e completamente descomplicado.
Foi exatamente desse jeito que meu coração vermelho sangue, enfim, deu um leve suspiro. E sorriu.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

We'll never say bye




Hoje, diferentemente dos outros dias em que eu venho falar sobre amor ou sobre minhas crises existenciais patéticas, eu venho escrever sobre algo triste e muito sério. Algo que todo mundo precisa encarar em algum momento e eu não posso dizer que fico satisfeita em escrever esse assunto. Confesso que estou mais confortável quando trato disso aqui como uma válvula de escape do meu coraçãozinho apertado. É verdade. Sou meio boba e criança demais para entender quando as coisas fogem do que eu enxergo. Fogem do que eu quero entender. Algumas situações dos últimos dias, no entanto, praticamente me obrigaram a isso. O que eu posso fazer?
Não vou ser fantasiosa em achar que todos que lerem isso aqui irão concordar comigo em tudo, mas em algo acho que a opinião será unanime: Ninguém está preparado para encarar a morte.
Seja a sua própria (a vida sempre terá sido curta demais) ou a de alguém que você goste (nesse caso, ela terá sido mais curta ainda). Como bem diz aquela música de Legião (ADORO!): "É tão estranho, os bons morrem jovens...". As vezes sentimos como se algumas pessoas tivessem sido tiradas de nós de um jeito tão "de repente" que custamos a acreditar.
A morte é mesmo uma piada, né? Quem ela pensa que é para vir chegando assim, achando que pode resolver sozinha tirar A ou B de nossas vidas, só porque é voluntariosa? Não pode, não senhor. E aí choramos rios e rios, tentamos compreender e colocamos a culpa em alguém ou em algo, simplesmente porque seria reduzir demais a importância que aquela pessoa teve à simples palavra fatalidade. Substantivo feminino, dez letras, 5 sílabas, paroxítona e nada mais do que isso. No dicionário, se eu procurar por ela, não encontrarei como significado o nome das pessoas que perdi.
Então é assim? É para isso que fomos criados? Para conhecermos pessoas, nos apegarmos a elas e depois simplesmente vê-las sendo enterradas como um saco de adubo? Dois anos e só o que restarão serão um esqueleto e puro adubo. O coração quente já vai estar muito longe. A alma já vai ter ido para o seu destino. E nós?! Nós continuaremos chorando e levando flores para aquele esqueleto com adubo, orando para que algum Deus cuide de quem se foi.
E pronto. Voltaremos para nossas casas e coisas nos farão lembrar de quem foram aquelas pessoas e de como é triste flexionar o verbo da existência no passado. Essas coisas acontecem. É, acontecem sim. Mas só por isso eu devo me conformar? Voltamos a estaca das "fatalidades"?
Não é possível, deve ter algo maior, melhor, que me explique qual o próximo passo. Que denuncie onde está a câmera escondida e se as pessoas já podem começar a dar risada e apontar para mim: Bobona, caiu na pegadinha! Nunca desejei tanto ter sido feita de boba. Ao menos eu saberia que a morte não teria batido aqui por perto nesses últimos tempos.
Não há muito mais o que dizer. Construímos sonhos e expectativas em cima das pessoas acreditando que elas nos acompanharão até o final de nossos projetos. Que nos verão recuperar os primeiros lugares. Que encherão os olhos de lágrimas por nos ver realizados naquilo que sonhamos. Achamos que elas nos acompanharão tempo suficiente para sabermos que fomos motivo de orgulho em suas vidas.
Mas a vida tem um relógio próprio e cada dia a mais é um a menos. E aquelas pessoas que nós achávamos que eram mais fortes do que qualquer coisa, aquelas que nós acreditamos que poderiam fazer qualquer coisa, vão embora por uma fatalidade (sim, tratar o assunto por esse nome me tirou do sério.). É difícil de aceitar. É muito. Só sei que um dia acabarei causando essa dor, também, a outras pessoas que gosto e acho que essa é a única coisa capaz de me fazer sentir pior do que ao saber que perdi alguém. No fundo, somos egoístas, mesquinhos e até para morrer somos crueis.
Como é dizer adeus para pessoas que você nunca se imaginou sem? Eu não sei. Nunca disse adeus. Nunca me disseram adeus. Nunca disseram nada. Eles simplesmente foram embora...

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Muito mais espuma que leite




A maioria dos líquidos é comercializada em litros, exceto o leite. Nele se forma uma camada de espuma que o torna aparentemente mais volumoso, adulterando sua medição e emitindo um valor falso, se feita em litros. Embora não aparente, muito daquele "1 litro de leite" é apenas espuma. Espuma. Espuma sem gosto, recheada com vento e que some fácil, fácil. Por isso é preciso medir o leite em quilos - alterar a medida (o ponto de vista) é a única coisa capaz de nos fazer enxergar o quanto aquilo, de fato, vale ou deixa de valer.
Se quer saber, com as pessoas não é muito diferente. Existem as pessoas-leite e as pessoas-espuma. e muitas vezes não percebemos isso por estarmos olhando com os olhos de litros. Muitas pessoas aparentam ser muito (e muito mais do que, de fato, são) e nos enganam com aquela camada grossa de espuma que se sobrepõe a uma personalidade líquida rala (se é que me entende).
As pessoas-espuma tentam nos enganar. O chato é que às vezes elas conseguem isso por muito tempo. Eu conheço muita gente assim. Essas pessoas se acham mais espertas que nós e acreditam que nos enganarão para sempre. Acreditam que nunca irão nos perder. Nem nós nem a ingenuidade que temos de sempre acreditar nelas. Ledo engano. Conheci uma pessoa-espuma que me perdeu. Ele até que era espertinho, eu devo admitir, mas agia de um jeito que me deixava intrigada (acho que essa é a palavra certa). É aquilo que eu sempre digo: Todo excesso de confiança culmina em uma queda feia. Beeem f-e-i-a. Ele fez de tudo para me perder. Consciente ou inconscientemente (inconsciente mente), quem sabe? Não sei. Não me interessa. Eu só sei que foram incontáveis as vezes em que eu lavei o rosto até machucar e tomei um banho mega caprichado de uma hora, prometendo que ele nunca mais teria nenhum tipo de contato comigo. Eu jurava que não teria mais paciência quando ele me olhasse com aquela cara banal de menino bonzinho de "me espera só mais um pouquinho", tentando me congelar no tempo enquanto ele ia para as ruas só para conferir, pela centésima vez, se não havia mesmo ninguém melhor do que eu por aí. Eu ensaiei na frente do espelho milhões de jeitos de dizer adeus, mas eu simplesmente não sabia apertar o botão vermelhinho e recusar a chamada. Sabe o que é? Aquela espuma parecia tanto com leite...
Até que eu descobri qual era o meu problema. Eu sempre me interessei pelo lado proibido da história. O insensato sempre soou muito interessante aos meus impulsos. Impensado, incoerente... Irracional. Por isso, quanto mais eu tentava fugir, para mais perto dele eu corria. Quanto mais eu brigava comigo mesma e lutava para recusar a chamada, mas eu o atendia no primeiro toque. Meus não's sempre vinham acompanhados de sim's. Foi então que eu decidi mudar a minha estratégia: Parei de lutar e deixei isso esvaziar por si só. Entendi que isso nunca mudaria se eu não soubesse lidar com a situação. Caso contrário, passasse o tempo que fosse, sempre existiria uma recaída pedindo por um flashback, seguida de uma noite molhando o travesseiro de choro infantil e chocolate aos montes. Eu o atendo sem sentir remorso. Converso por conversar, por me divertir, não por necessidade. Não preciso recusar a chamada - a voz dele, pensando bem, parece com outras vozes. Ele é divertido quando estamos assim, descompromissados. Ele é divertido quando eu não me importo se ele é ou não. Ele disse que somos amigos (isso é bom? Ta aí um caso a se pensar....). Deixei aquele meu lado nervoso, chorão, histérico e que se apega aos facta praeterita - em outras palavras: fatos passados - de lado. Meus banhos duram quinze minutinhos e nada mais do que isso. Eu lavo meu rosto para esfoliá-lo e impedir a oleosidade e nada mais do que isso. Eu atendo ele para dar risada e me divertir, como se nunca tivesse sido diferente, e nada mais do que isso.
Dei um rumo novo na minha vida e dessa vez não há, em mim, resistência alguma. Soa como se eu estivesse fazendo as coisas darem certo e não precisasse da ajuda de ninguém para isso. Acho que ele finalmente conseguiu me perder. Mas calma, isso não é ruim não... Eu não me sinto mal. Bem que ele dizia que sempre esperou que as coisas ruins tivessem o menor impacto negativo possível em mim. Dessa vez não houve impacto nenhum. Ele me perdeu. Perdeu porque lutou por isso e conseguiu. Mas, ao contrário do que eu sempre esperei, tudo está bem. No fundo, acho que aquilo ali tinha espuma demais para o meu coração que aprendeu a medir só em quilos.

domingo, 31 de julho de 2011

Então fica certo assim...


Éramos duas. Em 2005. Somos uma. 2011.
Não que isso signifique abrir mão de uma individualidade. Isso está mais para concordar que somos um indivíduo de duas partes. Trata-se de complementariedade. Se a palavra não existia, agora existe. Desde uns anos atrás, para sermos mais precisas. Intercessões à parte, escrever é a maior das paixões. Talvez por isso, jornalismo&direito.
Há quem pergunte o por quê de certas escolhas, mas a questão permeia outra pergunta. Por quê determinadas pessoas? De certo, somos sobreviventes de todo um sistema que nos ensinou e, principalmente, ensina ao longo desse ano que a nossa vida deve partir de uma perspectiva limitada, comprimida. Não as nossas. Interceptam-se a partir do momento em que passamos a lidar de maneira diferente com/das 5 alternativas (desfaçadamente nomeadas múltiplas escolhas).
A existência de cada um de nós não se limita ao que todos podem ver, ao que todos declaram todos os dias e nem a felicidades e tristezas explícitas e muito menos a um eu-individual. O pronome possessivo da vez passa por algumas pessoas e passa a ser a primeira pessoa do plural. Dentro disso, estão as chamadasentrelinhas. A essência, o que move e a única coisa que é capaz de nos enviar a um ambiente meta-a/b/c/d/e. Aprendemos que não se trata de egocentrismo ou individualismo excessivo termos orgulho de nós mesmas pelo fato de irmos além quando o assunto é questionarmos aos nossos eus-individuais dentro do nosso eu-coletivo. A questão profissional é uma mera consequência do que escolhemos para aprender. A nossa vontade de mergulhar em meio às, de fato, múltiplas escolhas da vida, tomou dentro do nosso próprio oceano uma dimensão diretamente proporcional à consciência que temos de que não é uma instituição, exclusivamente, que nos fará mais ou menos capazes. Até porque, para nós, o ser capaz tem relação direta com o ser nós mesmas. O que deveria ser normal (na linha do "não faz mais que a obrigação") é hoje uma superexceção.
Pergunta:
- Por que direito?
- Ah, o mercadoaê, né..?
- Pretende seguir que carreira?
- Tão sempre rolando uns concursos públicos aê...
- Hmmmmm...
- Tem que ver aê


Falando de Jornalismo, o preconceito (conceito pré-estabelecido) tem acompanhado parte do nosso eu (leia-se Cat) em diversos momentos:


- Vai fazer direito, né?
- Não.
- Mas dá dinheiroetemtudoavercomvocêesuairmãfez!
- Nem.
- Vai fazer o que?
- Jornalismo.
- São Paulo ou Rio de Janeiro?
- Por aqui mesmo...
- Mas aqui vocênãovaiencontrarempregoeaquinãotemnada!
- Morra.


(momento prontofalei.)


Se depois disso tudo ainda restar alguma dúvida sobre determinadas escolhas, sobre as pessoas ou acerca de o que quer que seja e o mundo nos cobrar respostas mais sérias, tudo que pode ser dito é que o nosso universo não será limitado pelas múltiplas escolhas - e sim pelas escolhas múltiplas.


Catarina Sampaio ( http://www.eu-liricaemmim.blogspot.com );
Isabela Dantas ( http://www.impulsoimpensado.blogspot.com )

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Só um convite para dançar


Chego e naquela festa eu te vejo
As luzem combinam com o teu rosto
Decoram-te em um "composé"perfeito
Faço-te todo ao meu gosto

De longe, meu olhar te disse "sim"
Respondendo a pergunta que nunca me fez
Mas, sabe, eu sou mesmo assim:
Misturo impulso e insensatez

Passo a passo você se aproxima
Tomara que não ouça meu coração
Ele grita, pulsa forte, pulsa alto
Mais alto que toca a canção

Deixo-te pegar-me pela mão
Ir ao meio do salão
Levar-me para dançar

Segure-me firme
É o fim dos vãos encontros
É preciso retomar

O que houve? Diminuíram o som!
Só eu notei, todos continuam a dançar
Você me olha, sorri e eu percebo
Mesclam cores de azuis e me encantam

Meus passos, tão leves
Diferem dos seus que se atrevem
Pedem para aproximar

Elas até tentaram me impedir
Disseram que não és do tipo para confiar
Diverte-se iludindo tantas moças
Fingindo saber o que é amar

Mas agora é tarde, eu lamento
Sua mão pousa em minha cintura
Seu hálito não me deixa mover
Cabeça, coração; tudo se mistura

O vento é a melodia que nos conduz
A luz vem das estrelas
Felizes, elas nos fazem brilhar

Um passo para a direita, dois para a esquerda
Um giro e meio, me guia a tua vontade
Estremeço, teu abraço me faz firme e segura
Mas te olhar tão de perto traduz maldade

Me ouça, preciso falar
Você é, sim, um mero homem
Talvez sequer saiba o meu nome
Mas eu aceito o teu convite para dançar.


quarta-feira, 20 de julho de 2011

Meus herois morreram de overdose

Preciso desabafar: Meu sonho sempre foi fazer Direito. Eu faço aquele tipo "defensora da justiça, dos fracos e dos oprimidos" e sempre me vi como uma voz de uma nova geração, pronta para por fim à sujeira deixada pelo passado. Mas o tempo passou e como bem disse Cazuza: "Meus herois morreram de overdose, meus inimigos estão no poder". Confesso que, às vezes, me sinto grande e capaz de fazer algo. Mas logo em seguida me confronto, comparando-me com a complexidade do sistema - sou pequena e pateticamente impotente.
Eu vejo telejornais transmitirem guerras, corrupções, pessoas mortas e famintas. E as outras pessoas assistem isso enquanto jantam tranquilamente. Algumas, menos insensíveis, ainda murmuram algo - um possível lamento - mas em seguida retornam sua atenção ao garfo e à faca. É esse o poderosíssimo exercito que lutará ao meu lado? Coitada de mim.
"Você é jovem, vai ver por isso é tão revolucionária. Já tive sua idade! É o discurso mais bonito do mundo, mas está fadado ao fracasso. Não adianta querer brigar com o sistema". É o que as pessoas me dizem quando eu começo a falar. Mas não. Eu não vou carregar por toda a vida a sensação de nunca ter lutado. Essa sim é uma perda vergonhosa. A luta, ainda que traga a perda, traz também a honra inquestionável do esforço e da resistência. Eu lutarei, sim, enquanto eu puder respirar. A função do Direito deixou de ser cumprir a lei para punir criminosos (como eu sonhei) e passou a ser manipulá-la em favor deles. Alguém precisa dizer não a tudo isso.
Eu sei que deve haver mais pessoas como eu por aí. Sei que alguém, como eu, lutará por manter essa ideologia. O que entristece é o silêncio de algumas dessas pessoas, que poderiam dar tanto de si e não dão. Ficam caladas e o único grito verdadeiramente alto que escuto é uma voz impiedosa que me manda cumprimentar adequadamente o general.
O mundo já foi palco de incontáveis atrocidades e o bolso dos políticos é um saco sem fundo - tal qual sua falta de caráter. Ética e Moral só existem para compor discursos pomposos de posse e promessas de boa educação são estratégias para ganhar votos. A sujeira não para e já não há espaço debaixo do tapete.
Mas eu não vou desistir. Eu ainda me vejo, sim, como uma advogada. Uma juíza, promotora, quem sabe! Vou estar dedicada ao que para mim é importante, ao que eu acredito, ao meu exercito de poucos, mas bons. Mas é fato: O Brasil precisa é de mais garis.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Amor de adolescente é amor sim!

Alguma vez você pensou que conheceria alguém em que pensaria todos os dias, antes de dormir? Alguém que seria seu primeiro pensamento matinal, invariavelmente, como a extensão de um sonho? Mesmo que sim, a imaginação jamais será completamente fiel ao que isso significa: amar alguém.
E não adianta vir com esse papo de quem não ama ninguém, de quem nunca irá se apaixonar. Tolos auto-suficientes que acham tolice "perder tempo" com quem amam. Desde quando trocar salivas, milhares de germes, com alguém por quem não se sente nada e mal sabe o nome, é mais interessante do que antecipar a felicidade com aquele que pode ser o amor da sua vida? É na juventude que conhecemos aqueles amores que vamos lembrar para sempre. Aqueles amores que deixaremos o tempo apagar para que não precisemos abrir mão da troca de salivas que mencionei. Poucas coisas são tão intensas e verdadeiras como o amor despretensioso de dois jovens e poucas vezes seremos tão burros quanto nos momentos em que abrimos mão disso em prol da fugacidade.
Há uma razão para a grande maioria dos casamentos de hoje em dia não durar muito tempo ou ser regada de mentiras, traições e meras "aparências públicas". Nunca a "terapia de casal" foi tão requisitada e em cima da razão de tudo isso ponho o alicerce de minha teoria: Os seres humanos só amam uma vez na vida. Surpresa: normalmente jovens. Casar-se por paixão e não por amor é tão comum que as pessoas já nem sabem o que é o amor. O amor é chato. O amor traz brigas. O amor é tedioso, mas é compensatório: constitui-se como a única coisa na vida que a torna plena. Abster-se do amor é como anular o oxigênio ou ignorar as batidas do coração. Ele é a única coisa que nos faz termos certeza de que estamos vivos, que nosso coração bate e que não somos fruto da imaginação. O amor nos torna reais, nos materializa e diviniza, somos palpáveis e nele nos eternizamos. É nele, e apenas nele, que se encontra o segredo para o famoso e almejado "valeu a pena".

sábado, 16 de julho de 2011

Aos meus amigos.

Muitas vezes achamos que gritar vai resolver o problema. Falar alto, por pra fora. É verdade: isso tira o nó da garganta. Mas você vai cuspí-lo e o verá sujar o chão. O mesmo chão que você põe seus pés e firma sua força para caminhar. Cuspir um nó não significa literalmente desatá-lo. É preciso calma e paciência - mesmo que essa calma e essa paciência signifiquem, juntas, ter de aguentar aquele nó lá só mais um pouquinho. Ninguém disse que a vida seria fácil ou que problemas eram feitos de água e sabão. A vida é um fardo divino. Um sacrilégio virtuoso. E é fato: é cruel mesmo.
Esse é um dos motivos pelos quais o ser humano busca amigos - uma batalha sempre é mais fácil de vencer com dois braços e um cérebro a mais. O exército extra faz aquela guerra valer, sim, a pena.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Vitórias e Derrotas

A vida não é constituída de vitórias. São as derrotas que permeiam o nosso dia, amargando lágrimas quentes simplesmente para que nos acostumemos com elas e seu sabor de derrota. Não me encarem como pessimista - não sou e em nada me agradaria agir como se fosse. Mas é fato: Se as lágrimas não fossem amargas, o doce do choro contente passaria despercebido.
E, cá entre nós, existe coisa melhor que sentir o corpo inteiro desprender-se e o sorriso vir sem ser chamado? A respiração fica falha e você consegue notar cada veia sendo irrigada por sangue ardente. O coração, então, pulsa. Pulsa satisfeito e, após momento de demasiada inquietação, desmaia em um poço de morfina. O sabor da vitória. Adrenalina e morfina, sim e não, vitórias e derrotas; a escolha entre orgulhar ou calar-se. Não importa qual o antagonismo: O sol nunca brilharia tanto se a noite não fosse feita de escuridão. Mas, ainda ela, a noite, dama e senhora do que é sombrio, tem suas estrelas - milhões de "Sois" que insistem em lembrar a existência da luz.

sábado, 21 de maio de 2011

Por fim, enfim, pus um fim.

Parei para pensar em tudo que já aconteceu. É alguma surpresa dizer que eu me dei conta de que queremos coisas completamente diferentes? Alguém se espanta? Levantem as mãos, deixe-me contar nos dedos. Deveria saber...
Sua face que engana e até a lágrima que chora, dizes ser sua mas no meu peito e na cara escorre. As coisas não podem continuar como estão, chega. Preciso de um rumo diferente, uma nova cabeça, um novo caminho. Estou enjoada dessa vida de mesmice e de telefonemas inesperados quando aquela insônia bate. Cansei de ser parte de uma teia de mentiras, cansei de ser o que eu seria mas não sou. Cansei de ouvir palavras bonitas só até as 4 da tarde ou após as 3 da manhã, declaradas pelo tédio ou pelo álcool embriagando seu timbre. Não nego que é torturante ver como as pessoas mudam - infinitamente pior é lembrar de como elas eram.
Cansei desse peso na consciência. Toda a vida até aqui foi linda. Foi tudo maravilhoso, mas é aquele caco de vidro que me incomoda. Descer de mulher maravilha para amante perfeita nunca esteve nos meus planos.
Às vezes sinto nojo. Ora de você, ora de mim, por aceitar essa realidade, como se qualquer coisa ruim com você ainda fosse melhor que o melhor com qualquer outro. Ilusão. Chega. Mais uma vez eu digo: Chega. Cansei dessa casca me cobrindo inteira e dessa venda que insiste em cobrir meus olhos.
Hoje a noite eu vou me divertir, vou esquecer de tudo e amanhã, quando eu acordar, não vou ter nenhum remorso. Afinal, você não me deve nada... E eu não te devo nada. A gente já se perdeu faz tempo. A diferença é que hoje eu acordei com um mapa nas mãos. Então deixa eu me encontrar.