quinta-feira, 5 de julho de 2012

"My dear John"





Nos últimos dois anos, eu passei algum tempo, algumas vezes, considerando você como uma das piores coisas que me aconteceu. Eu odiava - meu Deus, como eu odiava - quando você simplesmente decidia sumir da minha vida. E eu odiei também quando você começou a namorar aquela garotinha sem sal e aí sumiu mais ainda. Eu sentia muito a sua falta. Aliás, ainda sinto.
E eu lembrava de todas as noites que nós dois viramos conversando por horas no skype. E você ria e me chamava de louca quando eu te mostrava pela webcam que o sol já estava nascendo. Você me mandava ir dormir e eu não ia. E eu te odiava por tudo isso, odiava sentir falta disso tudo. E, por isso, eu sempre dizia que ia me afastar de você. Você era a pior coisa para mim.
Mas, agora, eu andei pensando e cheguei à conclusão de que não, você foi, sim, uma das melhores coisas que me aconteceram nos últimos dois anos. Porque tem um motivo pra eu sentir falta de tudo isso.
Eu lembro do primeiro dia que você comentou comigo sobre toda essa coisa de servir ao exército. Eu achei aquilo bonitinho, todo aquele sentimento de pátria exaltado. Você comentou que queria fazer parte das forças aéreas americanas. E eu ri. Era coincidência que eu estivesse lendo "Querido John" justamente naquela época?
E você continuou com essa história nos dias seguintes. Até que eu notei que você falava sério. Eu olhei bem nos seus olhos e perguntei: Você não acha perigoso?
E aí foi sua vez de rir. Você ri na cara do perigo. Meu Deus, como eu amo isso em você. Você se arrisca e acha engraçado as pessoas se preocuparem, porque você tem certeza de que tudo dá certo no final. Mas eu continuei preocupada, mesmo assim. Afinal, é mesmo uma escolha perigosa. Mas foi a sua escolha.
Eu começo a pensar, então, em tudo, em como tudo aconteceu, desde o dia em que nos conhecemos.
Você tinha o seu emprego estável. Um cara maduro que estava esperando a carta de aceitação na Universidade da Flórida. Até lá, você juntava uma grana pra pagar o curso dos seus sonhos. Eu achava legal o quanto os caras daí pareciam mais independentes e cortavam o cordão umbilical muito antes que os caras daqui. Eu sempre achei extremamente atraente essa sua sede de mundo. É absurdamente sexy o jeito como você fala dos seus planos para o futuro (por mais suicidas que eles soem aos meus ouvidos). Cara, você tem porte. Você tem estilo. Você é a única pessoa que fica bem com aquele par de tênis horríveis, porque você sabe como fazer as coisas serem boas.
Não demorou muito tempo até você se tornar especial. Desde o primeiro momento eu já olhei pra você e senti alguma coisa. Claro que eu estava em uma época complicada, então não tem como dizer que me apaixonei por você. Mas pode crer que algo tocou dentro de mim naquele momento. Algo bom. Algo tocou o meu coração e disse: Preste atenção nesse cara. E eu prestei. E ouvir o meu coração, pela primeira vez, foi a coisa certa a se fazer.
Eu lembro que fazia um esforço e acordava às 5 da manhã, só porque eu sabia que aí seriam 3 e você estaria online me esperando. E eu conversava horrores com você antes de ir para a escola. E eu lembro o quanto você achava um absurdo eu ter que usar uniforme, mas vivia elogiando aquela minha calça jeans escura. E o meu tênis, você dizia que era legal. Eu lembro também que você dizia que eu não precisava de blush ou maquiagem e que você curtia olhar pra mim com a cara limpa de quem acabou de sair do banho. Eu corava as bochechas sempre que você dizia isso e aí o blush era realmente inútil e dispensável.
Eu lembro também de quando você me viu usando óculos pela primeira vez. Eu esqueci completamente que estávamos conversando e pus os óculos para ler algo no facebook. Você adorou. E eu odiava usar óculos, mas você sempre dizia que eles me caiam bem e que você curtia. E eu passei a gostar, porque toda vez que eu os colocava, lembrava da sua reação e de você. E isso me fazia bem.
E eu lembro daquele dia em que fazia muito calor e eu resolvi prender o cabelo em um nó malfeito com a franja caindo desajeitada no rosto. E você disse que tinha, simplesmente, amado. E você ficou assobiando, só para me ver corar.
E eu adorava quando você fazia isso.
E eu lembro do dia em que você tentou me desenhar e até nisso, que você foi um completo desastre, eu enxerguei charme. Tudo em você é como um convite para estar mais perto o tempo todo.
Você me faz rir e suas piadas são as piores do mundo, mas a sua risada de si mesmo é o suficiente para me fazer gostar muito delas.
Eu adoro quando você tenta falar em português comigo, porque você tem um sotaque engraçado. E eu acho isso tão fofinho. "Doces sonhos", lembra?
Bateu uma nostalgia de todas essas nossas conversas. Bateu uma vontade de ter você aqui, mais uma vez, bem do meu ladinho. Só porque eu tenho certeza de que se nós dois tivéssemos uma única chance, uma mísera e única chance, a faríamos valer a pena.
Mas a vida é como é e quem se lamenta é viúva. Chega, né?
O fato é que você está namorando agora. E a sua namorada é uma chata. E as pessoas dizem que ela é bonita, mas eu acho a garota bem sem sal. Pronto, falei. E sim, isso é ciúme. Porque eu sei que ela nunca vai cumprir com dez favores que eu pedi no texto anterior. Ela nunca vai fazer isso porque simplesmente porque o pedido surgiu de mim. Ela nunca vai saber cuidar de você como eu estou disposta a cuidar. Eu não gosto dela porque ela tem acesso a uma parte muito importante do meu mundo: você. Isso me deixa preocupada - a ideia de alguém ter nos braços algo que me é valioso não soa das mais atraentes. Mas eu repito: a vida é como é.
E agora eu não sei onde você está. Tudo que eu sei é que te levaram para um acampamento de treinamento intensivo em algum lugar na Carolina do Sul. Eles rasparam o seu cabelo. Eles te ensinaram que você precisa gritar para ser ouvido. Você agora faz trezentas flexões em três segundos. Seus braços cresceram e você está mais forte. E eu não tenho como falar com você, até que você possa finalmente tirar uma licença e vir me ver. Mas eu só queria falar com você mais uma vez, ter certeza de que está tudo bem. Eu queria poder saber que o cara que eu conheci mora aí ainda, embaixo desse uniforme de guerra e dessas botas horrorosas. Mas tem um general que nunca deixaria isso acontecer. E tem a sua namorada ridícula e neurótica também.
Mas eu deixo tudo isso pra lá, porque você é especial, meu amor. Você é e sempre será. Dane-se tudo, eu nunca vou esquecer você ou o motivo de você ter se tornado tanto em tão pouco tempo.
E eu sei que é verdade que entre eu e você a coisa é absurda. Você serve a um país e está preso a ele, a partir de agora. Eu sou só uma estudante de Direito, que nunca poderá exercer a profissão aí. Eu sei, é impossível. Impossível. Irreal. Fantasiosa. É, fantasia. Fantasia, porque nas fantasias existem herois. E você é o meu heroi de guerra. Não era isso que você queria, desde o começo? Ser um heroi de guerra?
Sinto a tua falta. E, por mais surreal que isso tudo possa ser, eu quero você na minha vida.
Por favor, sobreviva a toda essa loucura e volte pra mim. Por favor, mantenha o seu coração batendo. Sobreviva e eu estarei orgulhosa de você.


3 comentários:

  1. ai, que lindo!! chorei hahahah

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  2. Isso mesmo Isabela... Me faça chorar!
    Esse texto somado à essa música foi um tiro na alma, na moral. Você sabe que eu também tenho meu amor à distãncia e ok, eu me identifiquei de novo.
    Você sempre se superando né? Amei, amei! Você sabe que sou sua fã número 1 que fica implorando por textos todos os dias haha
    Te amo!

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  3. Que coisa linda! Nem mais uma palavra!!! Beijo lari

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