segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A pele que habito



"A vida, entendeu, era bem parecida com a música. No começo, há mistério, e no final, confirmação, mas é no meio que reside a emoção e faz com que a coisa toda valha a pena." (Nicholas Sparks)

Tudo é quieto e calmo por aqui. A nossa conversa, de repente, pareceu dois tons acima do necessário, embora fossem meros sussurros. Acho que qualquer som é alto a essa hora.
É incrível como é possível fazer um discurso para cem pessoas e usar apenas palavras genéricas e, ainda assim, contar a história de cada uma daquelas cem pessoas, sendo todas histórias diferentes e tão particulares quanto as digitais de seus polegares. É incrível, também, o conforto que essas pessoas sentem ao ver você falando sobre a vida delas, assim, como quem não quer nada, como quem fala da própria vida. É incrível o conforto que traz a ideia de identificação.
Cada vida é uma vida e cada história é uma história, mas alguns traços são muito previsíveis. Esses traços são tratados, genericamente, por um outro traço igualmente previsível, desta vez em outrem a quem se oferece o ato. Em outras palavras, muita coisa da vida dá pra a gente prever e passa longe do que o que os roteiristas de cinema chamam de destino.
Depois que você entrou no carro, eu peguei uma folha de caderno e escrevi quem eu era. Quem eu sou. Quem eu serei. Tudo isso só pelo simples prazer de saber o que eu quero.
Bom, se vou falar de mim, acho que não posso começar de outra maneira, senão citando aquela boa e velha frase do Sherlock gênio Holmes: "Para uma mente ampla, nada é pequeno". Assim funciona a minha mente. Tenho uma mente ampla demais e nada aqui é pequeno. Os atos são exagerados e seus significados têm uma magnitude às vezes, ou diria quase sempre, muito maior do que deveriam. Minha mente tenta tratar os problemas de maneira inteligente, divertida e inovadora - mas tanta sagacidade custa caro e me torna, quase todo o tempo, crítica demais daqueles que levam suas vidas dentro dos padrões comuns. Eu tenho horror à normalidade.
Sou revolucionária e livre da maioria dos preconceitos (sim, a maioria, mas nunca a totalidade).
Eu gosto de pensar que consigo estar a frente do que muitas pessoas podem ver. Divirto-me sendo excêntrica, do contra, só para mostrar ao mundo que todos têm o direito à liberdade de pensamento e manifestação. Afinal, já dizia o grande Voltaire: "Posso não concordar com uma palavra do que tu digas, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-la".
Via de regra, sou livre, desapegada e independente. Valorizo mais a relação de amizade do que qualquer outra relação que vivo, embora não a estabeleça com qualquer um. Eu sigo o princípio da igualdade dos direitos. Sinceramente, eu amo a liberdade. Detesto controle. Detesto exigências. Detesto seguir ordens de alguém que não seja o meu coração. Não gosto da hora marcada, da antecedência, dos compromissos marcados em agenda. Comigo a coisa tem que acontecer na hora e do jeito certo. Gosto de gente criativa, com raciocínio rápido, gente que sabe improvisar, inovar. Não tenho amigos por contrato de exclusividade. Guardo o lado exclusivo da vida para o amor.
Eu tenho o espírito comunitário. Dentro de mim cresce essa necessidade, que agora parece ser uma modinha, de mudar algo. Quando eu digo mudar algo, preste atenção, não me refiro a mudar algo apenas dentro de mim. Eu quero mudar daqui pra fora. Quero mudar o jeito que as pessoas se olham nas ruas, quero trocar esmolas por sorrisos e armas por abraços. Quero dar casa e família, família de verdade, para todas as crianças que não tiveram esse privilegio. Eu tenho muito amor dentro do meu coração e esse amor não cabe em mim. Eu gosto de dividir, de negociar. Estou dando o meu amor em troca de um sorriso de quem quase nunca o faz. É, eu tenho um sonho na vida.
Eu gosto do que é imprevisível, da trilha que ninguém nunca explorou. Em cinco minutos, eu me torno alheia e ausente ao momento e fico enjoada com facilidade. O novo me estimula. A ousadia e a autenticidade me excitam.
Não é difícil me encantar. O simples fato de ser diferente já me faz brilhar os olhos. Mas, veja bem, eu assumo que não sei lidar bem com sentimentos. Eles contradizem todo o desapego que eu prego para viver. Acho que é justo dizer, então, que demoro para me apaixonar de verdade. Não me contento com beleza ou beijo bom. Só me apaixono por pessoas que eu admiro. Para ganhar minha atenção, tem que despertar uma das exceções da minha regra geral do "desapegue-se para viver". Tem que ser uma pessoa com opinião forte, opinião própria. Teimosa, cabeça dura mesmo. Eu sou assim. Eu gosto de gente assim. Eu gosto de gente como eu, porque não acredito nisso de que os opostos se atraem e a física que me desculpe. Opostos, no máximo, se distraem, mas, no fim do dia, se traem. Gosto de gente que sabe o que quer, gente decidida, que sabe falar as coisas certas no momento certo. Gosto das discussões acaloradas, gosto da brigas de segunda feira, sempre combinadas com as desculpas de terça. Gosto dos acontecimentos inesperados que mudam todo o curso da vida.
Sinto uma atração fatal por gente altruísta e livre de hipocrisia e por caras que falam sobre o que querem ser no futuro com tanta certeza. Aprecio as metas e a estratégia do caminho.
Advogo a racionalidade e não gosto de falar sobre sentimentos muito íntimos se eles não forem mútuos. Sou devotada ao amor, da cabeça aos pés, mas não gosto de me sentir presa ou sufocada. Amor é liberdade e eu gosto de me sentir livre. Gosto de pessoas que sabem seduzir de maneira fria. Elas sabem mostrar que estão interessadas sem que você tenha cem por cento de certeza da sua disponibilidade.
Tenho medo do escuro e, por isso, procuro saber demais. Afinal, nada melhor que uma luz dentro da minha própria mente.

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