quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

a sigh is just a sigh



A sensação de vazio é, muitas vezes, a pior sensação que pode existir. É a junção de amor e indiferença. Se importar, mas não ligar, não ligar e, ainda assim, amar. Tem dias que não dá pra você colocar um sorriso na cara, vestir aquela roupa que cai bem, jogar meio quilo de blush no rosto e sair por aí, se sentindo linda, dando bom dia às pessoas. Tem dias que não dá pra fazer isso, porque você só pensa na palavra lixo. Tudo é lixo. Um quebra cabeça sem uma peça se torna algo inutilizável e é assim que eu me sinto. Eu não sou a mesma desde que você saiu daqui. Não é que a vida tenha sido injusta comigo, eu sempre me julguei uma pessoa abençoada. De tudo que eu vivi, todos os desafios que enfrentei e riscos que corri, eu estou aqui, no final das contas. Não posso reclamar da vida, mas me falta algo. É o meu egoísmo falando. Sei que escrever não significa nada e talvez entrar no velho campo de batalha seja mera perda de tempo. Sei que o que quer que faça ou fale não será suficiente para te trazer de volta à minha vida, mas se isso me convencesse de que fiz tudo que pude, eu faria. Erraria mais mil vezes para ver que sou humana. Eu te machuquei e fiz exatamente o contrário de tudo que eu queria fazer. E quando eu me calo, e para não chorar. Porque nós estamos sorrindo, mas quase desabando em lágrimas. E você já não quer falar comigo e isso faz todo o sentido do mundo, mas ainda assim eu faço tudo por esse amor. Até mesmo uma causa perdida. Porque, como diria Nicholas Sparks, "acima de tudo, aprendi que é possível que duas pessoas se apaixonem outra vez, mesmo quando existe entre elas uma vida inteira de decepções". E é tão ruim saber que eu vou precisar fingir que eu não ligo. Porque a verdade é que eu ligo muito pra você e, logo, não ligo para mais ninguém. Quero muito que você seja feliz, com toda a intensidade e bons sentimentos. De longe, fico te desejando tudo e Deus sabe que é real. Em outra vida, quem sabe, você é meu para sempre. E, por enquanto, aqui tá tudo certo sem ter nada resolvido. E você sabe que a gente não merece uma chance de futuro. Uma chance de perdão. Uma chance de recomeço e oportunidade de enxergar a vida novamente. Tudo é um olhar. Você sabe disso e eu sei também. Tá na cara, qualquer um pode dizer isso. Mas, ainda assim, me explica, então, porque eu morro de vontade disso? Me explica o motivo de eu sentir que bem lá no fundo é isso que você iria querer, se achasse que poderia. A razão realmente justifica? Por quê a gente não pode simplesmente jogar isso tudo pra cima e assinar um termo em que o nosso único compromisso seja ser feliz? Olha para mim e enxerga quem eu sou. Vê o que há por trás dos meus olhos e entende de uma vez por todas. Eu te amo e é essa a razão pela qual eu peço pra você acreditar quando eu digo que eu estou aqui. Eu não fui a lugar nenhum, nem vou. Só tenta enxergar isso e o tempo fará o resto. E, quem sabe, algo complete essa sensação de vazio que eu falei lá em cima.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A testemunha ocular

Sem dúvidas, hoje é o dia que eu mais tenho vontade de escrever. Não sei bem o motivo disso, mas, sempre que o meu coração está triste, é isso que eu faço. Eu corro para ligar o computador e escrever textos, mesmo que os deixe salvos eternamente nessa pasta chamada "rascunhos". Porque no fundo é isso que eles são, certo? Rascunhos, meros rascunhos de uma vida que eu vivo dia após dia. Não sei porque imagino que isso interessaria alguém, talvez seja só a minha carência e a minha necessidade de sentir amada, como muita gente já jogou na minha cara. O fato é que todo mundo precisa de alguém. Não apenas porque amar alguém nos exige isso, mas porque existem mais de seis bilhões de vidas sendo vividas nesse exato momento e nós não queremos que a nossa vá junto com as outras, assim, clandestina, sem notar. Precisamos de uma testemunha, para quem igualmente testemunharemos ter assistido a vida passar, o valer a pena daquele tum tum de coração e a justificativa do peito inflar e desinflar sob a única resposta que o faria:: manter-se vivo. E a função do resto do mundo é dificultar isso, exceto uma pessoa, uma única pessoa, que irá te trazer o bem e irá assinar ao fim do julgamento, afirmando que viu tudo acontecer, ela prestou atenção de perto. É a testemunha ocular mais importante do processo. E nenhum deles poderá negar, ou irá jamais entender, porque unicamente aquela pessoa viu.
Antes de encontrar essa pessoa, entretanto, nos encontramos com várias outras. E cada uma dessas outras vai cavar seu túmulo e desejar que você caia nele. E você vai cair e vai levantar depois. Quantos túmulos precisam ser cavados até que você cave o seu próprio? Quantas vidas você tem que viver até terminar a sua? Quantos romances se desfazarão e quantos corações serão deixados jogados na esquina, como se lixo fossem? Quanto tempo leva até que alguém finalmente entre na sua vida com o único propósito de estar ali?
Eu achei que tudo isso era certo, no final. Eu achei que você era a testemunha ocular. Eu achei que o mundo seria justificado pela sua presença no meu. Eu achei que estaríamos juntos, de algum modo, e que promessas seriam mantidas, a qualquer custo. E eu admito que errei, pedir desculpas nunca foi um sacrifício no meu vocabulário. E eu pedi, mais vezes do que deveria. Mas pedi. Pedi não apenas porque eu estava errada, mas também porque queria que tudo ficasse bem. Eu queria que o mundo soprasse em nossa direção e eu acreditei que era possível. Eu queria cores.
E eu tive cores. Meu corpo inteiro se coloriu, assim como os meus olhos. As cores eram vibrantes e contrastavam com a minha palidez. E elas doem de olhar, então tive que vestir mangas cumpridas e passar pó no rosto, para que a sua cor parecesse tão pálida quanto de costume. Mas, por baixo das roupas e da maquiagem, quizá por baixo da pele, por dentro do coração, as marcas das cores ainda eram vibrantes, para me fazer lembrar não apenas que você estava indo embora, mas, também, que aquilo jamais teria volta. 
Já não se tratava mais do meu erro ou do que você pudesse achar que eu tinha feito. Já não se tratava mais de uma ligação com o que quer que pudesse ter acontecido, mas nunca aconteceu. Era muito mais que isso. Era uma questão de olhar em olhos secos que só choram sangue. Olhos que perderam o encanto e não o recuperariam jamais. Olhos que pararam de brilhar. Olhos que desconfiam do mundo por uma única razão: é isso que o mundo merece. Desconfiança. E você escolheu as palavras mais duras que encontrou para me dizer isso. E você amaldiçoou cada parte do meu corpo, como se fosse uma coisa velha que nós jogamos fora por não prestar para nada, apenas nos dá trabalho de carregar.
E um dia, eventualmente, você vai se dar conta de que eu não sou essa coisa velha. Vai perceber que o que nos uniu está aí, como está aqui. E vai querer voltar para o abraço dos braços machucados. E vai desejar que aqueles dias felizes retornem. Porque esse amor é o maior do mundo. E mesmo que ele machuque, de vez em quando, o coração sabe dizer que não quer que ele vá embora. E ele não vai.

sábado, 24 de novembro de 2012

outcast



O mundo é cheio de hipócritas e de gente que diz querer estar com você, mas no fundo não quer. O mundo é assim, irmão. Amigos nem sempre são amigos e pessoas não se importam se você chorou uma noite inteira ou se acordou no melhor humor do mundo. Tanto faz. As pessoas não vão ligar para o fato de você estar bem ou não, o humor delas não se atrela a isso. Porque aqui vai a verdade: elas não querem te ver feliz. Elas querem a sua felicidade, porque esse mundo é um mata-mata, onde um briga por ter a felicidade do outro, cismado de que aquilo lhe será igualmente bom. E aqui vai outra verdade: elas não se importam com as suas tristezas. Não de verdade. Elas só parecem se importar, porque isso soa mais correto ao mundo de aparências. Tem gente que vive disso, né? Raimundo Correa denunciou, já há tempos: "Quanta gente talvez existe, cuja ventura única consiste em parecer aos outros venturosa?". E você percebe isso quando cresce e encara o mundo.
Crescer dói. Amadurecer machuca, porque isso significa abandonar a ideia de que você tem uma dúzia de pessoas que cortariam o próprio braço para te salvar ou quebrariam a cara da primeira infeliz que te fizesse mal. Significa abandonar a ideia de que você é amado por um grupo relativamente grande de pessoas. Surpresa, irmão, você não é. Nenhum de nós é. E aos poucos você vai quebrar a cara e se dar conta de que aquelas pessoas por quem você faria praticamente tudo, por quem você levantaria a voz ao mundo, de repente, não fariam o mesmo por você.
Você ouve mentiras, seleciona em quem acreditar e ouve mais mentiras e volta a selecionar, sempre torcendo por fazer a escolha correta, porque não é justo machucar um coração com duas espadas. Uma só já é covardia suficiente.
Por saber de tudo isso, meu coração fechou um ciclo de pessoas cada vez menor. Desculpem, mas já não chamo de amigas essas pessoas. As mil mentiras me tornaram mais fria e eu não consigo mais olhar para essa situação do mesmo jeito. Algo em mim se partiu, quem sabe um pedaço de pano se rasgando e botões pulando fora, quem sabe apenas o olhar desviante mirando o chão, quem sabe, eu diria, quem sabe.
Eu perdoo os erros. Eu sei perdoar, sem guardar rancor, as atitudes. Mas eu não perdoo as mentiras... Porque cada mínima mentira faz parecerem ainda mais mentirosas as grandes verdades.
E pessoas que contam mentiras são as próprias mentiras personificadas. Quem são as pessoas que caminham ao seu lado? Elas são reais ou mera ilusão? Sua mão atravessaria os corpos, tão vazios de alma e coração? São mentiras, assim como o sangue que corre em suas veias ou o rubor que as ilumina. Mentiras, milhões de mentiras que me afastaram daquelas milhões de pessoas.
Eu me apeguei, então, ao grupo dos 3 ou 4 sobre os quais eu não me enganei. Aqueles que traduzem o sentimento como eu o sinto. Aqueles que eu amo e ainda não ilustram a minha lista de decepções... E, por favor, não o façam. É a minha ultima esperança na bondade genuína das pessoas.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

sem aguar o bom do amor



Você sabe que encontrou um cara que realmente gosta de você quando percebe que ele é capaz de olhar para você e saber exatamente o que você está sentindo. Ele gosta de você. E ele vai se importar com o que você está sentindo, simplesmente porque ele gosta de você. E ele vai se importar com cada palavra que diz olhando para você, porque vai querer saber exatamente a repercussão que aquilo causou no seu coração.
Porque ele gosta de você e você sabe disso. E você também tem sentimentos fortes por ele e o mundo sabe disso. O mundo sabe que você adora aqueles detalhes que ele tem. Ele e mais ninguém. Você está apaixonada, você enlouquece.
O mundo fica diferente e você simplesmente faria qualquer coisa pela pessoa.  Mesmo sabendo que você corre risco de se desapontar em algum momento. Mas ele é humano, não é? Um dia vai desapontar. Se não hoje, amanhã. As pessoas vão te desapontar... Eu sei disso. Eu até que espero isso, mas eu não sei... E se um dia você acordar e perceber que é você a decepção? E se você se der conta de que é você quem está desapontando alguém? Este nem sempre será um problema que eu possa fazer desaparecer.
Nem sempre uma borracha apaga o risquinho no canto do caderno, não quando o risco foi feito de caneta. E o corretivo nunca é discreto o suficiente, não é? Mas se apaixonar pelas qualidades de alguém é fácil. Todo mundo gosta de alguém que seja carinhoso, fiel, amigo, te faça rir e tenha aquele sorriso que você adora. Mas se apaixonar de verdade quer dizer se apaixonar pelos defeitos, pelas cicatrizes, pelas burradas do dia a dia.
Não importa o quão ruim seja a situação ou o quanto aquilo te incomode, apaixone-se pelas coisas ruins, para que elas lhe soem menos piores. Porque você ama alguém. Porque você quer que aquilo funcione. Porque você se importa.
Nesses momentos, eu não sei se teria o direito de pedir para você arrancar a folha e reescrever tudo. Afinal, uma hora as folhas acabam. Talvez o melhor seja deixar aquele tracinho de corretivo ali e simplesmente passar a página, porque ainda há muito o que escrever. Não há tempo de voltar para reler as páginas e ver aquela marca de corretivo.
Mas não demore muito na mesma página. As histórias de amor têm muita coisa para contar e não podem ficar presas em uma página. Nós dois não podemos. E o seu coração perguntou ao meu se eu sabia como tinha sido difícil, para você, ter ameaçado partir. E o meu coração respondeu que sabia o quanto tinha sido difícil te imaginar indo embora. E eu chorei, porque prender o choro, como diria Cazuza, seria aguar o bom do amor.
Não vá... Não me expulse. Não saia de perto de mim. Eu tenho medo de escuro e não há nada que me dê tanta segurança quanto o seu abraço ao redor do meu. Eu e você, porque é assim que tem que ser. Juntos.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

i love you.



Desde a minha primeira conversa sobre relacionamentos com as outras pessoas, me ensinaram uma regra bastante clara: nunca vá com muita sede ao pote. Leve as coisas com calma e naturalidade, dê tempo ao tempo e nunca, absolutamente nunca, fale sobre os seus sentimentos sem que você tenha certeza de que eles são mútuos. Em tese, parece bastante simples, não é? Quer dizer, no fundo só se trata de uma autodefesa. Não se magoar, não parecer uma louca e não soar desesperada demais. Três regras básicas.
Desde que eu e você nos conhecemos, no entanto, tudo parece ter caminhado rápido demais. E eu adoro essa velocidade que nos rodeia. Essa intensidade triplicada de cada ato. Um dia, quando contarmos essa história, lembraremos das faíscas e as pessoas dirão que somos sortudos. E somos mesmo.
Sabe, você pode até ser rude comigo. Pode até ser meio grosso e perder a cabeça pelas vezes que eu piso na bola. Pode fazer tudo isso, você está autorizado, desde que me prometa que esse sentimento não vai parar. Desde que me prometa que depois de todos os gritos, nós dois vamos nos abraçar e você vai me pedir para fazer massagem nas suas costas, como quem não quer nada. Por quê é isso que a gente faz, né? A gente implica com as pequenas coisas, simplesmente porque nada pode ser bom demais. E é isso que faz esse sentimento tão perfeito dentro de mim.
Você é muito ciumento e possessivo e isso às vezes (quase sempre) me deixa sem saber como agir ao seu lado (especialmente quando o que eu digo não parece o suficiente). Para onde foi toda aquela imagem de desapego? É, as coisas na prática nem sempre ocorrem como na teoria. No nosso caso, acho que passa longe disso. Desapego é a ultima palavra que vem à minha cabeça quando eu penso em você. Afinal, seria desapego sentir saudades suas dez minutos depois de você ir embora? Seria desapego querer ficar abraçada com você o tempo todo sem dizer mais nada, só repetindo o quanto você é importante pra mim? Isso está mais para apego, grude. E eu amo isso.
Enquanto eu fui crescendo, a vida me ensinou a sempre tentar fazer o melhor das coisas e, você sabe, você tem tido o meu melhor sobre tudo. Você sabe que ao seu lado é exatamente onde eu quero estar.
Eu queria dizer, também, que eu adoro aquele CD de Jorge e Mateus que a gente ouve sempre, mesmo que ele já tenha tocado trezentas vezes. Adoro, também, quando você fala aquelas coisinhas lindas que só você sabe. Amo olhar as nossas fotos trezentas vezes por dia e fuzilar com os olhos todas as meninas do seu facebook. Amo saber que estamos juntos, amo ter certeza de que isso é de verdade. Eu amo, também, e talvez até principalmente, o modo como eu me sinto ao seu lado, desprezando a importância de todas as outras coisas. Nada mais importa, tudo é pequeno, supérfluo. Apenas você me interessa. Apenas você.
Eu não sei como isso aconteceu, o porquê, ou como vai terminar, mas o que eu sei é que eu amo poder dividir o meu dia a dia com você, te contando em mínimos detalhes aqueles detalhes que não têm a mínima importância, só pra sentir que eu estou te contando alguma coisa diferente. Só pra me iludir de que eu não sou tão repetitiva e que eu até tenho algo mais a dizer além do quanto eu gosto de você.
Mas isso é mentira. Mentira, porque a verdade é que, quando estamos juntos, a única coisa que me vem a cabeça é a ideia constante de que alguma força maior te colocou no meu caminho para que eu te amasse desse jeito. Desse jeito assim, do jeito que eu sei amar, meio exagerado, mudando o tom da minha voz, pisando na bola várias vezes, mas sempre com todo o meu coração.
Eu nunca senti isso assim antes. Você, meu amor, é a minha faísca, o meu anti acaso.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

rocking my world.


Alguém, um dia, partiu meu coração. Mas todo mundo sofre por amor ao menos uma vez na vida. Não foi uma dorzinha qualquer, leve, dessas que passam com uma caixa de chocolate. Não. Partiu mesmo. E como qualquer coisa que parte, os pedaços caíram ao chão, como caquinhos de vidro machucando os meus pés me impedindo de caminhar de pé. Eu sangrei por algum tempo. Ah, gravidade, a sua arte é um desastre. Maldito momento em que aqueles pedacinhos de coração foram ao solo.
Encontrei-me com as palavras, dia após dia, para afogar mágoas e ajudar a superar as dores do coração. Mas não se pode ajeitar tudo com palavras, então eu esperei até encontrar uma maneira, me iludindo de que os textos eram suficientes. Nunca foram. Eles eram mero e puro desabafo. E, às vezes, na vida, nós sentimos dor. Todos nós sentimos tristeza e fraqueza. Mas algo nos lembra de que existe um amanhã e, sempre que não formos fortes o suficiente, existe alguém com quem podemos contar. E foi então que você surgiu. Surgiu e foi assim que eu entendi que, na verdade, eu não havia feito nada de errado, exceto confiar em alguém que achei que se importava comigo.
E você veio ao meu lado e juntou aqueles caquinhos de coração, fez um novo. E qualquer pessoa diria que ele nunca foi quebrado. Pareceram inúteis todos os meus esforços para manter todo mundo longe de mim. De repente, tudo que eu queria na minha vida era você do meu lado. Ficar assim, abraçada com você, comentando o quanto essa situação não faz o mínimo sentido, porque não faz mesmo. Houve um tempo em que eu achei que alguns fatores seriam determinantes para que eu escolhesse alguém. O problema, ao que parece, é que eu não escolhi isso. Eu não assinei nada dizendo que era essa a minha vontade, mas, admito, não faria diferente. Não, porque eu não imagino como posso estar melhor do que isso.
E sabe aquela situação que eu te disse que me incomodava? Ainda me incomoda muito. E eu sempre pensei que isso seria o suficiente para eu cair fora, se você não desse um jeito em tudo. Mas, hoje, eu já não tenho tanta certeza. Não pense você que eu passei a aceitar isso numa boa, a deixar rolar solto – o caso é naturalmente diverso. Mas eu aprendi a me concentrar nas coisas que me confortam e a me desligar do resto para dar um passo a frente. Afinal, aqueles que não apreciam a vida, não a merecem. E é isso que a gente está fazendo, não é? Aproveitando a vida. Porque ninguém sabe quanto tempo tem dentro de um minuto e quantos sentimentos existem por cada volta que os ponteiros de um relógio fazem. Ninguém sabe. O amanhã é muito incerto, então eu preciso deixar claro que hoje o que eu sinto é muito forte. Forte o suficiente para eu simplificar toda essa confusão em: Eu quero você e você me quer, não há nada além dessas duas premissas, exceto uma conclusão que diz que devemos estar juntos. Eu quero que você se lembre disso ao fim do dia. Por favor, não se esqueça.
Eu tenho medo de esse sentimento ir embora. Eu tenho medo. Mas você sabe o que dizem, não é? Se você não tem medo, então não quer isso tanto assim. Sábias palavras. O amor dá medo. Mas eu não pretendo te dar adeus. Então, por favor, não faça as malas, não diga adeus. Apenas feche os olhos, me abrace e diga sim.

sábado, 15 de setembro de 2012

vibe mood



Levando em consideração que são quatro e meia da manhã e que isso ainda é uma extensão da minha noite, pós uma festa open bar, qualquer um poderia pensar que eu estou bêbada. O caso, no entanto, é, naturalmente, diverso. É só uma questão de largar as palavras no vento mesmo.
Hoje foi uma noite estranha. Estranha mesmo, porque tudo que eu acreditava que poderia acontecer, aconteceu sim, mas de forma diferente. É estranho quando a gente não sabe como reagir às novas situações. E eu sei que eu pareço sempre estar no controle de tudo, mas isso não é verdade. Eu quase nunca consigo guiar as rédeas dos meus atos. É muito mais como se eles me guiassem e me pusessem em situações que eu nunca pensei antes.
Mas nada é por acaso e pelo menos esse princípio eu vou saber defender. Tudo acontece por uma razão - o sim e o não querem dizer muito mais que três letras e atrás da cortinas existe uma imensidão pronta para ser explorada. Mas, mesmo assim, a gente continua esperando que a vida nos coloque diante de tudo, assim, esfregando a cara na porta, sem que façamos esforços para isso, não é? Mas eu posso entender isso. Afinal, como diz a música: assim caminha a humanidade, com passos de formiga e sem vontade. Quem sabe não é isso que o destino quis dizer?
O anti-acaso, como eu prefiro chamar, ou o destino, como o resto do mundo chama, deve ter percebido que eu tenho a mania de esquecer o pé no acelerador. Eu esqueci que eu estava dirigindo dois carros ao mesmo tempo, embora ocupasse o banco do carona. Esse deve ser o jeito dele, do anti-acaso, de me dizer que eu tenho que levar as coisas com calma e muito tato. É o universo conspirando para me dizer que, se eu não for esperta o bastante, ao fim do dia eu serei a mesma estúpida de antes. De muito antes.
Não sei se o fato de eu ter tido uma semana carregada de provas tem algo a ver com isso, ou se só se trata de fatores externos mesmo, mas a minha cabeça virou um caos. E eu sei que eu quero gritar ao mundo que todos os passageiros estão usando cinto de segurança, mas não estão. Há uma superlotação em um dos carros, pessoas gritando, elas fazem barulho, falam muito alto e até em outras línguas. Não calam a boca. Minha mente passa um turbilhão de ideias e eu continuo repetindo para mim mesma: as coisas são como tem que ser, então não se estresse com nada, porque nada vai mudar por causa disso. Prejudicará apenas a sua pessoa.
E a gente foge dos prejuízos, né?
Coloquei um sorriso na cara e complementei com três doses de energia pura para gastar numa pista de dança.
Por alguma razão, pareceu mentira tudo aquilo. Pareceu mentira a justificativa que eu dei essa noite. Pareceu mentira e talvez até tenha sido, mas quem vai saber? Eu sei? A única coisa que eu sei é que eu confio que mesmo tendo parecido mentira, não era.
E todas as expectativas sobre o que é viver foram embora para dar lugar a uma única certeza: o mundo gira de formas diferentes, mas sempre por uma razão. É só uma questão de adaptar e sintonizar as frequências dos giros dos mundos. É uma questão de vibrar na mesma bad ou good trip para poder, finalmente, como diria Cássia Eller, realinhar as órbitas dos planetas.
Afinal, de choque, já basta esse aqui.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A pele que habito



"A vida, entendeu, era bem parecida com a música. No começo, há mistério, e no final, confirmação, mas é no meio que reside a emoção e faz com que a coisa toda valha a pena." (Nicholas Sparks)

Tudo é quieto e calmo por aqui. A nossa conversa, de repente, pareceu dois tons acima do necessário, embora fossem meros sussurros. Acho que qualquer som é alto a essa hora.
É incrível como é possível fazer um discurso para cem pessoas e usar apenas palavras genéricas e, ainda assim, contar a história de cada uma daquelas cem pessoas, sendo todas histórias diferentes e tão particulares quanto as digitais de seus polegares. É incrível, também, o conforto que essas pessoas sentem ao ver você falando sobre a vida delas, assim, como quem não quer nada, como quem fala da própria vida. É incrível o conforto que traz a ideia de identificação.
Cada vida é uma vida e cada história é uma história, mas alguns traços são muito previsíveis. Esses traços são tratados, genericamente, por um outro traço igualmente previsível, desta vez em outrem a quem se oferece o ato. Em outras palavras, muita coisa da vida dá pra a gente prever e passa longe do que o que os roteiristas de cinema chamam de destino.
Depois que você entrou no carro, eu peguei uma folha de caderno e escrevi quem eu era. Quem eu sou. Quem eu serei. Tudo isso só pelo simples prazer de saber o que eu quero.
Bom, se vou falar de mim, acho que não posso começar de outra maneira, senão citando aquela boa e velha frase do Sherlock gênio Holmes: "Para uma mente ampla, nada é pequeno". Assim funciona a minha mente. Tenho uma mente ampla demais e nada aqui é pequeno. Os atos são exagerados e seus significados têm uma magnitude às vezes, ou diria quase sempre, muito maior do que deveriam. Minha mente tenta tratar os problemas de maneira inteligente, divertida e inovadora - mas tanta sagacidade custa caro e me torna, quase todo o tempo, crítica demais daqueles que levam suas vidas dentro dos padrões comuns. Eu tenho horror à normalidade.
Sou revolucionária e livre da maioria dos preconceitos (sim, a maioria, mas nunca a totalidade).
Eu gosto de pensar que consigo estar a frente do que muitas pessoas podem ver. Divirto-me sendo excêntrica, do contra, só para mostrar ao mundo que todos têm o direito à liberdade de pensamento e manifestação. Afinal, já dizia o grande Voltaire: "Posso não concordar com uma palavra do que tu digas, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-la".
Via de regra, sou livre, desapegada e independente. Valorizo mais a relação de amizade do que qualquer outra relação que vivo, embora não a estabeleça com qualquer um. Eu sigo o princípio da igualdade dos direitos. Sinceramente, eu amo a liberdade. Detesto controle. Detesto exigências. Detesto seguir ordens de alguém que não seja o meu coração. Não gosto da hora marcada, da antecedência, dos compromissos marcados em agenda. Comigo a coisa tem que acontecer na hora e do jeito certo. Gosto de gente criativa, com raciocínio rápido, gente que sabe improvisar, inovar. Não tenho amigos por contrato de exclusividade. Guardo o lado exclusivo da vida para o amor.
Eu tenho o espírito comunitário. Dentro de mim cresce essa necessidade, que agora parece ser uma modinha, de mudar algo. Quando eu digo mudar algo, preste atenção, não me refiro a mudar algo apenas dentro de mim. Eu quero mudar daqui pra fora. Quero mudar o jeito que as pessoas se olham nas ruas, quero trocar esmolas por sorrisos e armas por abraços. Quero dar casa e família, família de verdade, para todas as crianças que não tiveram esse privilegio. Eu tenho muito amor dentro do meu coração e esse amor não cabe em mim. Eu gosto de dividir, de negociar. Estou dando o meu amor em troca de um sorriso de quem quase nunca o faz. É, eu tenho um sonho na vida.
Eu gosto do que é imprevisível, da trilha que ninguém nunca explorou. Em cinco minutos, eu me torno alheia e ausente ao momento e fico enjoada com facilidade. O novo me estimula. A ousadia e a autenticidade me excitam.
Não é difícil me encantar. O simples fato de ser diferente já me faz brilhar os olhos. Mas, veja bem, eu assumo que não sei lidar bem com sentimentos. Eles contradizem todo o desapego que eu prego para viver. Acho que é justo dizer, então, que demoro para me apaixonar de verdade. Não me contento com beleza ou beijo bom. Só me apaixono por pessoas que eu admiro. Para ganhar minha atenção, tem que despertar uma das exceções da minha regra geral do "desapegue-se para viver". Tem que ser uma pessoa com opinião forte, opinião própria. Teimosa, cabeça dura mesmo. Eu sou assim. Eu gosto de gente assim. Eu gosto de gente como eu, porque não acredito nisso de que os opostos se atraem e a física que me desculpe. Opostos, no máximo, se distraem, mas, no fim do dia, se traem. Gosto de gente que sabe o que quer, gente decidida, que sabe falar as coisas certas no momento certo. Gosto das discussões acaloradas, gosto da brigas de segunda feira, sempre combinadas com as desculpas de terça. Gosto dos acontecimentos inesperados que mudam todo o curso da vida.
Sinto uma atração fatal por gente altruísta e livre de hipocrisia e por caras que falam sobre o que querem ser no futuro com tanta certeza. Aprecio as metas e a estratégia do caminho.
Advogo a racionalidade e não gosto de falar sobre sentimentos muito íntimos se eles não forem mútuos. Sou devotada ao amor, da cabeça aos pés, mas não gosto de me sentir presa ou sufocada. Amor é liberdade e eu gosto de me sentir livre. Gosto de pessoas que sabem seduzir de maneira fria. Elas sabem mostrar que estão interessadas sem que você tenha cem por cento de certeza da sua disponibilidade.
Tenho medo do escuro e, por isso, procuro saber demais. Afinal, nada melhor que uma luz dentro da minha própria mente.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

divã para uma.



Durante o que parece ser muito tempo, eu tenho tentado superar algumas mágoas antigas. Superar alegrias antigas. Esquecer dias bons... Mas você sabe o que dizem sobre isso, certo doutora? É fácil fingir sentir algo. Difícil é fingir não sentir nada...
Eu senti o amor e não o escolhi pela aparência externa. Não o medi de acordo com os dias da minha vida e nem pelo lugar onde ele nasceu. Eu o senti quando o olhei, olhos nos olhos, e minha alma viu ali uma identificação que já não poderia ser descrita em palavras. Meu coração se tornou inquieto. Tão inquieto e descompassado que não saberia decodificar a palavra "descanso" até que sentisse perto de si aquele que bate ao mesmo ritmo. Sabe, doutora, o meu coração sentiu um amor livre de hábitos de etiqueta e bons costumes. Não é como se eu desprezasse tudo isso, mas, sinceramente, para que tudo isso se não houver amor? Essas coisas são irritantes como a voz daquela ex namorada do cara do seriado. Com o amor, elas se tornam amáveis, mas dispensáveis pela leveza da intimidade.
Doutora, eu me lembro de me sentir bem. Bem como eu não em sinto há muito tempo. Tão bem que eu, por vezes, acho que não existiu e isso tudo não passou de algo que eu criei para dizer que a felicidade existe. Ela existe, doutora? Digo, a senhora deve passar o dia sentada aí, enquanto tantas pessoas deitam aqui e contam seus problemas... E todas elas parecem estar em busca de uma felicidade. Será que essa felicidade realmente existe? Será que eu sou uma das poucas que a provou? Eu estou sendo audaciosa? Perdoe-me tantas perguntas...
Eu comparo essa felicidade ao amor. Mas o amor, ele é uma moeda de duas faces. Não existe maior felicidade, ou maior dor palpável que eu já tenha provado no decorrer dessa vida.
É uma alegria tão grande que dói. Dói porque nada nessa vida é eterno e você sabe que aquela alegria se vai um dia.
Eu tive sonhos essa semana, doutora. Sonhos bons, lindos, coloridos. Sonhei com aquela felicidade que eu senti. Sonhei que ela era real. Sonhei que ela era parte de mim. Por um momento, doutora, eu me senti preenchida por algo maior do que a minha existência. O meu "eu" individual parecia pequeno demais perto do "nós" que eu sonhei. E eu senti muita falta do amor. E eu acordei chorando.
O André estava dividindo o sono comigo e se assustou com o meu choro. Ele me perguntou se eu estava tendo pesadelos e eu ri. Ri uma risada fria, muito diferente do calor do meu sonho. Eram pesadelos? Não... Eram sonhos e eu chorei justamente por serem sonhos. Chorei por me fazerem lembrar de como era sentir o amor e chorei por serem apenas sonhos. Você já se sentiu assim? Eles ensinam essa matéria na faculdade? Acho que aquele remédio que você me receitou está meio fraco.
Bom, seja como for, quero dizer que estou confusa. Eu quero que o amor vá embora para sempre, porque ele dói demais e, como uma pessoa me disse: "É algo que eu não desejo para ninguém". E não desejo mesmo. Amar dói. Mas eis o meu ponto: a ausência de amor não seria uma dor infinitamente pior?
Essa semana, o Felipe me propôs, por meio de sinônimos, que nos amassemos como sempre. Que fôssemos felizes para sempre.
Sabe o que é curioso, doutora? Eu sempre pensei que era isso que eu queria. Mas, estranhamente, o André me fez perceber que não... Eu acho, pelo menos.
- Você está pronta para amar novamente.
O quê? A senhora enlouqueceu? É claro que não estou. Quer dizer, será? A senhora disse que eu estou pronta para amar? É isso mesmo, produção? Não sei, doutora. É melhor ter cuidado com as palavras - elas sempre dizem mais do que o que nós queremos dizer. Muito mais.
A única coisa que eu sei, agora, é que extraordinário ter alguém para, de repente, dividir a sua alma. Alguém para transformar a minha vida em um curto ou longo período de certezas que aos poucos desfazem as dúvidas que me condicionam o existir. Estou farta de cultivar ausências, quase-amores, semi-amores, mini-amores. Ainda que haja rancor dentro de mim, ainda que permaneçam perguntas sem resposta, eu vou fazer uso de um superlativo absoluto só para convencer a vida de que eu preciso do meu braço esquerdo tanto quanto do braço direito.
Eu, hoje, pediria perdão por toda a minha intolerância e imploraria para não deixar que o pretérito retomasse a lembrança. Mas já não há e eu não diria nada ao Felipe. Nada, porque ele faz parte de um passado bonito que eu tenho que esquecer por ser bonito demais. E sinto que esqueço a cada dia.
Mas sabe o que é estranho, doutora? Não sinto como se o passado estivesse indo embora, mas apenas o Felipe. Isso teria algo a ver como André?
Não me dói a ausência do Felipe, mas também não me preenche a presença do André. É como se eu só buscasse o amor, ao mesmo tempo em que tento nunca mais senti-lo. Doutora, eu os uso como fantoches para que eu sinta a êxtase de um sentimento que faz crer que eu nunca mais serei abandonada em qualquer estrada. E que boa essa sensação seria, se eu não tivesse certeza de que a dor se aproxima na próxima esquina. Mas você já deve ter ouvido por aí, em algum canto da sua vida, que se é muita a dor, é muito o torpor.
- Querida, o seu tempo acabou. Continuamos na semana que vem, certo?

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

who knew?




O Felipe pegou a minha mão e a segurou firme e eu fiquei meio desconcertada com o toque frio das suas mãos. Seus dedos são mais longos que os meus e naquele momento aquela diferença pareceu muito maior. Mas o espaço entre os dedos dele eram o espaço ideal para que eu encaixasse os meus. Era o espaço ideal, porque eu não caibo no estreito. Meus desejos são urgentes, eu vivo de extremos, busco encaixes perfeitos, como as nossas mãos. Ele tirou sua carteira de couro preta e pagou pelos dois ingressos. Em situações normais, eu discutiria e insistiria em pagar pela minha entrada, mas seu olhar me manteve calada. Entramos na sala do cinema e eu ainda estava preocupada se eu havia feito a escolha certa para a roupa. Para um primeiro encontro, aquela blusa era demais? Aquela calça aumentava o meu quadril? Deveria ter colocado mais blush? Enquanto eu não falava nada, a minha mente gritava. O Felipe, então, levantou o braço da cadeira e passou o braço ao meu redor. Sussurrou no meu ouvido: Você está linda, Alice. E, naquele momento, a minha mente se calou também. Nós nos beijamos e eu soube que todas as escolhas estavam certas, inclusive ele. 
E o tempo voou. Mas não importa o tempo, né? Tempo não define tamanho, nem intensidade. Pode durar um mês ou pode durar a vida toda, porque cada dia é uma nova surpresa e não dá mais para achar que a gente prevê o dia de amanhã. Que direito eu tenho de dar um murro na cara daqueles que me alertaram que em algum tempo o Felipe iria embora? Nenhum. Quem iria adivinhar? O fato é que a gente não sabe o valor de um momento até que ele seja mera lembrança.
E o tempo voou mais uma vez e deu um jeito em tudo isso. O tempo deu jeito em mim e me fez cultivar vergonha na cara ao invés de expectativas. Deu um jeito em mim, me pegou de jeito. De um jeito que me fez ser como o fogo, que aquece quem precisa e queima quem merece. Mas nem sempre eu sou fogo. O tempo me fez ser gelo. Como dizem por aí, antes eu sofria, mas agora eu sou fria. Fria, porque eu sou feita disso da cabeça aos pés. Mal humorada. Cara fechada. Pavio curto. Medo de amar. Medo de compromisso. Medo de entrega. Descrença nas pessoas.
E, para o desespero do Felipe, eu vou continuar feliz, vou continuar me amando e principalmente, ao menos durante 90% do meu tempo, não dando a mínima para o que ele pensa. E ele vai me olhar, vai me julgar, vai tirar conclusões precipitadas e, ainda assim, não vai saber nada sobre mim. Eu me tornei o que o tempo deixou que eu fosse. Eu chamo todo mundo de amor, assim não preciso me preocupar em gravar nomes para depois em preocupar em esquecê-los.
Mas é em dias como hoje que isso tudo volta a tona e parece que o tempo não fez o seu trabalho direito. O mundo está cheio de incompetentes...
Hoje é um dia agridoce (amo essa palavra), porque eu acordei lembrando de coisas que eu quero esquecer, sorrindo por lágrimas que querem chorar e chorando numa alegria que preenche. Há uma razão para eu ter dito a todas aquelas pessoas que eu estaria feliz sozinha. Não foi porque eu achei que estaria feliz sozinha. Foi porque eu achei que se eu amasse alguém e aí me decepcionasse, eu poderia não me recuperar. É mais fácil estar sozinha. Ao menos 90% do tempo. Minha vida é assim, bem comum. Bem "vivível" durante 90% do meu tempo. O que acontece é que nos 10% remanescentes, é tudo um caos. Nesses dias, minhas lágrimas me acordam.
Coloquei minha maquiagem, disfarcei para ninguém perceber. Sacudi o travesseiro e sorri, porque ninguém precisava saber que eu chorei durante a noite. A última coisa que eu preciso agora são pessoas se metendo na minha vida e opinando nela.
O André passou para me buscar em casa e fomos comer algo na rua. Ele é legal, ele me saca. Ele me deixa falar sobre tudo e não pergunta o que não lhe diz respeito. Eu tenho o meu espaço, um ouvinte integral e que não quer mais nada de mim, além do que eu quero dele: companhia para encarar essa vida. E ele é realmente muito legal. Mas tem dias, como hoje, que nem mesmo o André basta pra resolver a minha vida. É puro lixo. Pura tralha acumulada. 
Hoje, eu fiz o André de psicologo e ele me ouviu desabafar sobre tudo. Só ele sabe as minhas dores e delícias. E o André... O André é um cara inteligente, desses que não se faz mais por aí. "Você o conhece?" ele me perguntou. E aquela pergunta, que parecia ser tão óbvia de ser respondida, me fez viajar dentro da minha cabeça. E eu lembrei do jeito que o Felipe penteia o cabelo, do sorriso dele que tem aquele detalhe que eu adoro e só ele sabe. Eu lembrei daquela mania babaca que ele tem de me fotografar dormindo. Eu lembrei das noites de pizza e filmes de época. Eu lembrei das manias surdas, dos comentários fora de hora e da dificuldade em atribuir valores a um copo de água. E eu sorri. Mas logo em seguida eu lembrei do cara que o Felipe se tornou. Ele mudou o corte de cabelo, parou de sorrir para as fotos, vendeu a câmera, enjoou de pizza e prefere jogar videogame com o irmão mais novo. Ele não demora para responder perguntas, parece sempre saber o que está dizendo e bebe exatamente o tanto de água que precisa para digerir a vida. Meu sorriso logo se desfez em um mísero sussurro: Não mais.
E aquilo doeu, é claro. Doeu muito. Mas ninguém precisava saber, nem mesmo o André. Então eu sorri novamente. 
Acho que a gente se perdeu quando nossas mãos já não se encaixaram. Você me deixou escorrer por entre os seus dedos e esqueceu de apertar firme a minha mão, como aquele primeiro encontro. Como todo o tempo que passamos juntos. Eu saí das suas mãos e hoje estou nas mãos do vento, esperando que ele me leve até a melhor opção e que cuide de mim.
Mas não vou negar que hoje meu nome é saudade, uma saudade que, como diria Caio Fernando Abreu, "faz os olhos brilharem por alguns segundos e um sorriso escapar volta e meia, quando a cabeça insiste em trazer a tona, o que o coração vive tentando deixar para trás". 


* Post inspirado na música Who Knew da Pink ;)

sábado, 11 de agosto de 2012

chega de prosa



Eles chamaram o meu nome, me convidando para subir ao palco e dizer uma meia dúzia de palavras para todas aquelas garotas que tinham basicamente o mesmo problema que eu. Eles confiavam que eu diria algo sensato, inteligente o bastante para que aquelas mulheres guardassem seus lenços molhados de choro e erguessem a cabeça, acreditando que são pessoas lindas e pessoas lindas não devem sofrer. Todos ali confiavam que eu faria um bom discurso e encorajaria o meu público, tão peculiar, a amar da forma correta (porque, sim, existe uma maneira correta de fazer isso).
Mas eu pensei enquanto subia aqueles três degraus e, sabe, a vida anda muito cheia de prosa e as pessoas vivem esperando respostas umas das outras, como se aquele monte de palavras, sendo ditas às pessoas erradas, fossem por fim às situações certas. Ou a certas situações. Decidi então jogar o meu discurso no lixo - ali mesmo, na frente de todo mundo. Aquilo pareceu um ato meio revoltado. Mas, hoje, eu só falo por poesia, meu bem. E foi assim que eu comecei. Deixa a poesia entrar na tua vida, deixa de lado tanta prosa de gente que não vale nada e corre para encontrar o belo. As poesias não mentem.

Eu não saberia distinguir
A partida e a chegada se confundiram
Cada ponto, uma vírgula
As reticências nos seguiram

Por várias vezes eu jurei
Nunca mais te querer assim
Sufoquei e até escondi
A euforia que causa em mim

Afinal, já foi mais fácil
Ouvir seus olhos e não ter medo
Olhar suas palavras sem sentir
Que a verdade se vai tão cedo

É quase torturante pensar
Que o seu discurso muda tanto
Ao mesmo tempo se plagia
E vira causa do meu pranto

Cada lágrima que escorre
É o amargo que queima a face
Mais salgada, mais ardente
Como se eu jamais pensasse

Não é que eu seja masoquista
Tem horas que eu quero acabar
Mas o meu coração é burro e acredita
Que quem vai, sabe voltar

Suas mentiras me afastaram
E um cinismo me atingiu
A ironia do choro azul
E do sorriso que surgiu

E o que esse sorriso faz ai?
Anda, desfaz!
Porque amar é verbo intransitivo
E não se traduz por capataz

Não sei bem o por quê
Mas, de força, a palavra carece
Esperança e coração gritam tão alto!
Mas merecer? Não merece!

Não pense que falo com a razão
Nem que te perdoo por tudo que fez
Não sei nem mesmo explicar
Só dói menos que sumir de vez.

Covarde, quem sabe
Até utópica eu posso ser
Mas assim verá o mundo
No dia em que souber crescer

Ou quem sabe, até antes
Se eu decidir ser racional
E tal qual a poesia
Despedir com um ponto final. 


Sem dizer mais palavra alguma, eu desci do palco e me sentei novamente. Hoje, eu falei do belo. Hoje, eu quis que ouvissem os meus problemas. Hoje, eu não falei palavras bonitas às pessoas erradas. Mas, curiosamente, aquelas mulheres guardaram seus lenços.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

desconfio que te quero por saber que te amo.


Como diria Guimarães Rosa, "eu quase que nada sei, mas desconfio de muita coisa". Foram essas desconfianças que me fizeram parar para escrever hoje. Eu desconfio, dentre muitas outras coisas, que não há outro momento para falar sobre isso, senão o hoje, o agora. Porque agora ainda está em tempo. Porque o hoje ainda é hoje o suficiente para não ser ontem. Seria perigoso adiar esse momento.
Então, antes de prosseguir, eu quero que você lembre daqueles dias e noites em que tudo deu certo, porque eu desconfio que aqueles dias e noites foram deixados para trás. Quase nada sei, mas desconfio que sim. Desconfio. Mas aí eu ouço a canção (Train?) e lembro que tenho memória. Não estou morta. Nesse momento, eu olho para frente e tudo que eu vejo é um enigma. Uma incógnita maldita e insuportavelmente indecifrável.
Eu costumava acreditar que nada me era desconhecido. Agora, eu acredito em tantas coisas novas. Eu passei a desacreditar tanto sobre tantas coisas. Tantos rostos desconhecidos e, para a maioria deles, meu rosto não passa de um processo bioquímico. Eles não param para reparar e nem nós dois paramos. Nunca mais. E essas palavras são tão fortes que eu desconfio delas. Desconfio que elas doem. Devem doer, mas não deveriam. Mas doem.
À medida que a noite vai se tornando mais escura, as lágrimas se tornam mais amargas e os olhos, mais inchados pela água quente que escorre, descendo as maçãs. Passa o tempo e as máscaras caem. Os rostos que eu vejo nem sempre condizem com aqueles que a minha imaginação criou. Normalmente não.
As promessas não se cumprem e a verdade nem sempre agrada. Mas a vida é assim mesmo, certo? Lágrimas secam enquanto máscaras caem, só para mais lágrimas secarem e mais máscaras caírem. Porque ser forte é ouvir algo que te destrói por dentro e ainda assim sorrir. A gente perdoa as pessoas porque ainda quer tê-las em nossas vidas.
E isso tudo aqui é só para te dizer que eu vivo perdoando as suas mancadas porque eu gosto de ter você na minha vida, seu bobo. Eu adoro quando você ressurge do nada, eu amo ver o seu nome subindo na janelinha do skype. Eu me mato de raiva quando você age como se sumir por meses fosse a coisa mais natural do planeta. E isso dói. E eu desconfio que devesse parar de doer, porque eu deveria parar de te perdoar, porque eu deveria te excluir da minha vida para sempre e ignorar que você é a pessoa que consegue arrancar de mim os melhores risos. Porque eu deveria esquecer tudo isso no momento em que eu vejo suas máscaras caírem e descubro que o seu rosto não é como eu pensei.
Mas há sempre uma segunda chance, porque as máscaras voltam a cair e eu continuo a ter esperanças de que o próximo rosto me será conhecido e as lágrimas já não mais escorrerão.
Nós dois nunca nos demos certeza de nada. Nunca esperamos nada. Nunca omitimos nada. Sempre foi fácil como respirar. E tem um detalhe a mais nessa história toda: eu nunca pensei que fosse me apaixonar de novo desse jeito. Hoje, olhe para mim. Eu nunca senti isso antes. Ninguém nunca me provocou tanto sabor agridoce quanto você. Cara, eu estou na sua. Definitivamente.
Sempre foi fácil acreditar que isso tudo era só o destino fechando algumas portas e abrindo janelas para nós dois, porque nós merecíamos ser felizes. Merecíamos pessoas melhores do que aquelas que a vida nos havia apresentado até então. Nós nos merecemos, na ampla tradução da palavra.
Eu estava tão farta. E aí você apareceu. E eu desconfio que a minha felicidade ali foi verdadeira. A nossa. E eu devo respeitar isso.
Se tudo que você estiver passando mexer um pouco com a sua cabeça e você começar a se esquecer, só não se esqueça das coisas que aconteceram. Das coisas boas, eu digo. Um pouco da minha parte boa você levou, um pouco da tua parte boa ficou em mim.
Dentro de mim, além de ti, só restou a desconfiança, porque eu quase nada sei, mas aqui há desconfiança de que a confiança já não paga a fiança de um novo amor meu. Amor com cara de criança. Amor puro, que um exército inteiro briga para apagar. Mas te digo, desconfio que não há jeito de apagar. Eu tenho memória - paradoxalmente deteriorada. E há quem diga que o tempo apague, mas já não há nada que pague os nossos dias e noites, quando tudo era nada e nada era tudo e quando o infinito se completava só pela simples companhia nossa. E isso vai fazer lembrar.
Não há como se libertar, eu desconfio. Eu confesso. Aquele tempo está preso, como tudo que a ele pertence. Adeus, porque nós não sabemos para onde estamos indo, mas sempre estamos no nosso caminho. E, para ele, sempre voltaremos. Cedo ou tarde, desconfio que voltaremos. Não importa a distância, não importa a sanidade. Esqueça os bons costumes e esqueça o que aquele cara fardado diz sobre a vida. We know better: eu sinto a sua falta e a verdade é essa.
Voltaremos um dia a conversar do mesmo jeito que conversávamos antes de toda essa loucura começar. Tudo será como antes, eu prometo. Prometo que seremos só eu e você contra o mundo. Prometo que vou mantê-lo inalterável na minha mente. Prometo, como aquele nosso jeito de prometer as coisas, jurando por aquele adesivo de caveira ridículo na sua bateria ensurdecedora. Lembra o quanto nós dois ríamos disso? Eu lembro do quanto você surtava quando eu dizia que ia roubar aquele adesivo estranho.
Sim, voltaremos, porque existe uma razão forte para que o façamos, uma razão que eu não apenas desconfio, como sei: você é per(feito) pra mim.


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;)

segunda-feira, 23 de julho de 2012

os arrepios que você me dá.



Essa tarde, hoje, eu estava sentada no aeroporto de Guarulhos, concentrada em não perder o meu voo. Tam 3154. Ouvidos cem por cento atentos a qualquer baboseira que falassem pelos microfones. A gente fica assim quando não tem ninguém para ser responsável por nós, com medo de perder as rédeas dos próprios atos e acabar refém de suas consequências. Afinal, a última coisa que eu precisava agora era ligar para os meus pais avisando que teria que esperar o próximo voo rumo à terra dos acarajés.
Por um instante que me distrai, minha mente me levou até uma cena que aconteceu há um certo tempo atrás, mas tamanha é a sua precisão em minha lembranças que não seria difícil afirmar que isso ocorreu ainda ontem. Levamos 5 minutos para resumir o ano passado, mas o ontem nos toma pelo menos uma hora. Todavia, esse momento tem tanta cara de ontem que já nem sei quanto tempo me toma. Tudo que sei é que aquilo foi algo tão grande, complexo e especial que, de repente, eu não precisei pensar em mais nada. Não precisei me preocupar com mais nada (nem mesmo com o número do voo). De repente, não mais que de repente, aquele pensamento foi o suficiente para me completar e algo dentro de mim disse que eu estava satisfeita.

- Felipe? - eu perguntei com uma voz um ou dois tons acima de um suspiro, como um vocativo, enquanto entrava naquela casa ainda em construção, naquele condomínio onde costumávamos ir sempre para fugir da rotina.
- Estou aqui, Alice - você me respondeu, aparecendo por trás de mim e me abraçando -, mas nós dois precisamos ter mais cuidado! Acho que o segurança da quadra dois quase viu quando você pulou o muro.
- Sério? E isso te preocupa? - eu ri, enquanto você levantava as sobrancelhas, querendo entender onde o meu pensamento pretendia chegar, como quem não enxerga o motivo de eu não levar aquilo a sério - O que houve com todo aquele papo de adrenalina? O proibido é mais interessante, eu acho - eu passei a mão por dentro do seu cabelo, sempre por cortar, desci os dedos contornando a sua mandíbula e fiz um comentário qualquer sobre a sua barba finalmente te deixar com cara de homem.
O Felipe sorriu pra mim e me beijou. Sabíamos que, naquele momento, estávamos indo contra milhões de regras e, principalmente, contra o bom senso. Não somos um bom time e a experiência está aí para comprovar. Mas, por alguma razão, sempre que estamos juntos, parece que o bom senso é muito burro e que a experiência não passa de uma história para criancinhas dormirem logo. Aquele lugar era proibido. Aquela situação era proibida. Aquele beijo era proibido. Nós dois... éramos.
E com tudo isso acontecendo, um turbilhão passava dentro de mim. No momento em que o Felipe me puxou para tão perto dele eu senti um friozinho na barriga, oscilando com um calor inquietante. Literalmente, inquietante. Era difícil acompanhar tantas mudanças. Os pelos do meu braço se arrepiaram quase que instantaneamente. Os choques de temperatura provocavam calafrios e a possibilidade nunca impossível de sermos pegos misturava o medo da realidade com uma seringa inteira da segurança que nós compartilhamos quando estamos juntos. Uma segurança incrivelmente excitante e, antes de tudo, surpreendentemente interessante e curiosa.
Uma vez eu parei para me perguntar o motivo de nós nos arrepiarmos. Cheguei até, eu me lembro, a fazer algumas dessas pesquisas de internet (não, eu não sou desocupada). O que eu descobri é que cada pelo do nosso corpo está ligado a uma fibra do músculo que o faz arrepiar. Como outros músculos lisos, essa é uma ação que independe da nossa vontade e é ativada pelo sistema nervoso autônomo. Os músculos periféricos se contraem durante o frio, tentando estabilizar a temperatura corporal, provocando aquela sensação de tremedeira, bater de dentes... 
Arrepiamos-nos, também, como consequência de algum medo, o que é uma herança dos tempos primitivos. A situação de ameaça ativa o sistema nervoso simpático e nos torna, por estarmos arrepiados, "maiores", além de "intimidar o inimigo". 
Soma-se a tudo isso a dilatação das pupilas, aumento das frequências cardíaca e respiratória, quebra de glicogênio hepático e liberação de adrenalina (a nossa adrenalina) e noradrenalina, tudo isso somente para deixar o corpo apto a fugir e lutar.
E, ainda assim, eu não luto. Eu não fujo. Quando estamos só eu e você, apenas Felipe e Alice, nenhum sobrenome, só restam corpos arrepiados, obedecendo cegamente uma lógica sem lógica nenhuma que nos aponta como norte de uma bússola que eu acho que parou de funcionar. Mas os meus dentes continuam batendo. O meu corpo ainda procura a temperatura exata. Eu ainda tento parecer maior todos os dias.
Porque eu tenho medo todas as vezes em que eu cruzo uma porta para te encontrar. Porque eu sinto frio e calor ao mesmo tempo sempre que eu vejo você chegar mais perto. Porque o meu coração bate nas costas sempre que eu escuto o seu nome e porque eu fico ofegante quando tento pensar em um futuro para nós. Porque eu não consigo falar com você no telefone sem tremer a voz, ou os dentes. Porque as minhas mãos chacolham muito quando você diz que eu fico bem com aquele vestido e não há nada que eu possa fazer para impedir isso.
Eu tenho medo de nós dois. Eu sinto o perigo nos rondando. A consciência de que isso não é certo. Nunca será.
Mas algo me diz que eu estou segura com você. Aquecida quando há frio e fresca no calor. Algo segura as minhas mãos para que elas parem de tremer e um beijo impede que os meus dentes batam mais uma vez. Respiro pela sua respiração e o meu coração se materializou em alguém, a ponto de que eu não preciso me preocupar se ele está batendo dentro de mim ou não: Sei que bati aqui, bem na minha frente, a cada vez que você surge.


"Atenção clientes do voo Tam 3154, com destino a Salvador: O embarque está sendo efetuado através do portão de número sete."

E, nessa hora, eu percebo que é melhor eu voltar a me concentrar em embarcar logo nesse avião... E deixar o resto simplesmente ser como deve ser.
Arrepios me corroem mais uma vez.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

"My dear John"





Nos últimos dois anos, eu passei algum tempo, algumas vezes, considerando você como uma das piores coisas que me aconteceu. Eu odiava - meu Deus, como eu odiava - quando você simplesmente decidia sumir da minha vida. E eu odiei também quando você começou a namorar aquela garotinha sem sal e aí sumiu mais ainda. Eu sentia muito a sua falta. Aliás, ainda sinto.
E eu lembrava de todas as noites que nós dois viramos conversando por horas no skype. E você ria e me chamava de louca quando eu te mostrava pela webcam que o sol já estava nascendo. Você me mandava ir dormir e eu não ia. E eu te odiava por tudo isso, odiava sentir falta disso tudo. E, por isso, eu sempre dizia que ia me afastar de você. Você era a pior coisa para mim.
Mas, agora, eu andei pensando e cheguei à conclusão de que não, você foi, sim, uma das melhores coisas que me aconteceram nos últimos dois anos. Porque tem um motivo pra eu sentir falta de tudo isso.
Eu lembro do primeiro dia que você comentou comigo sobre toda essa coisa de servir ao exército. Eu achei aquilo bonitinho, todo aquele sentimento de pátria exaltado. Você comentou que queria fazer parte das forças aéreas americanas. E eu ri. Era coincidência que eu estivesse lendo "Querido John" justamente naquela época?
E você continuou com essa história nos dias seguintes. Até que eu notei que você falava sério. Eu olhei bem nos seus olhos e perguntei: Você não acha perigoso?
E aí foi sua vez de rir. Você ri na cara do perigo. Meu Deus, como eu amo isso em você. Você se arrisca e acha engraçado as pessoas se preocuparem, porque você tem certeza de que tudo dá certo no final. Mas eu continuei preocupada, mesmo assim. Afinal, é mesmo uma escolha perigosa. Mas foi a sua escolha.
Eu começo a pensar, então, em tudo, em como tudo aconteceu, desde o dia em que nos conhecemos.
Você tinha o seu emprego estável. Um cara maduro que estava esperando a carta de aceitação na Universidade da Flórida. Até lá, você juntava uma grana pra pagar o curso dos seus sonhos. Eu achava legal o quanto os caras daí pareciam mais independentes e cortavam o cordão umbilical muito antes que os caras daqui. Eu sempre achei extremamente atraente essa sua sede de mundo. É absurdamente sexy o jeito como você fala dos seus planos para o futuro (por mais suicidas que eles soem aos meus ouvidos). Cara, você tem porte. Você tem estilo. Você é a única pessoa que fica bem com aquele par de tênis horríveis, porque você sabe como fazer as coisas serem boas.
Não demorou muito tempo até você se tornar especial. Desde o primeiro momento eu já olhei pra você e senti alguma coisa. Claro que eu estava em uma época complicada, então não tem como dizer que me apaixonei por você. Mas pode crer que algo tocou dentro de mim naquele momento. Algo bom. Algo tocou o meu coração e disse: Preste atenção nesse cara. E eu prestei. E ouvir o meu coração, pela primeira vez, foi a coisa certa a se fazer.
Eu lembro que fazia um esforço e acordava às 5 da manhã, só porque eu sabia que aí seriam 3 e você estaria online me esperando. E eu conversava horrores com você antes de ir para a escola. E eu lembro o quanto você achava um absurdo eu ter que usar uniforme, mas vivia elogiando aquela minha calça jeans escura. E o meu tênis, você dizia que era legal. Eu lembro também que você dizia que eu não precisava de blush ou maquiagem e que você curtia olhar pra mim com a cara limpa de quem acabou de sair do banho. Eu corava as bochechas sempre que você dizia isso e aí o blush era realmente inútil e dispensável.
Eu lembro também de quando você me viu usando óculos pela primeira vez. Eu esqueci completamente que estávamos conversando e pus os óculos para ler algo no facebook. Você adorou. E eu odiava usar óculos, mas você sempre dizia que eles me caiam bem e que você curtia. E eu passei a gostar, porque toda vez que eu os colocava, lembrava da sua reação e de você. E isso me fazia bem.
E eu lembro daquele dia em que fazia muito calor e eu resolvi prender o cabelo em um nó malfeito com a franja caindo desajeitada no rosto. E você disse que tinha, simplesmente, amado. E você ficou assobiando, só para me ver corar.
E eu adorava quando você fazia isso.
E eu lembro do dia em que você tentou me desenhar e até nisso, que você foi um completo desastre, eu enxerguei charme. Tudo em você é como um convite para estar mais perto o tempo todo.
Você me faz rir e suas piadas são as piores do mundo, mas a sua risada de si mesmo é o suficiente para me fazer gostar muito delas.
Eu adoro quando você tenta falar em português comigo, porque você tem um sotaque engraçado. E eu acho isso tão fofinho. "Doces sonhos", lembra?
Bateu uma nostalgia de todas essas nossas conversas. Bateu uma vontade de ter você aqui, mais uma vez, bem do meu ladinho. Só porque eu tenho certeza de que se nós dois tivéssemos uma única chance, uma mísera e única chance, a faríamos valer a pena.
Mas a vida é como é e quem se lamenta é viúva. Chega, né?
O fato é que você está namorando agora. E a sua namorada é uma chata. E as pessoas dizem que ela é bonita, mas eu acho a garota bem sem sal. Pronto, falei. E sim, isso é ciúme. Porque eu sei que ela nunca vai cumprir com dez favores que eu pedi no texto anterior. Ela nunca vai fazer isso porque simplesmente porque o pedido surgiu de mim. Ela nunca vai saber cuidar de você como eu estou disposta a cuidar. Eu não gosto dela porque ela tem acesso a uma parte muito importante do meu mundo: você. Isso me deixa preocupada - a ideia de alguém ter nos braços algo que me é valioso não soa das mais atraentes. Mas eu repito: a vida é como é.
E agora eu não sei onde você está. Tudo que eu sei é que te levaram para um acampamento de treinamento intensivo em algum lugar na Carolina do Sul. Eles rasparam o seu cabelo. Eles te ensinaram que você precisa gritar para ser ouvido. Você agora faz trezentas flexões em três segundos. Seus braços cresceram e você está mais forte. E eu não tenho como falar com você, até que você possa finalmente tirar uma licença e vir me ver. Mas eu só queria falar com você mais uma vez, ter certeza de que está tudo bem. Eu queria poder saber que o cara que eu conheci mora aí ainda, embaixo desse uniforme de guerra e dessas botas horrorosas. Mas tem um general que nunca deixaria isso acontecer. E tem a sua namorada ridícula e neurótica também.
Mas eu deixo tudo isso pra lá, porque você é especial, meu amor. Você é e sempre será. Dane-se tudo, eu nunca vou esquecer você ou o motivo de você ter se tornado tanto em tão pouco tempo.
E eu sei que é verdade que entre eu e você a coisa é absurda. Você serve a um país e está preso a ele, a partir de agora. Eu sou só uma estudante de Direito, que nunca poderá exercer a profissão aí. Eu sei, é impossível. Impossível. Irreal. Fantasiosa. É, fantasia. Fantasia, porque nas fantasias existem herois. E você é o meu heroi de guerra. Não era isso que você queria, desde o começo? Ser um heroi de guerra?
Sinto a tua falta. E, por mais surreal que isso tudo possa ser, eu quero você na minha vida.
Por favor, sobreviva a toda essa loucura e volte pra mim. Por favor, mantenha o seu coração batendo. Sobreviva e eu estarei orgulhosa de você.


segunda-feira, 2 de julho de 2012

Os 10 pedidos na caixinha de lego.



Vieram me contar, no meio de uma conversa quase informal, que você gostava das coisas que eu escrevia. E eu quase achei isso engraçado, se não fosse por eu achar isso legal da sua parte. Justamente por achar legal, decidi que deveria escrever isso aqui para você. Então, sim, esse texto aqui é pra você.
Antes de tudo, queria te dizer que eu recebi todos os seus adoráveis recados. Eu senti o veneno escorregar de uma linha para outra no momento em que você fez questão de que eu soubesse que ele se atrasou para me ver só porque deu uma "paradinha" na sua casa.Também o senti quando você contou para aquela outra pessoa sobre o presente que ele te mandou, ou sobre como ele parou com aquele hábito horrível só porque você pediu (ele também já fez a mesma coisa por mim e por aquela outra também), somente porque saberia que esse seria o jeito mais curto de me informar da situação. E eu ri de tudo isso. Mas oh, pode ficar tranquila e eu digo isso sem nenhuma ironia. Estique as perninhas e compre uma água de coco, eu tenho uma novidade para contar: Surpresa, não estou interessada e ele também não! Então, pulemos toda a parte das inseguranças, dramas e teatrinhos desnecessários. Vamos ao que interessa.
Eu estou triste por um lado e não é por mim. Triste, como aquela tristeza que bate quando a personagem principal morre no fim do filme. Eu sei como termina o dia. O Sol se põe no Oeste e pronto. É preto no branco de um filme preto e branco que eu assisti antes de você. Como uma regravação de uma comédia romântica colorida, na moldura de Charles Chaplin. Eu sei que cada vez que ele te oferece uma bala isso só tornará mais difícil vomitá-la depois. Eu sei de tudo isso, porque, sim, o "depois" existe pra tudo nessa vida.
E você queria saber o motivo de nós dois não termos continuado onde paramos, não é? Queria saber o motivo de não darmos certo, não é? Pois eu te digo que não demos certo porque demos certo demais e isso  enjoou a cabeça dele, que, você deve saber, vibra com qualquer possibilidade de estragar tudo. Ele é especialista, sou obrigada a reconhecer. Especialista em arruinar tudo que ele mesmo ajudou a construir, só pelo prazer de reconstruir. Como aquela história de costurar a mortalha durante o dia e descosturar durante a noite. Mas, sabe, às vezes o lego fica velho e não tem como ser diferente: hora de trocar as peças.
Aí ele vai decidir voltar na loja de brinquedos, olhar peças novas e comprar um lego novo. Novinho e brilhante, desses que faz inveja nos coleguinhas de classe. E ele vai reconstruir tudo. Ele realmente curte isso. Construir.
Mas, se ainda assim, você decidir tentar a sorte, só te peço que siga dez pedidos.
O primeiro deles, não deixe ele tomar banho de chuva. Ele fica doente e realmente se sente muito mal. Pelo menos, o force a trocar de roupa. Ele vai rir e dizer que não precisa, mas, acredite, não tem nada pior do que ele doente.
O segundo, procure não acordá-lo, ele não gosta muito e eu estou sendo sutil. Mas, se o fizer, procure fazê-lo da melhor forma possível.
O terceiro, lembre-o diariamente que ele tem que tomar remédio. Ele ainda é uma criança para essas coisas e precisa que você o lembre de cumprir suas obrigações, mesmo aquelas que implicam a sua saúde.
O quarto, ria de todas as piadas que ele disser, por piores que elas possam ser. Ria também das vezes que ele imitar um ator do seu filme predileto, mesmo que ele seja péssimo nisso, e de quando ele abrir seu armário, colocar as roupas na cabeça e tirar fotos, como um menino pequeno que se diverte. Ria com ele.
O quinto, lembre que ele não gosta de comédia romântica e pode assistir "O Poderoso Chefão" mil vezes sem enjoar.
O sexto, segure firme nas mãos dele e diga que não sairá do seu lado. Ele precisa disso mais do que imagina e vai ser bom saber que você está ali. Ele precisa que alguém faça isso, embora não admita.
O sétimo, o estimule em todos os seus projetos, até aqueles em que você não acredita tanto. Ele é um cara inteligente e só precisa que uma pessoa reconheça as suas boas ideias. Se você vai estar do lado dele, as reconheça. Estimule-as. Diga-lhe em que está errado em particular e enalteça-o em público.
O oitavo, peça-lhe para tocar uma música clássica. No corre corre do dia a dia ele se esquece do quanto sabe tocar bem e daquela música apaixonante que já não toca nas rádios... E você não deve deixá-lo se esquecer disso.
O nono, tente ser paciente com todos aqueles dias em que ele odeia, basicamente, tudo. Isso faz parte de quem ele é e isso não vai mudar. No fundo, é só amor demais para um coração que briga por não bater.
E, por fim, o décimo e mais importante: Ame-o com todo o seu coração. Apesar de tudo que eu falei, existe uma razão para que ele tenha se tornado especial tão rápido. Só espero que você a tenha descoberto também.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Somebody that I used to know



O Felipe acordou meio zonzo por causa do tanto de bebida da noite passada. Foi literalmente uma farra. Ele levantou e caminhou pela sala, ainda com o cabelo meio bagunçado, usando aqueles óculos que ele não usa quase nunca, segurando aquela caneca de café - seu fiel companheiro de todas as manhãs, especialmente as de ressaca. E o novo "amor da vida" dele, a Manuela, ainda dormia, tranquila e iludida, deitada naquela cama de Jacarandá do quarto recém reformado para um casal recém formado... Tadinha. Tadinha mesmo, porque ela morre de ciúmes da garota que ele costumava sair, a Alice, embora ele jure de pés juntos que dela não lembra nunca. Mal sabe a Manuela que ele sabe gravado na cabeça o número do telefone da Alice e a primeira coisa que faz todos os dias é discar o número dela e desligar antes que ela atenda. Ou deixa atender, só para ouvir aquele "alô" fininho e meio rouco, aquela voz de quem acabou de acordar. E a Alice já sabe que é ele. É, ela já sabe disso. Ela já reconhece o "número desconhecido". Mas ela sempre preferiu as coisas assim, muito mais do que simplesmente chutar o Felipe para fora da sua vida. A Alice gosta do Felipe. O Felipe gosta da Alice. O Felipe também gosta da Manuela. O Felipe não vale nada e o pior de tudo é que a Manuela e a Alice adoram esse cara. A diferença é que a Alice sabe que ele é um cafajeste, mas gosta mesmo assim. A Manuela ainda compra a ideia de que ele é um bom moço. Mais uma vez: tadinha.

Mas tudo na vida tem limites, não é mesmo? Até mesmo para a Alice. E por essa o Felipe não esperava...

Ele estava cruzando a sala quando viu um papel embaixo da porta da frente. Um envelope com uma carta e seu nome. Era meio cedo para já terem levado a correspondência, até porque o porteiro da quarta feira é meio devagar para essas coisas... Mas o Felipe ignorou tudo isso e pegou a carta nas mãos. Aquilo foi mais impactante do que deveria: ele conhecia aquela letra. Mas por quê a Alice estaria fazendo isso? Deixar uma carta ali? Como ela subiu? Ela sabia que a Manuela estava lá, como arriscou assim? Algo estava errado. Na frente do envelope, seu nome, mas o mais curioso era o verso, que dizia: "Aqui, tudo que eu nunca teria coragem de te dizer pessoalmente".

Ele abriu, coçou os olhos e começou a ler a carta:

Felipe,
Pode parecer insensível eu falar isso com você por aqui e não te ligar ou me resolver com você pessoalmente (como eu sempre fiz). Mas acho que é o único jeito que eu tenho pra falar tudo que eu preciso por pra fora e nunca consigo olhando pra você. Sem falar que só assim você vai me deixar falar tudo, sem interrupções.Eu cansei. Sabe Lipe, de verdade. Andei pensando muito em nós dois e em tudo que já aconteceu e cheguei a conclusão de que desse jeito já não vale a pena pra mim. Essa vontade que a gente tem de ficar quando se vê já não me serve pra matar saudades ou coisa parecida - só serve para ser motivo de tristeza quando eu chego em casa e percebo que algumas coisas não saem do lugar. E não adianta vir com esse papinho de que já está em outra, porque eu sei que mexo com você, não importa o quão apaixonado você esteja pela Manuela. Mas a gente já não sabe mais levar essa situação. Eu cansei e acho que já tinha cansado há algum tempo. Não sou o tipo de pessoa que leva numa boa brincar de namoro de vez em quando. Para mim as coisas são mais sérias e eu nunca vou me acostumar com a ideia de gostar de uma pessoa e só tê-la quando há conveniência. Não gosto desse "gostar" e, sinceramente, não tenho vocação para mártir. Eu não mereço isso e certamente a Manuela também não.Não quero ser a pessoa que você liga só porque já está tão tarde que ninguém mais iria atender e nem quero ser a pessoa que vai te encobrir sempre nos seus rolos meio malucos ou quem vai sempre aceitar suas desculpas esfarrapadas e até fantasiosas e inventar uma borracha mágica para apagar o passado que não se apaga e tem cada vez mais cara de presente. Isso não basta para mim. Não posso ser só um conforto.Eu já fui alguém com quem você pensou em estar o tempo todo, sem precisar estar com outras pessoas. Hoje, tudo aquilo parece ser só uma mistura de carinho, uma consideração por tudo que a gente passou e que vai sempre existir, e, às vezes, desejo, carência. E isso eu reparo nas pequenas atitudes, que podem parecer besteira - mas juntas para mim não são. Basta uma gota para fazer o copo transbordar. Parece que o encanto terminou e eu já não sinto como se eu estivesse me protegendo do mundo ao seu lado. Não sinto mais o seu cuidado ou preocupação comigo. E eu sempre gostei tanto disso...Eu já não vejo os seus olhos brilhando como os meus, cultivando qualquer mínima chance de nos encontrarmos. Eu já não vejo você cego do mundo. E isso é o tipo de coisa que não esfria e não muda com o tempo: é a base primordial da paixão, do amor, não um calor susceptível às estações do ano. E isso tem que ser natural, não dá pra agir assim por culpa ou querer obrigar o coração a querer algo - você sabe disso melhor do que eu.
Acumularam-se brincadeiras desnecessárias, comentários desagradáveis que você deixou fluir sem considerar quem os ouvia. Desde omissões até algumas mentiras. Gritos, grosserias e uma ou outra estupidez que é difícil de apagar. No lugar dessas coisas que surgiram, sumiram outras. Mas sumiram coisas boas. Sumiu o seu jeito de me olhar como se eu fosse a ultima coisa do mundo ou de reparar em alguma besteira em mim. De como você gosta de algo em mim como eu adoro quando a gente fica se olhando um tempão sem dizer nada. Ou como eu gosto quando você diz para eu escolher o filme. Ou como eu adorava a sua mania de fazer origami de tudo (principalmente daquele beija-flor) só para passar o tempo ou seus hábitos de abrir a porta do carro ou puxar a cadeira. Como eu adorava quando você achava um absurdo eu pensar que algumas coisas podiam não ser especiais pra você da mesma maneira que eram para mim, quando você dizia que era óbvio que eram. Ou mesmo o quanto eu adorava quando você me mandava uma mensagem de bom dia, ou ligava só para saber se estava tudo bem, entre uma reunião e outra. Aquela coisa de estar feliz e deixar isso transparecer, involuntariamente. Estar feliz só por estar junto. Eu sinto falta disso.Você se acostumou com a ideia de que me teria para sempre,quando a saudade apertasse ou a vontade surgisse. Se acostumou com a ideia de que eu largaria tudo e todos a qualquer momento, se você estivesse precisando de mim. Ou apenas quisesse. Ou apenas pensasse que poderia querer. Lamento, eu não sou assim... E se um dia eu me deixei ser, é bom que a gente deixe claro que não sou e não está nos meus planos agir como se fosse. Essas coisas estão destruindo o que há de bom entre nós dois...Passamos por várias coisas que ficarão para sempre na minha memória e que talvez eu nunca reviva com tanta intensidade. São lembranças que eu vou cultivar com muito cuidado, para que o tempo não leve embora, porque elas representam uma felicidade que eu nunca vou esquecer. Mas para cultivà-las talvez eu precise me afastar da fonte. É como os peixes: é alegre a chegada de filhotes, mas se não forem separados da mãe, ela acabará com eles. Depois, acabará consigo mesma. Apenas mais tarde, depois de maduros, poderão voltar a conviver pacificamente. Não quero que essas coisas ruins destruam as coisas boas.Nesse tempo que passamos separados eu amadureci muito. Eu mudei. Eu cresci. E você também mudou... Mas desculpe, não sei se foi uma boa mudança, ao meu ver. Não sei se você realmente amadureceu ou apenas mudou. Mas o fato é que, como você mesmo já falou, você precisa seguir o vento agora. Já eu, quero manter apenas a cabeça no vento, mas o coração eu firmo no chão. Pensar com o coração e sentir com a cabeça.Quando a gente gosta de verdade de alguém, tudo que a gente quer é estar com essa pessoa. E queremos também que essa pessoa sinta vontade de estar conosco. Apenas conosco. Você tem outros pensamentos, quer outras pessoas. A Manuela que o diga. Eu estou exausta, Lipe... Já não tenho pique para ficar advinhando essas coisas, ainda mais quando eu não sei se existe mesmo um pote de ouro no final ou se vai ser mais uma desilusão de me encontrar com o vazio.
Eu amo você, mas, infelizmente, isso não basta. A gente se vê por ai.
Alice


Lágrimas escorriam dos seus olhos - pela primeira vez ele estava chorando por ela. Nessa hora, a Manuela veio por trás dele e o abraçou. Ela havia acabado de acordar. "Bom dia, amor". Ela sussurou em seu ouvido e tudo que o Felipe pode fazer foi desfaçar as lágrimas, murmurar um bom dia e dizer que tinha espirrado café nos olhos, usando isso como desculpa para correr e lavar o rosto. Acabou.


Enquanto isso, a Alice dirigia para casa, meio triste, mas aliviada por ter feito a coisa certa. Ela dirigia e repetia, para si mesma, a música que tocava na rádio: "Now you're just somebody that I used to know...".

domingo, 27 de maio de 2012

O medo do nada



Tudo na vida depende do seu ponto de vista. Pra mim, é muito claro que o modo como vemos as coisas depende da forma de como queremos enxergá-las, da nossa boa - ou má - vontade para absorvê-las. Mate um cara e você é um assassino. Mate dez caras e você é um serial killer. Mate centenas e você é um herói. Essa relativização das coisas e seus valores, na minha cabeça, se resume unicamente à predestinação dos olhos do individuo. Dos meus olhos.
Por isso, eu andei pensando mais ainda sobre as coisas que eu nunca fiz. Sobre as coisas que eu deixei de fazer. Por todas as portas que eu fechei, ou deixei que se fechassem, por medo. Medo de sabe lá o que. Só medo. Como o meu medo de quarto escuro. Como o meu medo do bicho feio que mora atrás da porta do armário, o medo que eu tinha quando era mais nova e me tirava a noite de sono. Mas hoje, com um pouquinho de boa vontade, eu parei pra pensar. E eu percebi que atrás daquela porta do armário, no escuro, onde morava o tal bicho feio, só havia vento. Só havia nada. E isso era o medo: o vento. Medo é vento. Aliás, medo é menos que vento. Medo é nada. E quando eu abri a porta do armário e percebi que medo é nada, meu medo foi embora. Porque eu quis que fosse assim. Porque eu coloquei na minha cabeça que tudo, absolutamente tudo, acontece conosco por nossa causa, para nós mesmos e por nossa vontade. E é bem confortável pensar assim. Eu gosto do meu mundo assim, do novo mundo que eu descobri depois de descobrir que o bicho feio não existe. As coisas se tornaram mais coloridas depois que me contaram que o escuro também é só nada.
O problema é que tem um dos meus medos que mora atrás de uma porta de armário também, mas, sempre que eu abro a porta, é como se houvesse outras milhões de portas. E eu nunca encontro a ultima porta. E assim o meu medo continua lá. Mais escuro que o quarto, mais assustador que o tal bicho feio. E não importa a minha boa vontade em relativizar. A minha vontade em fazer com que esse medo vá embora. Ele continua ali. E eu pergunto, Deus, pra que olhos tão grandes se eu não posso escolher o que eles devem ver?
E eu estive pensando...
E eu andei pensando...
E tudo depende de mim. Mas, então, como eu não consigo abrir essa porta? Eu deixei muitas se fecharem, mas essa eu não sei abrir.
E, no fundo, a gente deixa que nossos olhos enxerguem o que ouve e não o que houve. E aquelas pessoas me falaram do medo... Do medo que eu seria capaz de reduzir ao pó. Mas de pó, fez-se nada e de nada, fez-se medo. Afinal... Medo é nada, não é?

segunda-feira, 16 de abril de 2012

O dia em que o táxi não chegou.


Sabe aquele sentimento que tem quando uma pessoa vai sair da sua vida e, de repente, você percebe que vai sentir falta dela? Eu o senti hoje e não gosto nada dele. Eu lembro de quando conversamos sobre o futuro. Sobre o futuro e suas incertezas. E eu te disse que sonhava em sair por aí, quem sabe trabalhar pelo mundo... Falei da minha alma cosmopolita. E você... Você citou a sua firma de sucesso. Você seria mais um desses bem sucedidos por aí. E as estradas da vida nos colocariam para caminhos diferentes, literalmente. Enquanto você iria fazer dinheiro visitando a África e suspendendo aquelas casas gigantes (ou sonhos, como queira), eu iria conseguir uma bolsa em uma universidade alemã. E, depois, eu me tornaria diplomata. E, depois, desistiria e me tornaria promotora. E, então, desistiria para ser uma juíza. E, depois de tudo isso, preferiria cursar letras ou psicologia em alguma faculdade no sul. E eu lembro, caramba, eu lembro de quando conversamos sobre isso. Rimos muito. E eu lembro que eu perguntei: "E nós dois? Você acha que isso vai acabar como?". E você me olhou nos olhos e disse: "O que eu acho? Eu acho que um dia eu e você estaremos casados com outras pessoas e vamos acabar pegando o mesmo táxi em um dia de chuva no aeroporto. E aí vamos discutir sobre quem chamou o táxi primeiro. E vamos nos reconhecer. E vamos conversar sobre tudo e acabar parando naquele velho restaurante perto de onde estudávamos, em plena terça feira. Eu e você... E vamos desligar os celulares e simplesmente relembrar esses dias felizes". E eu lembro, também, que você continuou sério, como quem fala a coisa mais sensata do planeta. Segundos depois, você eclodiu em risos. E a sua risada era provavelmente o meu som favorito. Eu congelei aquele segundo na minha cabeça, porque eu sei que a gente não pode voltar nele. Pena que não chegamos a combinar a placa do táxi.
O tempo passou e as coisas que eu dava como certas já não me parecem mais tão certas assim. Acho que todo mundo foge de algo. E eu lembro que você disse: "Eu não estou fazendo isso para machucar você". Eu sei, tá, mas como eu posso acreditar? Como eu devo acreditar nisso? Como acreditarei novamente? Quer dizer, como... "Amor" não é o suficiente? Talvez a resposta seja simplesmente parar de ter controle de tudo e se arriscar. Afinal, não é disso que o amor é feito? Riscos. Não seguranças e certezas. Então é isso: Arriscar. Arriscar mesmo! Take a new shot. E em outra direção. Sorrir. Sorrir, porque sorrir não significa estar feliz, mas ser forte. E confiar nas pessoas não te torna alguém fraco. É só sorrir. Sorrir para ser alguém forte. Ou para que as pessoas acreditem que você é.
Todos temos os nossos arrependimentos, todos temos os nossos remorsos e todos precisamos conviver com as escolhas que fizemos e com o compromisso que temos com elas. Todos temos as nossas tragédias e talvez o amor seja, de vez em quando, a pior delas. Mas não é por isso que desistimos dele. Porque, apesar de tragédia, ele, às vezes, é também mais forte que todos os erros que cometemos. Mas como a gente sabe quando continuar e quando simplesmente desistir? Algumas pessoas não sabem quando esquecer. E eu descobri que quando você ama muito alguém, tanto assim, por tanto tempo, nunca irá esquecê-lo, não importa para onde for... Ninguém acha dois trevos de quatro folhas na mesma noite. Esquecer o passado, porém, pode ser o único jeito seguir adiante. Porque tem dias que tudo muda e muda pra sempre. Porque eu sei que nada mais será a mesma coisa. Mas, por favor, pare de me lembrar disso a cada segundo! Eu simplesmente não aguento quando você faz isso. E você aí, pare de querer se meter. Eu sou um desastre e não preciso de ajuda, entendido? E não vai passar. Pare de falar que tudo ficará bem, porque você não sabe. Achamos que as pessoas importantes estarão sempre em nossas vidas, até não estarem mais. E não estão mesmo. Elas simplesmente vão embora. E aqueles dias felizes não são mais nada.
Homens querem e gostam do que nunca tiveram. E eu queria ter as palavras mais lindas pra dizer.  Diria como me sinto bem quando estou com você, o quanto adoro aquela coisinha que você faz com o nariz quando sorri... Mas, sobretudo, eu diria que você me torna uma pessoa melhor. No entanto, às vezes, é preciso apenas seguir em frente e deixar que as coisas se ajeitem sozinhas. Porque, quem sabe, nós dois somos apenas uma história que contamos um a outro. E, quem sabe, estar com você foi algo que me fez não querer mais ficar sozinha, mas não necessariamente passar o resto da minha vida ao seu lado.
E eu estou bem, andando por aí, curtindo a vida do jeito que você me ensinou. E eu mudei. E ele também me faz bem. E eu acho que ela te faz bem também. E assim vamos seguindo os nossos caminhos... E você, você é só uma lembrança indo embora dentro de um táxi do aeroporto.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Jorge, Mateus e mais alguém.



Meu coração disparou. Eu tentei seguir a minha cabeça, mas parece que ela disparou também. Não sei bem como é isso, mas senti o palpitar e aperto dentro dela também. Como se o meu cérebro tremesse, tudo isso enquanto o coração ameaça sair pelo boca. As mãos também dispararam - elas tremem.
Eu estava deitada de qualquer jeito no sofá da sala, coçando os olhos sem nem perceber que me borrava inteira de rímel, quando comecei a ouvir uma música familiar. "Quando a gente fica junto, tem briga. Quando a gente se separa, saudade...". Eu primeiro pensei na televisão, isso é a música da novela das nove. Alguma propaganda. Mas a música estava demorando demais... E essa novela das nove nem passava mais! Por quê eu estava ouvindo Jorge&Mateus vindo do meu quarto, então? Foi então que tudo parou.
Eu percebi que era o meu celular. Mas o meu toque não era aquele. Era um trim-trim bem comum mesmo. Mas a música vinha do meu celular. E aí?
Eu levantei cambaleando do sofá e, ainda antes de dar o primeiro passo, lembrei que aquele era o seu toque. Não é de se surpreender que eu não tenha percebido isso logo, afinal, já faz algum tempo que não o ouço. Mas percebi. E acelerei os passos. Rápido, mais rápido. E eu nem pensei no motivo que estaria me fazendo andar depressa. Só sabia que tudo havia disparado. Despertei em algum lugar, alguma coisa, de algum modo.
Quando tomei o celular nas mãos, vi o seu nome e a sua foto à esquerda. Mas não era uma ligação, era só o contato aberto na agenda. Deus, isso é obra sua? Eu realmente devo ter que pagar por muita coisa.
Droga. Lá vamos nós de novo... E eu sinto raiva de mim mesma, só porque eu pensei que fosse acabar. A gente aconteceu e terminou de uma forma tão rápida que você nunca vai sequer imaginar que é sobre você que eu estou escrevendo ou que foi por você que eu me apeguei tanto. Até porque eu não faço o tipo que se apega rápido, já falei. E eu sei que tem outras pessoas que vão achar que eu falo delas. Mas, amor, tudo isso só tem a ver com você. E você se foi. E isso tem a ver com você. Tem a ver com você. Só. Só com você. Com você. Com... você.
Eu acho que amo você.