quarta-feira, 21 de setembro de 2011

"Paz" e o novo acordo semântico.

Nós dançamos. As enormes caixas de som ressoam, no ritmo de alguma dessas músicas pop/alguma nova modinha. Suados e em silêncio, as luzes multicoloridas e piscantes nos envolvem, como uma névoa. Mal conseguimos manter nossos olhos abertos, encarando um ao outro. Eu abaixei a cabeça, que balançava ao sabor da música, e enlacei as mãos atrás de sua nuca. Sinto o contato da sua pele com a minha e me pergunto como deixamos as coisas morrerem desse jeito. Não sinto nada.
A música acaba e logo começa outra, que me parece exatamente igual - elas sempre parecem. Acho graça por não saber o nome de nada que tenha tocado nessa noite. Como se a melodia que a minha vida resolveu tocar fosse parte de uma partitura que eu nunca aprendi a ler. Acho graça. Faz muito tempo que não ouço músicas novas, mesmo. Tem muitas coisas que não faço há muito tempo.
Disse-me qualquer coisa inaudível e foi sentar-se na mesa, num canto escuro. Tomou um gole da cerveja. Então, enquanto você acendia mais um cigarro, me viu, com o canto dos olhos, chegar mais perto. Me agachei até que a minha cabeça estivesse na altura da sua, para que nossos olhos tivessem conexão direta. Inclinei-a só por um segundo, para que meus lábios encontrassem seu ouvido e eu pudesse te perguntar:
- Então, o que a gente faz agora?
- Sei lá – respondeu, segurando aquele cigarro asqueroso, seu novo amiguinho incrível, entre os dentes. – A gente aproveita.
- Por que a gente muda tanto? – mais uma pergunta que eu fiz questão de usar um tom de voz único, só dele.
- Não saberia te dizer. – era um misto de pesar e indiferença, eu senti.
- É mesmo uma pena... – complementei o lamento.
Sentei-me ao seu lado e calei-me, sutilmente. Ele soprou a fumaça no ar e ficou imaginando mil desenhos formados ali. Papo de gente que fuma – eu queria poder entender. Mas isso de cigarro não é pra mim... Olhou para lado e a minha cabeça repousava, dormindo sobre seu ombro, embora meus pensamentos viajassem por aí. Paz, então, em nós dois. Finalmente, paz. Pena que só na superfície. Na beirinha da praia de um oceano agitado. 

Um comentário:

  1. Bela, a cada dia me encanto mais com voce!!!! sou sua fã, ja disse? lari

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