sábado, 11 de agosto de 2012

chega de prosa



Eles chamaram o meu nome, me convidando para subir ao palco e dizer uma meia dúzia de palavras para todas aquelas garotas que tinham basicamente o mesmo problema que eu. Eles confiavam que eu diria algo sensato, inteligente o bastante para que aquelas mulheres guardassem seus lenços molhados de choro e erguessem a cabeça, acreditando que são pessoas lindas e pessoas lindas não devem sofrer. Todos ali confiavam que eu faria um bom discurso e encorajaria o meu público, tão peculiar, a amar da forma correta (porque, sim, existe uma maneira correta de fazer isso).
Mas eu pensei enquanto subia aqueles três degraus e, sabe, a vida anda muito cheia de prosa e as pessoas vivem esperando respostas umas das outras, como se aquele monte de palavras, sendo ditas às pessoas erradas, fossem por fim às situações certas. Ou a certas situações. Decidi então jogar o meu discurso no lixo - ali mesmo, na frente de todo mundo. Aquilo pareceu um ato meio revoltado. Mas, hoje, eu só falo por poesia, meu bem. E foi assim que eu comecei. Deixa a poesia entrar na tua vida, deixa de lado tanta prosa de gente que não vale nada e corre para encontrar o belo. As poesias não mentem.

Eu não saberia distinguir
A partida e a chegada se confundiram
Cada ponto, uma vírgula
As reticências nos seguiram

Por várias vezes eu jurei
Nunca mais te querer assim
Sufoquei e até escondi
A euforia que causa em mim

Afinal, já foi mais fácil
Ouvir seus olhos e não ter medo
Olhar suas palavras sem sentir
Que a verdade se vai tão cedo

É quase torturante pensar
Que o seu discurso muda tanto
Ao mesmo tempo se plagia
E vira causa do meu pranto

Cada lágrima que escorre
É o amargo que queima a face
Mais salgada, mais ardente
Como se eu jamais pensasse

Não é que eu seja masoquista
Tem horas que eu quero acabar
Mas o meu coração é burro e acredita
Que quem vai, sabe voltar

Suas mentiras me afastaram
E um cinismo me atingiu
A ironia do choro azul
E do sorriso que surgiu

E o que esse sorriso faz ai?
Anda, desfaz!
Porque amar é verbo intransitivo
E não se traduz por capataz

Não sei bem o por quê
Mas, de força, a palavra carece
Esperança e coração gritam tão alto!
Mas merecer? Não merece!

Não pense que falo com a razão
Nem que te perdoo por tudo que fez
Não sei nem mesmo explicar
Só dói menos que sumir de vez.

Covarde, quem sabe
Até utópica eu posso ser
Mas assim verá o mundo
No dia em que souber crescer

Ou quem sabe, até antes
Se eu decidir ser racional
E tal qual a poesia
Despedir com um ponto final. 


Sem dizer mais palavra alguma, eu desci do palco e me sentei novamente. Hoje, eu falei do belo. Hoje, eu quis que ouvissem os meus problemas. Hoje, eu não falei palavras bonitas às pessoas erradas. Mas, curiosamente, aquelas mulheres guardaram seus lenços.

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