segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A cena final



Respirar. Sentir o coração palpitar. Palpita sob a hipótese de futuros que talvez (muito provavelmente) não correspondam, de fato, ao um futuro. Passado do futuro, futuro do passado - isso é o mesmo que presente do presente? Se formos acreditar em John Lennon, só isso existe. Saber que dar a mão é diferente de estar seguro e uma alma acorrentada pode simbolizar, ao mesmo tempo, um coração cansado de carregar o peso das correntes.
Até aonde caminhar, então? O que dizia aquela placa? Onde há retorno? A luz do semáforo quebrou no amarelo. O céu é azul intenso, tal qual a chuva que cai. Aquele bolo, o meu favorito, é doce e enjoado. Mas eu amo a calda amarga. A cobertura azeda.
Então é isso? Eis aqui exposto o patamar de minha auto-destruição? Estranho - eu suspeito alto demais. Gritei, mas ninguém ouviu meu grito ecoar - o bater dos dentes o encerrou na boca. Diz o roteiro que a cena final é essa. Aqui acaba o filme e Steven Spielberg teve que me desculpar, mas eu pedi para deixar as luzes do estúdio acesas - eu ainda queria repassar as ultimas falas, pintar aquele restinho de cenário. Eu quis trabalhar até mais tarde - eu sei, eu não precisava, mas eu quis. E fiz.
E lá fora, quando eu olhei pela janela, eu vi a Lua dar palpites na dança das estrelas. Desabafava os contos de uma jornada noturna.E o Sol ouviu atento, de longe, emprestando a luz que a fazia brilhar. Eles se casavam como um espetáculo perfeito e natural. Interdependentes. Mas a Lua sabia, assim como o Sol, que o céu seria pequeno demais para caber os dois ao mesmo tempo. Não era possível.
E assim seguiu. O Sol fez a Lua brilhar e ela se escondeu atrás dele sempre que quis se sentir segura. E essa foi a maior prova de amor que o mundo já presenciou. A cena final.

2 comentários:

  1. e mais uma vez voce arrasa nos textos! incrivel como você escreve em bolinha! continue assim sempre, porque eu tenho muito orgulho de ler essas coisas vindas de você! te amo muito - sua amiga capixaba Ana C. Dalcolmo

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